Ozempic e Mounjaro não fazem milagre; o que é preciso para evitar que o peso volte?
Mudança de hábitos é essencial, explica nutróloga
O efeito de substâncias indicadas para casos de obesidade ganhou maior projeção nos últimos meses com a disseminação do Ozempic. Além da semaglutida, princípio ativo presente na medicação, há outras substâncias, a exemplo da tirzepatida presente no Mounjaro.
Esse remédio ainda não está em circulação no Brasil, mas a substância foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro.
Estudos já feitos apontam que a medicação é ainda mais potente que as semelhantes por combinar dois hormônios do sistema digestivo (GLP-1 e GIP) que ajudam a controlar o apetite. Mas é sabido também que nenhum remédio ou cirurgia garante emagrecimento se não estiver associada à mudança de hábitos.
Foi o que reforçou um estudo publicado pela revista Nature neste mês. A pesquisa mostrou que as injeções do remédio resultaram em maior perda de peso quando o paciente mantém uma alimentação nutritiva e pratica atividade física regularmente.
Saciedade sem jejum com treino de apoio
Esse resultado dialoga com a avaliação da nutróloga Liliane Oppermann, que explicou ao Terra o efeito de um tratamento que alia esses hábitos ao remédio administrado. "Um dos fatores que ajuda no emagrecimento com medicações análogas do GLP-1 é a lentidão do esvaziamento gástrico, então elas retardam esse esvaziamento de forma que o paciente fica mais tempo saciado", inicia.
A ideia com isso é fazer com o paciente coma menos e leve mais tempo para sentir fome, com o prolongamento da sensação de saciedade. "Só que aí tem o seguinte viés: muitos pacientes acabam esquecendo de comer, ficando muito tempo em jejum. Quando se fica muito tempo em jejum, existem outros mecanismos que podem acelerar uma compulsão alimentar", explica.
É aí que entra a dieta, preparada por um especialista que possa indicar o quê, quanto e como comer, respeitando todas as necessidades do corpo e também os desejos do paciente. Como destaca a nutróloga, uma pessoa que pula o lanche da tarde porque ainda se sente saciada com o almoço, por exemplo, acaba comendo mais do que deveria no jantar. Além disso, os nutrientes dessa refeição podem não ser bem aproveitados pelo organismo.
"O emagrecimento não é só perder peso, é perder gordura. E quando a pessoa fica muito tempo sem comer, ela pode catabolizar [processo de degradação] a massa muscular. (...) Sem contar que quando a gente perde massa, o nosso metabolismo baixa muito", ressalta a profissional.
Por conta disso, a prática de atividade física é tão valorizada no processo. Liliane cita o chamado "emagrecimento anabólico", que visa a redução de gordura ao mesmo tempo que há ganho de massa muscular.
Com sua experiência clínica, a nutróloga aponta que é comum receber no consultório pacientes sedentários que apresentam perda de peso expressiva no primeiro mês após uso de medicação, mas de menor impacto no segundo e praticamente irrisória a partir do terceiro mês. Já aqueles que incluem atividade física no processo, associando-a a dieta garantem consistência no processo de emagrecimento e diminuem as chances de reganho de peso futuramente.