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Pandemia do coronavírus atrapalha entrada de jovens no mercado de trabalho

Segundo o CIEE, foram contratados apenas 4.339 aprendizes em abril contra 28.747 no mesmo mês do ano passado

5 jun 2020 - 05h11
(atualizado às 10h41)
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A pandemia do novo coronavírus desfez o sonho dos mais jovens de ingressar pela primeira vez no mercado de trabalho. Em abril, a contratação de jovens aprendizes e de estagiários despencou e registrou a queda histórica de 84,9% em relação ao mesmo mês de 2019. Segundo dados do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), foram admitidos 4.339 em abril deste ano, ante 28.747 no mesmo mês do ano passado.

"Nunca houve uma queda mensal tão grande em bases anuais", diz o superintendente de Operações do CIEE, Marcelo Gallo. No primeiro quadrimestre, a queda nas contrações foi de 24,5%.

Ele diz que o até a primeira semana de março as admissões andavam bem, mas, com a pandemia, o quadro piorou e em abril, "foi uma catástrofe", ressalta Gallo. A queda nas contratações ocorreu principalmente no setor de serviços, um dos mais afetados pela covid-19, e concentrado na Região Metropolitana de São Paulo, o epicentro da doença no País.

Gallo diz que ainda é cedo para saber se essa forte queda nas contratações vai comprometer o sistema de inserção dos jovens no mercado de trabalho. "Com a reabertura gradual e a retomada da atividade, não sabemos como vai ficar, se haverá algum momento de retração dessa reabertura."

De toda forma, de abril para maio, dados preliminares revelam uma lenta retomada na oferta de vagas, mas ainda muito distante dos padrões pré-pandemia. E abril foram abertas 200 vagas por dia útil e em maio esse número oscilou entre 350 e 400 vagas. Antes da crise do coronavírus, essa média variava entre 1.000 e 1.500 vagas diárias. "Precisamos esperar para ver se essa retomada se confirma ou não."

Quando há uma crise, historicamente o jovem é o mais afetado pelo desemprego e é um dos primeiros a ser demitido porque não tem experiência e o custo da rescisão para as empresas é menor, comparativamente a outros trabalhadores.

Antes da pandemia, enquanto taxa de desemprego da população brasileira como um todo estava na faixa de 11%, a desocupação dos mais jovens, com idade entre 16 e 24 anos, oscilava entre 27% e 28%. Isto é, mais que o dobro do que a média da população.

Na opinião de Gallo, os próximos meses serão ainda muito difíceis, especialmente para os mais jovens se empregarem. É que aquele jovem que entra no mercado pela primeira vez ou foi demitido e busca uma recolocação vai encontrar um número menor de vagas e ter de enfrentar uma concorrência maior. "O que era difícil vai ficar ainda mais difícil."

Nas contas de Gallo, o desemprego para a população mais jovem deve subir nos próximos meses. Ele observa que, além da queda nas contratações, houve demissões nesse período de estagiários e aprendizes e muitas dessas vagas não foram repostas. Em abril, foram desligados 566 aprendizes e estagiários por dia no País. No mês passado, houve uma ligeira melhora, mas o número de desligamentos ainda é significativo: 513 jovens por dia, apontam os números do CIEE.

Segundo Gallo, faltam políticas públicas direcionadas para o emprego dos mais jovens. "Parece que o governo não se atentou para essa verdadeira catástrofe que está acontecendo a com a população mais jovem."

MEIO-TERMO

A construtora Medida Engenharia, especializada em obras para o comércio varejista, optou por um manter os cinco estagiários de engenharia e administração, apesar de, no momento, não ter serviço para esses profissionais por causa da crise.

Renato Rodrigues Ortega, proprietário da empresa, decidiu cortar pela metade a bolsa e deixar os estagiários em casa. "Muitos deles dependem da bolsa para ajudar nas despesas da família e tenho a intenção de, no futuro, efetivá-los", conta o empresário. Ele adotou o mesmo procedimento para os trabalhadores efetivos da empresa. Eles tiveram um corte de 50% no salário, só que eles passaram a trabalhar por meio período.

Estadão
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