Publicitário comemora remissão de câncer com terapia celular após 13 anos de luta: "Gratidão infinita"
Paulo Peregrino foi levado em estado grave de Niterói a São Paulo para tratamento inovador que usa as próprias células de defesa modificadas
Após 13 anos de luta contra um linfoma, o publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, comemora a remissão completa da doença a partir de um tratamento revolucionário que utiliza terapia celular. Ele, que há quatro meses deixou a cidade-natal (Niterói-RJ) de UTI móvel rumo à sua última cartada em São Paulo, não esconde a alegria do retorno --em grande estilo-- para a casa.
"Voltei para casa depois de meses lutando, voltei caminhando e trazendo minhas próprias malas. Voltar para casa foi uma grande alegria, principalmente depois de tudo que eu e minha família enfrentamos juntos", comemora Paulo, que estava prestes a receber cuidados paliativos quando, entre março e abril, foi contemplado como o 14º paciente a ser tratado pela terapia conhecida como CAR-T Cell.
A técnica combate a doença com as próprias células de defesa do paciente modificadas em laboratório e faz parte de um estudo que usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O tratamento já teve sucesso contra três tipos de câncer: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo.
Paulo foi diagnosticado com um câncer de próstata em 2010. Na ocasião, o órgão foi retirado e a doença tratada. Em 2018, no entanto, começaram a surgir vários linfomas pelo corpo. Ele passou por vários tratamentos, mas nenhum deles com resultados satisfatórios. Fez quimioterapia e até transplante autólogo --quando as células-tronco hematopoiéticas do próprio paciente são removidas antes da administração da quimio de alta dose e infundidas novamente após o tratamento.
Paulo alegou que o quadro dele era grave e que sentia muitas dores no corpo quando começou a ser acompanhado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP pelo hematologista Vanderson Rocha, professor de terapia celular da universidade e coordenador nacional de terapia celular da Rede D’Or.
"Agora, mais do que nunca, a sensação que eu tenho é de uma gratidão infinita a Deus e a todos que fizeram e fazem parte dessa jornada de cura, que ainda continua", contou o publicitário. "Depois de tanta luta, esse próximo episódio da minha vida vai ser um episódio de recuperação", completou.
CAR-T Cell no SUS
Médicos brasileiros envolvidos no SUS já trataram 14 pacientes com a terapia CAR-T. Dessa amostra, todos os indivíduos tratados apresentaram a remissão de pelo menos 60% dos tumores, em um processo que leva de um a dois meses, em média.
Se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o estudo clínico proposto, o tratamento inovador contra o câncer será disponibilizado para mais 75 pacientes a partir de agosto.
Todo o procedimento demanda um investimento de R$ 2,5 milhões, mas já existem estimativas que o custo total pode ser reduzido a cerca de R$ 200 mil para a saúde pública.