'Passei dez anos escondendo que sofro de psicose'
Luke Watkins teve a primeira crise aos 12 anos. A estratégia que escolheu foi a do silêncio. Os pais achavam que ele era uma criança quieta, mas a psicose foi piorando ao longo dos anos.
Luke Watkin estava na escola, sozinho no corredor, quando ouviu um barulho estranho pela primeira vez.
"Ouvi um barulho que pareceu o freio de um trem, seguido por um ruído de metal. Era algo completamente fora do comum. Foi um choque, algo que eu não pude entender e processar", diz.
"Essa experiência foi aterrorizante."
Aquele foi o primeiro contato de Luke com um problema chamado psicose. Ele tinha 12 anos.
Luke conta que, de ouvir barulhos, passou a escutar palavras, o seu nome e, eventualmente, frases inteiras. "Como se alguém estivesse tentando falar comigo."
Os principais sintomas de psicose são alucinações e delírios. O problema pode ser causado por uma doença mental específica, como esquizofrenia, distúrbio bipolar e depressão severa.
A psicose também pode ser desencadeada por uma experiência traumática, estresse, drogas, álcool, ser efeito colateral de uma medicação ou sintoma de um tumor cerebral.
A importância de um diagnóstico precoce
Embora não seja tão comum como depressão, afetando menos de uma pessoa a cada 100, os especialistas dizem que é importante reconhecer os sintomas da psicose cedo, para que o tratamento seja mais eficaz.
Pessoas com psicose têm mais risco de ferir a si mesmas ou cometer suicídio. A ONG Rethink Mental Ilness (Repensando a Doença Mental, em português) fez um levantamento com 4 mil pessoas e descobriu que mais da metade acreditava que não seria capaz de reconhecer os primeiros sintomas desse problema.
A preocupação é que a falta de informações generalizada faça com que jovens não procurem ajuda cedo- os primeiros episódios de psicose costumam ocorrer entre as idades de 18 e 24 anos.
Sintomas da psicose
Luke tentou conversar com um professor na época da primeira crise. "Fizeram eu sentir que se tratava de algo sobre o qual eu não deveria falar."
Então, ele decidiu "ser forte, ignorar o que estava acontecendo e seguir em frente".
Luke não falou mais sobre o caso até abandonar a universidade, no terceiro ano. Ele diz que era difícil para a sua família identificar o que estava realmente acontecendo.
"Eles achavam que eu estava muito quieto, porque era a forma que eu encontrei para lidar (com o problema). Eu me escondia no meu quarto, ou focava em alguma outra coisa e tentava ficar longe das pessoas. Meus pais acharam que eu era assim, uma criança quieta."
Mas, na universidade, ele passou a não conseguir esconder a psicose em meio à vida universitária. Luke trancou os estudos e, pouco depois, perdeu contato com a família, que não foi informada de que ele havia deixado a faculdade.
"Quando chegou ao pior estágio da minha doença mental eu desapareci", conta.
"Depois de sumir, ficou claro para a minha família que algo estava errado. Eles, então, perceberam que eu não estava frequentando a universidade. Esse foi o primeiro passo para que procurasse ajuda. Eles me questionaram e foram muito compreensivos e carinhosos."
O tratamento
É recomendável que qualquer pessoa que esteja vivenciando sintomas de psicose procure um médico imediatamente. O tratamento envolve uma combinação de medicamentos para controlar a doença, terapias psicológicas e apoio familiar.
"Hoje em dia, se eu estou tendo um dia ruim não consigo evitar contar isso para todo mundo. É uma mentalidade completamente diferente da que eu tinha antes, quando eu tinha medo de falar sobre o assunto."
Agora, Luke tem 26 anos e está ajudando no apoio a jovens que passam pelo mesmo problema. Ele afirma ver uma mudança na forma como as pessoas encaram a psicose.
"Eu acho que a cada dia as pessoas sentem menos a necessidade de esconder a psicose. É muito mais fácil falar sobre o assunto do que tratá-lo como um tabu. (A psicose) é algo que simplesmente acontece com as pessoas."