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Os desafios que sucesso do Ozempic trouxe para sua fabricante

Alçada a titã da indústria farmacêutica por causa dos remédios Ozempic e Wegovy, Novo Nordisk está no centro de guerra por mercado potencial de US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões).

5 jan 2024 - 12h09
(atualizado em 15/1/2024 às 12h08)
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Mulher segurando uma caneta de injeção para diabéticos
Mulher segurando uma caneta de injeção para diabéticos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A empresa farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk tornou-se, no fim de 2023, a empresa mais valiosa da Europa — pelo menos durante um curto período.

Bem conhecida nos círculos empresariais, mas não exatamente um nome familiar, a Novo Nordisk — responsável pela fabricação de Ozempic e Wegovy — nunca foi exatamente um titã na indústria farmacêutica, muito menos no mercado de ações europeu.

Mas tudo mudou quando descobriu o mais recente Santo Graal das medicações — um remédio que milhões de pessoas desejam e precisam em todo o mundo.

Como resultado, a Nova Nordisk está, atualmente, avaliada em US$ 428 bilhões de dólares (mais de R$ 2 trilhões).

A medicação Wegovy foi desenvolvida para tratar o diabetes tipo 2, mas como efeito colateral se constatou que a perda de peso das pessoas era quase garantida.

Assim como o Viagra, que deveria tratar a hipertensão, mas convertido em pílula milagrosa para a disfunção erétil, o Wegovy se tornou um medicamento muito desejado na atualidade.

Uma pesquisa do banco de investimentos Goldman Sachs calcula o valor de mercado de medicamentos anti-obesidade em cerca de US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões) este ano — e que pode crescer mais de 16 vezes até 2030, para US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões).

Quanto custa o Ozempic? Remédio em alta não é para todos os bolsos Quanto custa o Ozempic? Remédio em alta não é para todos os bolsos

No Brasil, o Ozempic é aprovado e comercializado na rede privada para tratamento do diabetes tipo 2.

O Wegovy foi aprovado em 2023 no Brasil para tratar sobrepeso (em caso de comorbidades) e obesidade no país. A expectativa é que o remédio seja comercializado nas farmácias no início deste ano.

Ambos são à base de semaglutida — e médicos apontam que a prescrição e acompanhamento médicos para uso da semaglutida são estritamente necessários, inclusive devido ao risco de efeitos colaterais.

O medicamento atua sequestrando os níveis de apetite do corpo e imitando um hormônio — chamado GLP1 — liberado após uma refeição farta. Ele dá sensação de saciedade ao cérebro. (Entenda mais nesta reportagem)

Desafios da farmacêutica

Novo Nordisk é responsável pela fabricação de Ozempic e Wegovy
Novo Nordisk é responsável pela fabricação de Ozempic e Wegovy
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Descobrir um medicamento que de repente passa a dominar o mercado é apenas o começo de um longo processo.

É preciso fabricá-lo, comercializá-lo e negociá-lo com toda uma série de empresas de saúde e serviços nacionais de saúde.

Alguns, como o sistema público do Reino Unido, o NHS, são tão grandes que podem forçar a redução do custo e, portanto, da rentabilidade até dos medicamentos mais populares.

Neste momento, o Wegovy está disponível no NHS para controle de peso em circunstâncias específicas.

E há questões operacionais. Em 2022, por exemplo, a Novo Nordisk teve dificuldade em satisfazer a enorme procura de Wegovy no mundo.

Em dezembro de 2023, as suas ações caíram devido a preocupações sobre a capacidade da farmacêutica de produzir o medicamento em quantidade e qualidade suficientes para satisfazer os reguladores da indústria.

A empresa admite que nos Estados Unidos, durante o mês de dezembro, acabou a disponibilidade da versão 1,7 mg de Wegovy.

Isso aconteceu apesar de suas linhas de produção operarem "24 horas por dia, sete dias por semana", alegou a Novo Nordisk.

Mas a empresa espera poder reabastecer os suprimentos este mês.

Outro desafio é o fato bastante óbvio de que a vantagem inicial do Wegovy é apenas isso: uma vantagem inicial.

Já existem outros medicamentos similares de outras farmacêuticas.

Essas empresas trabalharão noite e dia para aprimorar seus medicamentos e vendê-los a um preço mais baixo para minar a liderança da Novo Nordisk.

Afinal, há um mercado potencial de US$ 100 bilhões por ano (R$ 500 bilhões) em jogo.

Em novembro, a Eli Lilly, uma gigante farmacêutica americana, obteve aprovação para seu medicamento para perder peso, Mounjaro, no Reino Unido.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em setembro o Mounjaro, da Eli Lilly, como novo tratamento contra o diabetes tipo 2.

Outras alternativas incluem medicamentos como Saxenda, Orlistat e Qsymia — foi dada a largada à guerra para dominar o mercado de medicamentos para perda de peso.

É claro que a Novo Nordisk está protegida da concorrência direta por suas patentes de medicamentos, que normalmente duram 20 anos.

Depois disso, qualquer pessoa pode entrar no mercado e fabricar sua própria versão genérica do medicamento.

Com as patentes farmacêuticas, as empresas responsáveis têm de ganhar a maior quantidade de dinheiro possível enquanto tudo corre bem.

Quando alguém pode copiá-los, os bons tempos acabam.

"Acho que 90% dos gastos farmacêuticos no Reino Unido, e tenho quase certeza de que é semelhante nos EUA, são para genéricos... então, você [o inventor original] pode muito bem manter sua participação de mercado, mas o preço vai baixar" diz Graham Cookson, diretor-executivo do Office of Health Economics, a mais antiga organização de pesquisa em economia da saúde do mundo, sediada em Londres, na Inglaterra.

Depois, há um último desafio para o descobridor de uma nova droga gigante e bem-sucedida: ao mesmo tempo que ela lhe dá destaque na multidão, ela o torna vulnerável se você é uma empresa de pequeno ou médio porte.

As gigantes farmacêuticas têm dinheiro de sobra e, se seus departamentos de pesquisa e desenvolvimento não conseguiram descobrir os melhores medicamentos, existe uma solução simples: comprar a empresa que os tem.

Mas a Novo Nordisk tem uma última carta na manga: a maior parte de suas ações são propriedade de uma fundação dinamarquesa, o que a torna praticamente imune a uma Oferta Pública de Aquisição (OPA, quando um acionista, ou um grupo de acionistas, busca adquirir uma parcela ou a totalidade das ações de uma empresa listada na bolsa de valores).

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