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O que uma família aprendeu ao testar dieta que quer salvar o planeta

Mais feijões, menos queijo e carne; editora da BBC conta como breve experiência com dieta da saúde planetária melhorou hábitos de sua família, em especial de suas filhas adolescentes - embora não tenha sido unanimidade e traga vários desafios.

4 fev 2019 - 06h30
(atualizado às 07h20)
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Laurel e suas filhas; família pôs à prova a dieta que visa melhorar a saúde das pessoas e, ao mesmo tempo, preservar recursos planetários
Laurel e suas filhas; família pôs à prova a dieta que visa melhorar a saúde das pessoas e, ao mesmo tempo, preservar recursos planetários
Foto: BBC News Brasil

"Não é comida vegetariana de novo, é? Será que a gente pode comer comida normal, por favor, tipo lasanha?"

Essa foi a reação da minha filha Louisa, 13, com um suspiro de adolescente, quando eu cheguei com enchiladas (panqueca de milho) recheadas com feijão, uma receita vegetariana saudável que eu peguei no site BBC Food (em inglês).

Para ser justa, de fato tem havido bastante feijão nos nossos recentes jantares em família.

Isso porque estamos seguindo a recém-lançada dieta da saúde planetária, elaborada por 37 cientistas ao redor do mundo para melhorar nossa saúde e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais do planeta.

A dieta é rica em vegetais, embora permita uma porção de carne vermelha, uma de frango e duas de peixe por semana. A maioria da proteína da dieta, no entanto, vem de leguminosas e de oleaginosas.

Leite e derivados são restritos a um copo por dia. Ovos, apenas pouco mais de um por semana. Pão, massas e arroz devem ser integrais, e metade de nosso prato deve ser composto de frutas, verduras ou legumes. O consumo de açúcar refinado deve ser restrito.

Não parece uma dieta extremada, mas é bom lembrar que nosso consumo médio de carne e derivados de leite é muito maior do que esse. Só os europeus precisariam comer 77% menos de carne e 15 vezes mais oleaginosas e sementes para entrar nos parâmetros da dieta da saúde planetária.

Pipoca, oleaginosas e uvas passas passaram a substituir salgadinhos de bacon
Pipoca, oleaginosas e uvas passas passaram a substituir salgadinhos de bacon
Foto: BBC News Brasil

Nossa família não é típica porque meu marido, Johnny, é vegetariano, e já comíamos, semanalmente, seu ensopado vegetariano. O que não significa que nossas filhas sejam fãs de ensopados - preferem comer macarrão com molho, salsichas com batata frita, hambúrguer e fish fingers, um tipo de nugget de peixe, bastante popular no Reino Unido.

Na escola, a dieta delas é ainda pior. As refeições servidas nas cantinas em geral não gozam de boa reputação, meus filhos não gostam delas e preferem comer sanduíches de bacon ou pizza baguettes - fatias de baguetes no forno com cobertura de pizza. Depois da escola, comem um tipo de pão branco (o chamado "English muffin"), uma torrada com geleia ou um bolo. Além de docinhos "ilícitos" no caminho para casa.

E quanto a mim? Eu já comia muitos vegetais, mas também carne com frequência. E, como amante de queijos, iogurtes e lattes, meu consumo de derivados de leite é bem mais alto do que o recomendado. Claramente havia muito o que melhorar.

Nada de bolo

Minha missão é tentar melhorar as comidas que minhas filhas comem depois da escola. Passei a procurar lanchinhos saudáveis nas lojas perto de casa. Decidi por uma pipoca com pouco sal, bolachas de arroz integral, homus, snacks de alga marinha tostada, oleaginosas e azeitonas.

E distribuí tudo em cumbucas na cozinha, à espera das meninas.

Josie experimentou algas marinhas, mas não gostou
Josie experimentou algas marinhas, mas não gostou
Foto: BBC News Brasil
Louisa, 13, comendo pipocas enquanto faz lição de casa; adesão à dieta não foi unânime, mas lanchinhos ficaram mais saudáveis
Louisa, 13, comendo pipocas enquanto faz lição de casa; adesão à dieta não foi unânime, mas lanchinhos ficaram mais saudáveis
Foto: BBC News Brasil

"Legal! Pipoca!", diz Josie, 11, ao entrar na cozinha. É um lanche que faz sucesso porque a faz lembrar das sessões de cinema. Ela ignora as oleaginosas, não curte muito a alga marinha, mas come um pote inteiro de azeitonas e algumas bolachas de arroz.

Até agora, tudo bem.

Para o jantar, eu preparo um "chilli" de cogumelos moídos (os quais substituem a carne moída e, se você fizer força, o resultado final até que fica parecido). O sabor é bom também. Todos comem com alguma relutância. Depois, Louisa pede: "Posso comer um hambúrguer no fim de semana?"

Na manhã seguinte, no entanto, ela prepara seu mingau com leite de aveia, sem que eu sequer tenha que pedir. E, na escola, ela escolhe frutas secas, em vez de salgadinhos.

Claramente alguns elementos da alimentação saudável estão se enraizando.

Naquela noite, eu preparei bifes de tofu com gengibre e gergelim. Não sou uma grande fã de tofu, mas essa receita é deliciosa e fácil de fazer.

E as meninas, o que acham?

"Parece um bacon sem sabor", é o veredito de Louisa.

"Vou comer o que eu quiser na escola", diz Josie.

Apesar disso, elas limpam o prato, então vou contar isso como uma vitória.

Laurel e sua família aumentaram o consumo de vegetais
Laurel e sua família aumentaram o consumo de vegetais
Foto: BBC News Brasil

À medida que nossa família aumenta o consumo de leguminosas, eu também corto o de leite e derivados.

Agora tomo meu café com leite de aveia, um substituto saboroso e sustentável. Estou mantendo distância de iogurtes e queijo durante boa parte do tempo e me sinto mais leve e acesa - embora essas possam também ser consequências de minha nova dieta, com mais vegetais e menos bolos.

Ainda no espírito da dieta planetária, busco comprar coisas produzidas localmente, preparo o que vem na minha cesta semanal de orgânicos e tento garantir que estou comprando carnes e peixes produzidas no meu país, dentro do possível.

O resultado

Nossa família ainda está longe de ser considerada uma seguidora fiel da dieta da saúde planetária, mas o foco no plano nos levou a mudanças saudáveis: temos comido mais frutas e vegetais e cortamos boa parte do consumo de carne vermelha, derivados de leite e açúcar.

Só de vez em quando as meninas chamam nosso ensopado vegetariano de "intragável".

Meu marido, já vegetariano, adorou a dieta: "Não foi muito difícil para mim. Mas foi interessante notar que até mesmo um vegetariano talvez precise abdicar algo de sua dieta - me refiro à regra de apenas um ovo e pouco por semana. Isso foi um pouco difícil."

Dando seu veredito da dieta, Josie a descreveu assim: "Interessante e repugnante. É difícil pra uma criança não poder comer coisas gordurosas, e sim comer coisas boas todos os dias. Mas gostei dos lanchinhos saudáveis, como pipoca doce e uvas passas, e aquelas enchiladas de feijão eram boas. O espaguete integral era ok."

Da minha parte, aprendi que a vida pode existir com menos queijo.

Estou determinada a continuar com os ensopados de vegetais e vou continuar a procurar receitas que agradem a família.

No último dia da dieta, pedi às meninas que escolhessem entre um bife orgânico ou curry de berinjela. Nenhuma surpresa: elas escolheram a carne, que comeram ferozmente.

Eis a porção semanal de carne delas. E quanto ao lanche na escola?

"A dieta já acabou, né? Então vai ser salsicha com batata frita", foi a resposta.

A britânica Laurel Ives é editora de saúde da BBC

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