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Portos adotam medidas contra coronavírus; Santos e Paranaguá descartam casos suspeitos

De acordo com normas da Anvisa, em caso de suspeita, o navio não recebe autorização para operar e ninguém pode desembarcar até que a agência e a vigilância epidemiológica inspecionem a embarcação e avaliem o paciente

30 jan 2020 - 13h13
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SOROCABA - Além do reforço em aeroportos no controle contra o novo coronavírus, portos pelo País também estão adotando medidas extras. Os portos de Santos, em São Paulo, e Paranaguá, no Paraná, que estão entre os maiores do Brasil, já descartaram casos suspeitos em navios atracados em seus terminais.

No caso de Paranaguá, as autoridades portuárias puseram à prova o sistema de vigilância quando um chinês que havia chegado de avião em Curitiba, no último domingo, 26, dirigiu-se ao porto para embarcar em um navio. Ele se apresentou durante a troca de tripulação. Durante a avaliação de rotina, a equipe da embarcação percebeu que o tripulante apresentava variação da temperatura corporal e informou o comandante do navio, que acionou a Anvisa e a autoridade portuária.

Após os exames, a Anvisa descartou qualquer possibilidade de infecção do tripulante pelo novo coronavírus. O trabalhador não apresentava sintomas e o navio foi liberado. O navio Great Praise, com bandeira de Hong Kong, tinha saído de Marrocos com destino ao Brasil no dia 1º de janeiro e fez escalas em Istambul, na Turquia, e Kavkaz, na Rússia, mas não passou pela China. Liberada, a embarcação descarregou 33 mil toneladas de fertilizantes em Paranaguá e seguiu viagem na terça-feira, 28.

Conforme as normas da Anvisa, em caso de suspeita, o navio não recebe autorização para operar e ninguém pode desembarcar até que a agência e a vigilância epidemiológica inspecionem a embarcação e avaliem o paciente. Se a suspeita for mantida, o passageiro ou tripulante será removido para hospital de referência e o navio fica retido, com passageiros e tripulação a bordo. Havendo confirmação, será avaliado o procedimento em relação ao navio, como desinfecção e possível quarentena. Se o caso suspeito é descartado, as operações do navio são liberadas.

No mesmo domingo do caso em Paranaguá, a Anvisa foi acionada por estivadores que teriam constatado pessoas possivelmente doentes em navio de bandeira liberiana atracado no Porto de Santos, no litoral paulista. Uma equipe foi a bordo e constatou que as condições de saúde dos tripulantes eram boas e que teria sido um alarme falso. O navio, que chegou a ser retido para a inspeção, foi liberado.

A Anvisa emitiu nota informando que as especulações sobre casos suspeitos no navio KM Singapore, atracada no Porto de Santos, não se confirmaram. A nota diz que o navio não era procedente da China e fez suas últimas escalas em portos da África do Sul, Índia e Cingapura. "Não há qualquer tripulante doente, conforme atestaram a fiscalização da Anvisa, que esteve a bordo, e o próprio comandante da embarcação. O relatado uso de máscaras e luvas pelos tripulantes chineses se deve às condições de trabalho exigidas, já que se trata de um navio que transporta grãos", afirma.

Os portos brasileiros estão em alerta contra o coronavírus desde que os primeiros casos surgiram na China. Conforme a Portos do Paraná, que administra os terminais de Paranaguá e Antonina, a autoridade portuária segue um protocolo diferenciado para embarcações e tripulantes vindos das áreas endêmicas. "A empresa pública estabeleceu um regime mais intensivo de limpeza nos controles biométricos de acesso às áreas alfandegadas", informou. Foram disponibilizados recipientes com álcool para desinfecção das mãos. Cartazes em três idiomas - português, inglês e mandarim - com orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) foram fixados em ambientes frequentados por tripulantes e passageiros.

Todos os dias, quase 4 mil pessoas acessam as áreas do porto de Paranaguá, segundo a empresa. Este ano, entre os 156 navios que atracaram no porto, somente dois eram procedentes da China. Conforme o diretor de Meio Ambiente da Portos Paraná, João Paulo Ribeiro, há duas formas possíveis de entrada do vírus. "Pode ser via mar, com algum tripulante vindo da região afetada que esteja embarcado, ou por terra, na troca de tripulação dos navios", explicou.

O protocolo estabelece que o agente marítimo deve comunicar a autoridade portuária sobre navios que estejam vindo de regiões em epidemia publicamente noticiadas. "Nestes casos, deverá ser cumprida quarentena mínima de 21 dias, entre a saída do porto anterior e a chegada aqui", disse. Se a embarcação chegar à região antes de cumprir esse prazo, a administração do porto pedirá que aguarde fundeada em local estabelecido pela diretoria de operações. "Esse é o tempo que, segundo as autoridades de saúde, permite que o vírus que estiver incubado se manifeste." O tripulante que vier de avião para o porto, proveniente de região epidêmica, para assumir a jornada de trabalho em navios atracados, terá de apresentar atestado médico, confirmando a ausência de sintomas.

A comunicação com os tripulantes, trabalhadores portuários e prestadores que acessam as áreas dos portos está sendo feita também através de cartazes com informações sobre os cuidados básicos. As autoridades portuárias estão cobrando o máximo de exatidão no preenchimento da Declaração Marítima de Saúde, documento de responsabilidade do comandante do navio que informa sobre eventual enfermidade a bordo. No caso de declaração inverídica, o comandante será responsabilizado.

A Companhia Docas do Rio de Janeiro informou que os portos do Rio e de Itaguaí estão atuando em consonância com a Anvisa, "no sentido de manter em alerta os nossos portos (Rio e Itaguaí) sobre medidas preventivas e procedimentos relacionados à movimentação de pessoas oriundas da China". No Porto de Itaqui, em São Luís (MA), a empresa responsável pela administração fez testes simulados, com participação da Anvisa, Marinha do Brasil e autoridades locais, para detectar possíveis casos suspeitos, seguindo os protocolos da agência. Os testes incluíram a conferência dos dados constantes da declaração marítima de saúde.

O Porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, informou que seu plano de contingência para eventos ligados à saúde foi atualizado em novembro de 2019 e está sendo aplicado no caso do coronavírus. Os navios procedentes da China enviam seu itinerário dos últimos portos e a declaração marítima de saúde, assinada pelo comandante, 72 horas antes de entrar no porto. As informações sobre o estado de saúde dos tripulantes e narrando qualquer sintoma ocorrido são repassadas às autoridades através de um sistema online. O porto ampliou os pontos para assepsia das mãos com álcool gel e avalia algumas alterações nos procedimentos para monitorar as tripulações que efetuem trocas no porto, rastreando os novos tripulantes, suas origens e estado de saúde.

Estadão
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