Retatrutide: novo remédio para obesidade reduz até 24% do peso
Especialista explica por que o medicamento está sendo considerado a maior inovação do mercado
Recentemente, um estudo divulgado pelo Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA, na sigla em inglês), em San Diego (EUA), colocou um novo remédio para obesidade sobre os holofotes. Isso porque, segundo a pesquisa, a substância tem a capacidade de promover a perda de 24,2% do peso em menos de um ano. Ou seja, uma pessoa com 100 kg poderia chegar até 75,8 kg em menos de 12 meses consumindo o medicamento.
A novidade também empolgou a sociedade médica, visto que os seus resultados demonstraram que o remédio também pode chegar a negativar quadros de diabetes tipo 2 e, futuramente, substituir a necessidade de cirurgia bariátrica. Por isso, a Dra. Isis Toledo, endocrinologista e metabologista pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), elenca 5 pontos relevantes que precisam ser acompanhados a partir da chegada da retatrutide ao mercado. Veja!
1. Medicamento de uso contínuo
Um fator que as pessoas têm dificuldade de compreender, segundo a Dra. Isis Toledo, é que o tratamento contra a obesidade precisa, pontualmente, ser contínuo. "Quando o paciente emagrece, por exemplo, 20 kg, ele sai desse período de tratamento com 2 mil calorias a mais de fome, que é algo fisiológico, e esse é o grande motivo que faz as pessoas terem o reganho de peso quando param o tratamento ou, até mesmo, quando continuam", explica a profissional.
Na sua visão, medicamentos como esse, que atuam em diversos hormônios, se tornam ferramentas úteis nos tratamentos prolongados. "Quando a gente tem as opções terapêuticas que virão no futuro, com essas descobertas, elas se tornam importantes principalmente quando o paciente tiver mais fome e precisar manter o peso atingido", diz.
2. Ilusão com os resultados do remédio
A Dra. Isis Toledo explica um trecho importante das revelações sobre a retatrutida, que diz respeito ao seu efeito vinculado ao IMC (Índice de Massa Corporal). Este é medido a partir da divisão do peso da pessoa por sua altura elevada ao quadrado.
"Esse estudo com a molécula mostrou que as pessoas que mais perderam peso foram as que tinham o maior IMC. Isso é interessante, porque, quando a gente vê o uso banalizado do Ozempic, é preciso explicar para que as pessoas não se iludam de que pacientes mais magros vão atingir esses percentuais de perda de peso. O estudo mostrou que quem mais perdeu foi quem tinha maior IMC", completa.
3. Efeitos da substância em mulheres
Segundo a especialista, outro ponto que chamou muita atenção é que o percentual de perda de peso das mulheres foi maior que o dos homens. "Isso é muito interessante, porque as mulheres têm maior dificuldade de perder peso. Isso porque essa molécula é um triagonista, que integra ação no GLP-1 (hormônio criado pelo intestino delgado), o GIP (também liberado numa parte mais superior do intestino delgado) e o glucagon, que é a diferença da reatatrutida. Ou seja, ela é um medicamento que contém 3 hormônios", define a endocrinologista.
4. Resultados positivos na pressão arterial e gordura visceral
Ao frisar que a molécula ainda está indo para a fase 3 dos estudos, a Dra. Isis Toledo ressalta o efeito da retatrutida na pressão arterial. "Ela melhorou parâmetros na pressão arterial sistólica (a mais alta no medidor) e na diastólica (a mais baixa no medidor)", conta a médica, adicionando outro efeito inédito, que diz respeito à gordura nos órgãos.
"Esse ponto causou grande rebuliço e vai merecer atenção na nossa prática clínica: a retatrutida reduziu, normalizou de 80% a 90% a gordura no fígado, que é superimportante", enfatiza a especialista, ao informar que é a gordura visceral que eleva os marcadores inflamatórios e os riscos de doença cardiovascular.
5. Falta de dados sobre os efeitos colaterais
Por fim, a Dra. Isis Toledo ressalta a ausência de dados sobre os efeitos adversos da retatrutida e aproveita para explicar um ponto importante sobre os efeitos colaterais em remédios para emagrecer.
"Muita gente ainda pensa que o efeito colateral do Ozempic, por exemplo, que são náuseas, enjoos, são os responsáveis pela perda de peso. A pessoa pensa assim: 'usei o Ozempic, fiquei com náuseas e, por isso, não comi'. Ela associa as náuseas ao emagrecimento. Mas isso não é verdade. Pacientes com e sem efeitos colaterais induziram a mesma perda de peso, de forma geral, na pesquisa", finaliza a médica endocrinologista.
Por Michelly Souza