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Primeira vacina disponível para o público pode ser chinesa

Imunizante da CanSino largou na frente em testes, mas país tem quatro candidatas na fase 3

16 set 2020 - 14h10
(atualizado às 14h48)
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A China pode ter uma vacina pronta para o público em novembro, disse a chefe de biossegurança do Centro de Controle de Doenças e Prevenção do país, Wu Guizhen. A especialista afirmou que os ensaios clínicos na fase 3 têm corrido bem e acrescentou que ela mesma tomou uma das vacinas em abril e não teve reações anormais. Ela só não disse qual vacina está mais adiantada no processo.

O país tem quatro candidatas em fase final, mas a primeira a realizar testes em humanos, em abril, foi a CanSino, que desenvolve em parceria com a Academia Militar de Ciências um imunizante que usa adenovírus, o vírus da gripe, modificado geneticamente como vetor. A vacina da CanSino também já foi liberada em regime de emergência para uso em militares e teve sua patente aprovada na China.

Além dos quatro imunizantes chineses (CanSino, Sinovac, Sinopharm do Instituto Biológico de Pequim e do Instituto Biológico de Wuhan), outros cinco candidatos estão na fase 3. Instituto de Pesquisa Gamaleya (Rússia), Janssen Pharmaceutical Companies (EUA), Moderna (EUA), Pfizer (EUA) e Oxford/AstraZeneca (Reino Unido) também disputam essa olimpíada da biotecnologia e todas contam com o apoio da torcida.

Recentemente, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos informou autoridades de Saúde em todos os Estados americanos para se prepararem para distribuírem a vacina até o começo de novembro. A notícia foi recebida com entusiasmo inclusive por investidores, gerando um dia de altas pelas Bolsas internacionais.

A vacina de Oxford, que parecia liderar a corrida, teve um contratempo depois de um voluntário apresentar reação adversa grave. Os testes, que tinham sido suspensos, já voltaram ao normal e a Anvisa autorizou a inclusão de mais 5 mil voluntários no estudo, mas a paralisação pode atrasar os planos do governo brasileiro de começar a vacinar a população no começo do ano.

Do Canadá para a China

O dr. Yu Xuefeng, CEO da CanSino, disse em uma entrevista para o canal estatal CGTN que ele tem plena confiança de que a vacina desenvolvida por eles é segura e só aguarda os resultados da fase 3 para confirmar sua eficácia. O cientista diz que a CanSino constrói paralelamente infraestrutura para produzir 200 milhões de unidades por ano a partir de 2021, mas alerta que a vacinação é um processo longo.

O dr. Yu Xuefeng, CEO da CanSino.
O dr. Yu Xuefeng, CEO da CanSino.
Foto: CGTN/Reprodução / Estadão Conteúdo

"Leva tempo para imunizar todo mundo", explica ele. Questionado sobre seus concorrentes, Yu se mostrou cético em relação à vacina da Moderna por falta de informações, mas disse torcer para que outras farmacêuticas consigam um resultado positivo. O executivo também espera que o seu produto possa ser usado em países ocidentais e que a política não interfira na imunização.

Yu era um alto executivo da filial da francesa Sanofi no Canadá quando resolveu voltar para a China para fundar a CanSino. Em tom bem descontraído em uma carta a investidores, Yu conta sobre um churrasco em um dia de sol em Toronto e como depois de algumas cervejas ele tentava convencer os colegas cientistas a embarcarem na nova empresa.

O abismo entre China e Canadá no ramo das vacinas era o seu principal argumento. "Ninguém discordava desse fato, mas fazer algo a respeito precisou de algum convencimento. Nós tínhamos bons empregos nas grandes farmacêuticas, prestígio, dinheiro, vida confortável. A vida dos sonhos para alguns", explica.

A ajuda de uma heroína nacional

O primeiro grande desafio da CanSino foi a criação de uma vacina contra o ebola, em 2015, para combater a doença em Serra Leoa, na África. A força-tarefa teve parceria com uma equipe do exército chinês liderada pela dra. Chen Wei. A major general Chen Wei acaba de ganhar o título honorário de "Herói do Povo" pelo trabalho no combate ao coronavírus, mas ela é conhecida no país há bastante tempo.

Ela diz que durante a epidemia de Sars os períodos de pesquisa eram muito longos. "Eu tentava não beber ou comer antes do trabalho, mas algumas vezes eu usava fraldas para permanecer mais tempo no laboratório", confessou em uma entrevista a uma TV estatal. Chen também ficou longe da família por quase metade de 2012.

No começo do ano, Chen foi mais uma vez convocada, agora para lutar contra o novo coronavírus em Wuhan. Ela disse que suava muito dentro do laboratório e a primeira coisa que fez foi cortar os cabelos bem curtos para não atrapalharem o trabalho. 50 dias depois, ela tinha alguns cabelos brancos a mais pelo estresse provocado pela pandemia e uma vacina candidata para testes em animais. Resta saber se essa será a vencedora na corrida mundial entre os cientistas. /Com informações da Reuters e da CGTN

Estadão
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