Problemas oculares em crianças: quais os pontos para ficar alerta?
Os problemas oculares podem surgir ainda com poucos meses de vida. Pais também devem se atentar ao desconforto com óculos
Assim que nascem, os bebês precisam passar por exames diagnósticos importantes, como os testes da orelhinha, pezinho e olhinho. O último, aliás, avalia a percepção do reflexo vermelho nos olhos do recém-nascido. Com isso, ele é capaz de identificar diversos problemas oculares graves, como a catarata congênita e o retinoblastoma, um tipo raro de câncer ocular.
No entanto, o teste não verifica um possível erro refrativo, como miopia, astigmatismo ou hipermetropia, que pode acontecer antes mesmo da criança completar um ano. Consequentemente, a condição acaba sendo detectada já na idade escolar, quando o pequeno começa a demonstrar dificuldades de aprendizado e concentração.
Cuidado com os olhos desde cedo
Segundo especialistas, a primeira consulta das crianças ao oftalmologista não deve demorar a acontecer. Isso porque, mesmo com alguns meses de vida, já pode ser necessário o uso de óculos em bebês com alto grau de miopia ou hipermetropia, por exemplo.
"O que recomendamos é que toda criança visite o oftalmologista anualmente. A primeira visita deve acontecer em torno dos seis meses de vida do bebê - a não ser que tenha havido algum problema na gestação. Aos pais de prematuros, por exemplo, orientamos que haja uma avaliação complementar logo após o nascimento", afirma a Dra. Cristina Cagliari, oftalmologista e consultora da healthtech Lenscope.
Nos primeiros anos de vida, é difícil para os pais avaliarem se a criança tem ou não algum problema de visão. De qualquer forma, há alguns sinais que podem aparecer, aponta a especialista. São eles:
- Estrabismo: olhinhos desviados;
- Quedas: se a criança costuma cair muito ou chocar com objetos ou obstáculos em casa;
- Se aproximar muito de telas e objetos para enxergar, também pode ser um sinal de alerta.
Além disso, há o retinoblastoma - uma doença ocular muito grave, que também pode acometer crianças e que, muitas vezes, passa despercebido pelos pais, destaca a médica. "A dica nesse caso, além da consulta ao oftalmologista obviamente, é observar se há algo diferente, como possíveis reflexos amarelados nos olhos das crianças em fotos, que pode ser um sinal. Caso os pais detectem algo do tipo, devem procurar ajuda o mais rapidamente possível", recomenda.
Algo que nem todo mundo sabe é que, se a criança possui, por exemplo, um alto grau de miopia ou hipermetropia e a visão não é corrigida a tempo, seu cérebro não será exposto a uma experiência visual plena, com imagens nítidas.
O perigo das telas e os problemas oculares
A oftalmologista explica que excesso do uso de telas pode ser prejudicial não somente às crianças, mas para todos nós. Isso porque o hábito pode levar a complicações:
Do ciclo circadiano: o ritmo em que o organismo realiza suas funções biológicas ao longo de um dia pode ser alterado devido a estímulos exagerados, principalmente à noite — que pode levar a problemas como insônia, atuando em mudanças hormonais, sistêmicas e fisiológicas importantes do indivíduo. Em especial, das crianças que ainda estão em desenvolvimento;
Olho seco: ao prestarmos atenção nas telas (computador, televisão etc.) piscamos menos, e a lágrima evapora mais rápido do que deveria. Por consequência disso, há menos lubrificação ocular, o que aumenta o risco de infecções, como a conjuntivite. A própria lágrima também é importante aliada da refração, que é, basicamente, o poder visual dos olhos.
Excesso de acomodação ocular: quando enxergamos algo muito próximo, contraímos a musculatura dos olhos, o que exige um esforço maior, causando mais cansaço. Já, quando olhamos longe, alongamos essa musculatura, com menos cansaço. O ideal é que haja um equilíbrio desses dois pontos.
"A dica que costumo dar a meus pacientes é manter uma distância adequada das telas e dar alguns intervalos. Por exemplo: a cada 30 minutos de tela, ficar 5 minutos olhando para algo que esteja mais distante. Isso pode ajudar nesse excesso de cansaço mencionado anteriormente", recomenda.
Uso do óculos na infância
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), aproximadamente 23 milhões de crianças são portadoras de miopia, astigmatismo e hipermetropia, somente na América Latina. Já, no Brasil, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) estima que 30% do público infantil em idade escolar tenha problemas refrativos — sendo mais comum a miopia — e 10% das crianças, entre sete e dez anos, precisam usar óculos.
Também é importante estar atento ao material utilizado no acessório. Hoje, graças ao avanço da tecnologia, já é possível encontrar itens cada vez mais anatômicos e que atendam às particularidades do usuário. No caso das crianças, recomenda-se, por exemplo, o uso de lentes de resina, mais resistentes que as de vidro ou cristal, que são relativamente comuns para adultos que têm alto grau.
É importante observar ainda se há alguma queixa e, principalmente, qualquer mudança comportamental da criança — que ainda não sabe explicar exatamente o que sente ou como é ter dificuldade em enxergar com precisão. Isso porque seu sistema visual cresce e se desenvolve junto com ela, em especial entre os primeiros cinco e seis anos de vida, quando os óculos podem desempenhar um papel importante para garantir o desenvolvimento normal da visão.
Problemas oculares na infância e bullying
Infelizmente, ainda é muito comum que as crianças que usam óculos sofram bullying dos colegas, que criam apelidos e acabam tornando qualquer possível desconforto com o acessório novo um incômodo ainda maior.
A situação é tão comum que apareceu de forma expressiva entre os resultados de um estudo sobre bullying, realizado por pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Entre os achados, descobriu-se por exemplo que crianças pré-adolescentes que usam óculos têm mais de um terço de probabilidade de sofrer a prática do que crianças que não usam óculos. Os resultados mostraram ainda que, das crianças que usavam óculos, de 35% a 37% eram mais propensas a serem alvos de bullying.
Como acostumar os pequenos ao uso de óculos
Ainda que haja outros coleguinhas na escola que também usem óculos, a criança pode se sentir desconfortável, principalmente nos primeiros dias da novidade. Para isso, há dicas que podem ajudar os pais a motivá-la.
"Antes de tudo, é essencial que os próprios cuidadores reconheçam os benefícios do uso dos óculos corretivos, que proporcionarão melhor percepção visual e auxiliarão no desenvolvimento global das crianças ", explica Makoto Ikegame, CEO da Lenscope.
Cristina afirma que a forma ideal de lidar com essa situação é promover uma conscientização nas escolas e, principalmente, em casa. O objetivo é deixar o pequeno mais seguro com o uso do novo item. "É importante orientar sobre o fato de que os óculos irão ajudá-la a enxergar melhor, estimulando o uso frequente a fim de que haja uma adaptação mais favorável possível para ela", destaca.
Makoto lista algumas dicas que podem ajudar os pais nesse momento:
- Dar exemplo de outras pessoas que as crianças conhecem e gostam, e que usem óculos;
- Estimular o pequeno e o envolver no processo de adaptação de forma positiva;
- Explicar à criança o quanto é importante que ela utilize os óculos do jeito correto, para poder enxergar tudo o que gosta da melhor forma, a inserindo como participante dos Levá-la para escolher o item ou, ainda, apresentar os óculos a ela de forma divertida.
"É fundamental se manter presente na rotina da criança, a fim de acompanhar sua adaptação física e psicológica aos óculos. Um ponto importante também é a escolha correta das lentes dos óculos dos pequenos. Isso porque as lentes de resina modernas, além de mais resistentes, mitigam efeitos comuns e indesejados, como o conhecido 'fundo de garrafa', principalmente nos óculos daqueles com alto grau de ametropias, trazendo mais conforto, qualidade de vida e leveza", finaliza o executivo.