Pesquisadores criam 'spa rejuvenescedor' para óvulos envelhecidos
Fertilidade feminina diminui após os 35 anos, mas estudos mostram avanços na reversão do envelhecimento dos óvulos, aumentando as chances de gravidez.
O tempo é o grande vilão da fertilidade feminina, que, após os 35 anos, sofre queda significativa da fertilidade, com drástica redução das chances de gravidez. “A mulher já nasce com todos os óvulos que terá ao longo da vida, então, com o passar dos anos, ocorre uma diminuição na quantidade e qualidade dessas células, dificultando a fecundação e a gravidez”, explica o especialista em Reprodução Humana Fernando Prado, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
E como nos dias atuais as mulheres têm optado por ter filhos cada vez mais tarde, pesquisadores de todo o mundo têm buscado soluções para esse problema. Felizmente, aos poucos, os frutos estão sendo colhidos. Por exemplo, um estudo publicado em setembro na revista científica Nature Aging apresentou um método inovador que pode ser usado para rejuvenescer óvulos envelhecidos, assim aumentando seu potencial reprodutivo e as taxas de sucesso de procedimentos de reprodução assistida.
A descoberta partiu da curiosidade dos pesquisadores justamente de entender como se dá o processo de envelhecimento do sistema reprodutor feminino, especialmente dos folículos ovarianos.
“Os folículos ovarianos são pequenos sacos contendo óvulos imaturos, que se desenvolvem ao longo do ciclo menstrual e são liberados durante a ovulação para serem fecundados. Além dos óvulos, essas estruturas são formadas por células responsáveis por envolver e dar suporte ao óvulo, oferecendo nutrientes e outros componentes fundamentais para seu desenvolvimento”, explica o médico.
Com base nesse princípio, os autores do estudo buscaram verificar em qual proporção esse ambiente folicular afeta a qualidade dos óvulos produzidos.
Para isso, foram criados, em laboratório e utilizando células de camundongos, folículos ovarianos híbridos, nos quais um óvulo imaturo de um folículo foi transplantado para outro que teve seu óvulo original removido. Inicialmente, os pesquisadores observaram que inserir um óvulo imaturo jovem em um folículo envelhecido fez com que esse óvulo perdesse qualidade rapidamente.
“Sem receber a energia e nutrientes necessários do ambiente folicular, o óvulo demonstrou marcadores de envelhecimento acentuados, incluindo um aumento nos níveis de danos ao DNA”, destaca o especialista.
Em seguida, os autores tentaram o inverso, inserindo um óvulo imaturo envelhecido em um folículo ovariano jovem, o que fez com que o envelhecimento do óvulo fosse revertido significativamente, apesar de não de forma completa.
“Esse ambiente folicular jovem atuou como um verdadeiro spa rejuvenescedor para o óvulo envelhecido, oferecendo os nutrientes necessários para sua restauração, com melhorias na energia, no metabolismo celular e na função mitocondrial”, acrescenta.
De acordo com Fernando Prado, melhorias como essa no óvulo poderiam aumentar significativamente as taxas de sucesso de procedimentos como a Fertilização In Vitro, que são determinadas principalmente pela idade do óvulo utilizado.
“Para se ter uma ideia, mulheres com até 35 anos, se congelarem pelo menos 20 óvulos, têm chances de 80% de conceber pelo menos um filho por meio da FIV. Se os mesmos 20 óvulos forem congelados entre os 35 e 37 anos, a chance de gravidez é de 65%. Já se o congelamento desses 20 óvulos for feito entre os 38 e 40 anos, a probabilidade de a mulher ter no mínimo um filho é de 55 a 60%”, detalha o médico.
“Então, apesar de ainda estarem limitadas à placa de Petri, as descobertas do estudo podem contribuir para o desenvolvimento de técnicas para melhorar a qualidade dos óvulos de mulheres mais velhas ou com capacidade reprodutiva prejudicada por outras questões, garantindo também maior liberdade de escolha quanto ao momento da vida em que desejam conceber”, destaca o especialista.
O próximo passo dos pesquisadores, que já registraram uma patente da inovação, é realizar mais estudos para entender exatamente como o ambiente folicular jovem pode melhorar a qualidade de um óvulo envelhecido e validar as descobertas apresentadas com células humanas.
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