PMMA não é ideal para procedimentos estéticos, alertam profissionais após mulher perder o lábio
Substância não é recomendada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, exceto em casos muito específicos
Todos os dias, para seus quase 30 mil seguidores, a influenciadora Mariana Michelini, de 35 anos, compartilha sua jornada em busca da recuperação dos efeitos de uma aplicação de polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, em seu rosto durante um procedimento estético realizado em 2020.
Após enfrentar complicações, Mariana teve que se submeter a cirurgias para tentar remover o químico de seu corpo, mas até o momento não conseguiu eliminar completamente seus efeitos. Durante esse processo, ela perdeu parte de seu lábio superior.
A influenciadora compartilhou sua história em detalhes em um depoimento por escrito dado inicialmente à Folha de S. Paulo e também cedido ao Terra. Ela explica que, por ter passado por outra cirurgia recente na região da boca, está se recuperando e não consegue falar.
Em entrevista ao Terra, o biomédico e mestre em medicina estética, Thiago Martins, explica que as características físico-químicas do PMMA, como tamanho das partículas, pureza do material e sua composição, influenciam diretamente as reações biológicas após sua aplicação.
“Partículas de tamanho adequado e superfícies específicas podem reduzir a formação de granulomas e minimizar a resposta inflamatória. A pureza e a estabilidade química do PMMA também são cruciais para evitar reações adversas, pois impurezas podem potencializar processos inflamatórios ou alérgicos”, diz o especialista.
De acordo com Thiago, o ideal é que o PMMA não seja utilizado em nenhum procedimento estético, independentemente do local de aplicação.
O profissional indica que antes de qualquer procedimento estético, é essencial realizar uma avaliação médica completa, incluindo histórico de saúde do paciente, alergias e qualquer condição pré-existente que possa afetar o resultado do tratamento ou aumentar o risco de complicações.
“Qualquer preenchedor com ácido hialurônico deve ser de alta qualidade, comprovadamente seguro e aprovado por órgãos reguladores competentes, sendo isso crucial para minimizar riscos. Vale ressaltar que estamos falando disso tudo quando o profissional vai aplicar ácido hialurônico, pois ele não pode e não deve aplicar o PMMA", destaca.
O médico dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Lucas Miranda, ressalta que o PMMA não é recomendado pela SBD, exceto em casos muito específicos como o preenchimento facial em pessoas com HIV/Aids para corrigir a lipodistrofia.
Os riscos do uso incluem reações como inflamações, formação de nódulos, necrose tecidual e até mesmo a morte, devido a complicações graves como embolia pulmonar.
O profissional conta que a abordagem clínica de complicações graves decorrentes do uso de PMMA, como a perda do lábio superior, envolve uma avaliação cuidadosa do dano e pode incluir tratamentos como a administração de medicamentos para combater infecções e inflamações, o uso de corticosteróides e, em casos extremos, intervenções cirúrgicas para remover o material e reconstruir os tecidos danificados.
“A prioridade é restaurar a função e a estética da área afetada, sempre com uma abordagem individualizada para cada paciente”, diz o especialista.
Miranda explica ainda que há diferenças na abordagem dermatológica de complicações causadas pelo PMMA, dependendo da área do corpo afetada. Complicações em outras áreas do corpo podem exigir abordagens diferentes, baseadas na estrutura e função da área afetada, bem como na extensão do dano causado pelo produto.
“O tratamento é sempre personalizado para maximizar a recuperação funcional e estética. Mas a recomendação é não fazer. Existem alternativas mais seguras como o ácido hialurônico para dar volume aos lábios. Ele tem efeito temporário e biocompatível, enquanto o PMMA é permanente”, conclui.