Palavras cruzadas podem mesmo melhorar a saúde do cérebro e prevenir doenças?
Entenda o impacto dessa e de outras atividades para uma mente saudável.
Resolver palavras cruzadas é uma das atividades preferidas de quem busca manter a mente ativa. Mas será que esse hábito pode realmente ajudar a prevenir doenças como Alzheimer ou demência?
Em entrevista ao Terra Você, a médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, e o neurocirurgião, Felipe Mendes, explicam o papel das palavras cruzadas na saúde cerebral e revelam outras práticas que podem contribuir para uma mente saudável.
Palavras cruzadas ativam memória
Segundo a médica geriatra, atividades como palavras cruzadas proporcionam estímulos cognitivos essenciais, ativando funções como memória e raciocínio.
“Essas atividades incentivam a busca ativa por informações, exercitando tanto a memória de curto quanto a de longo prazo. Além disso, fortalecem a capacidade de resolver problemas e aprimoram a flexibilidade cognitiva”, explica.
Para a geriatra, essas práticas ajudam a construir uma “reserva cognitiva”, ou seja, uma rede de conexões neurais que pode retardar o aparecimento de sintomas de declínio cognitivo, especialmente em pessoas predispostas a condições neurodegenerativas.
No entanto, apesar dos benefícios cognitivos das palavras cruzadas, ainda não há comprovação científica de que essa atividade específica possa prevenir doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
Estudos como o Advanced Cognitive Training for Independent and Vital Elderly (ACTIVE) sugerem que atividades de estimulação cognitiva estão associadas a uma progressão mais lenta dos sintomas em algumas pessoas.
Ainda assim, a geriatra pondera: “Fatores como genética, saúde vascular e estilo de vida também desempenham papéis cruciais no desenvolvimento dessas doenças”.
Outros fatores precisam ser considerados
O neurocirurgião Felipe Mendes, no entanto, alerta que fazer palavras cruzadas, embora benéfico, não é o único nem o mais eficaz método para a saúde do cérebro.
“A saúde cerebral é beneficiada por uma combinação de hábitos que vão além de jogos mentais”, afirma.
Mendes destaca que exercícios físicos aeróbicos, como caminhada rápida, corrida e natação, aumentam o fluxo sanguíneo cerebral e estimulam a produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que contribui para a formação de novas conexões neuronais.
Para o médico, outros fatores também são fundamentais para o cérebro, como alimentação equilibrada e rica em antioxidantes, sono de qualidade e controle do estresse.
Ele explica que uma dieta composta por frutas, vegetais, oleaginosas, peixes ricos em ômega-3 e azeite de oliva tem efeito protetor contra o envelhecimento cerebral. Além disso, “durante o sono, ocorre uma ‘limpeza’ de toxinas, como as proteínas beta-amiloides, associadas à doença de Alzheimer”, afirma.
A interação social é outra atividade que favorece a saúde do cérebro. Para Mendes, o convívio com outras pessoas e o envolvimento em atividades sociais podem estimular áreas cerebrais responsáveis pela memória e linguagem, além de promover o bem-estar emocional.
Em resumo, resolver palavras cruzadas pode, sim, ser benéfico para o cérebro e até ajudar a retardar sintomas de declínio cognitivo, como sugere a geriatra.
No entanto, a manutenção da saúde cerebral exige uma abordagem ampla, que inclui a prática regular de atividades físicas, uma alimentação balanceada, sono de qualidade e interação social. É esse conjunto de ações que, de fato, pode fazer a diferença na prevenção de doenças neurodegenerativas ao longo dos anos.