Operada e devolvida ao útero, menina que nasceu duas vezes hoje 'acorda sorrindo toda manhã'
Lynlee Boemer teve um tumor grave diagnosticado quando ainda estava na barriga de sua mãe e teve de ser operada antes do fim da gestação.
Um bebê pode nascer duas vezes?
Não é o caso da absoluta maioria das crianças, mas foi assim para a pequena Lynlee Boemer.
Em outubro de 2015, sua mãe, Margaret Boemer, descobriu que estava grávida de gêmeos. Ela sofreu um aborto espontâneo, mas um dos bebês sobreviveu.
Com dez semanas de gestação, ela e o marido descobriram que teriam uma menina. "Fiquei bem feliz. Já tinha duas meninas. Mais uma seria divertido", disse Margaret, que escolheu o nome de Lynlee em homenagem às avós da menina.
Mas essa alegria seria interrompida algumas semanas depois, quando ela fez um ultrassom.
"Ficamos animados de ver nossa filha se mexendo, mas eu e meu marido notamos algo estranho. Parecia haver uma cabeça de outro bebê na imagem. A técnica apenas disse que o coração dela estava bem, mas falou que precisava chamar o médico."
Lynlee tinha um teratoma sacrococcígeo crescendo na sua coluna, na região do cóccix. Esse tipo de tumor é o mais comum encontrado em bebês, mas ainda assim é bastante raro, ocorrendo em uma 1 a cada 35 mil gestações. Sua causa é desconhecida, e é quatro vezes comum em meninas que em meninos.
O tumor estava competindo com Lynlee por sangue e elevando seu risco de ter uma falência cardíaca. "O médico disse que era sério, porque o tumor já podia ser visto com apenas 16 semanas de gestação. Normalmente ele só é identificado mais tarde ou depois de o bebê nascer", disse Margaret. "Como era muito grande, fomos aconselhados a abortar."
Uma solução nada simples
Ela conta ter ficado "destruída" por já ter sofrido um aborto na mesma gravidez. Também já havia passado por complicações médicas quando sua filha mais velha ainda era bebê. "A gente já havia tido um milagre com uma de nossas bebês. Ficamos nos perguntando por que aquilo estava acontecendo conosco."
Mas, pesquisando na internet sobre esse problema, o casal descobriu uma alternativa, que não seria nada simples: fazer uma cirurgia fetal.
A bebê seria retirada do útero para ter a maior parte possível de seu tumor removida. Lynlee seria então colocada de volta. Margaret conta que havia quatro hospitais nos Estados Unidos capazes de realizar o procedimento. Um deles era o Hospital Infantil do Texas, estado americano onde a família vive.
Foi ali que o casal se encontrou pela primeira vez com o médico nigeriano Oluyinka Olutoye, especializado em cirurgia fetal. Passadas 20 semanas de gestação, o tumor tinha 8 cm, quase o mesmo tamanho da própria Lynlee.
"Sem uma intervenção, ela provavelmente morreria", disse Olutoye. "Esse tipo de procedimento é sempre arriscado, porque você opera duas pessoas ao mesmo tempo e pode perder ambas."
Lynlee tinha 50% de chances de sobreviver.
Corrida contra o tempo
O médico explicou ainda que, àquela altura, o corpo de um feto ainda é muito gelatinoso, o que torna mais delicados procedimentos como incisões e suturas. Seria necessário esperar para que a bebê estivesse mais madura para suportar a operação.
Mas era uma corrida contra o tempo: conforme Lynlee crescia, o mesmo ocorria com seu tumor. "Estávamos fazendo o nosso melhor para dar uma chance de nossa bebê sobreviver", contou Margaret.
O casal fez uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar dinheiro para custear os cuidados médicos. Também usou suas economias, fez um bazar e pediu ajuda aos pais.
Com 23 semanas, o casal foi fazer um novo check-up. Seu objetivo era chegar até a semana seguinte para fazer a cirurgia, mas o tumor havia crescido rapidamente, e o estado de Lynlee, se agravado. Os médicos decidiram operá-la imediatamente.
Margaret se despediu das duas filhas e foi para a sala de cirurgia, onde 20 médicos a aguardavam. Depois de fazer uma incisão em seu abdômen e usar um ultrassom para evitar lesionar a placenta, o que comprometeria a gestação, os médicos conseguiram fazer uma incisão no útero para ter acesso à Lynlee.
Apenas a parte inferior do corpo da bebê foi exposta para que fosse removida parte do tumor e, então, colocá-la de volta. Ela ainda era muito pequena - tinha apenas 11 cm e pesava 530 gramas. Foi necessário usar lentes de aumento para operá-la. Também foi preciso interromper a operação em dado momento para fazer uma transfusão para Lynlee - caso contrário ela não sobreviveria.
'Mães são heroínas'
Ao fim, a operação foi um sucesso. "Foi um privilégio e uma honra estar envolvido em algo que as pessoas nem sabem que é possível", disse o médico. "Mas, em casos assim, as mães é que são as verdadeiras heroínas, porque colocam seu corpo em risco em nome de suas crianças."
Margaret ficou em repouso pelo restante da gestação. A meta era chegar à 38ª semana, mas, de novo, foi necessário adiantar os planos. Em 6 de junho de 2016, Lynlee nasceu com 36 semanas e 5 dias em uma cesariana.
"Foi emocionante ouvi-la chorar, segurá-la e beijá-la. Havíamos passado por muita coisa para chegar até ali."
Com oito dias de vida, Lynlee passou por mais uma cirurgia para remover o que restava do tumor.
Hoje, com 1 anos e 8 meses, ela está "muito bem", contou sua mãe. "As operações não foram o fim. Essa é uma questão para o resto de sua vida, porque o tumor pode voltar, então, precisamos monitorar", disse Margaret.
Mas Lynlee hoje é brincalhona e ativa: "corre por todo o lado e não gosta de ficar parada", disse.
"Ela sempre foi uma bebê muito feliz. Toda manhã, ela acorda sorrindo. Gosta muito de brincar, ama música. É uma alegria ver ela. Não sabia que isso seria possível."