São Paulo pede R$ 1,9 bilhão ao governo Bolsonaro para dobrar produção da Coronavac
Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, medicamento será fabricado no Brasil pelo Instituto Butantã
BRASÍLIA - O governo de São Paulo busca investimento de pelo menos R$ 1,9 bilhão do Ministério da Saúde para ampliar a previsão de entrega da vacina Coronavac no próximo ano, de 60 milhões para 120 milhões de doses. Desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, o medicamento para o combate ao coronavírus será fabricado no Brasil pelo Instituto Butantã.
Procurado, o ministro interino da Saúde, Eduaro Pazuello, afirmou, por meio de sua assessoria, que "tem interesse na vacina para o combate à covid-19 que seja comprovadamente eficaz para garantir a sau´de dos brasileiros".
O presidente Bolsonaro já criticou a negociação do governador João Doria (PSDB) para produção da vacina. "O mais importante, diferente daquela outra (vacina) que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia para nós", disse Bolsonaro em 6 de agosto.
O aporte do ministério na produção do Butantã foi tema de reunião nesta quarta-feira, 26, do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, com o representantes do governo paulista, que pretende começar a aplicar a imunização em janeiro de 2021.
"Não vejo a menor possibilidade de o governo brasileiro não entrar na iniciativa do Butantã. O ministro abriu reunião colocando interesse em conhecer e apoiar", disse o secretário especial e chefe do escritório de representação paulista em Brasília, Antonio Imbassahy.
Questionado se Pazuello se comprometeu com o investimento, o diretor-geral do Butantã, Dimas Covas, afirmou: "Na realidade, ele disse que fará a aquisição das vacinas".
Caso os estudos deem certo, a Sinovac promete enviar 45 milhões de doses a São Paulo até dezembro. Outras 15 milhões seriam fabricadas, no primeiro trimestre de 2021, no Butantã, somando 60 milhões. A ideia é dobrar as doses distribuídas, se houver o investimento do governo federal.
Após a reunião com Pazuello, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que o investimento previsto pode ser insuficiente. "Talvez precise mais", disse ele, citando necessidade de ampliar a estrutura do instituto e importar equipamentos.
Se houver a ampliação da fábrica do Butantã, a ideia é produzir mais vacinas também para outras doenças. O diretor-geral do instituto, Dimas Covas, disse que pode dobrar a produção de imunizantes para gripe, de 80 para 160 milhões de doses. A ideia é atingir uma capacidade produtiva de 400 milhões de doses contra diversas doenças em "3 a 4 anos", afirmou.
Hoje o Butantã produz 120 milhões de unidades por ano, mas a ampliação já prevista da fábrica para formular o medicamento contra a covid-19 ampliará a capacidade para 220 milhões.
Segundo Dimas Covas, o recurso pedido ao ministério bancaria o estudo clínico da Coronavac no Brasil, com R$ 85 milhões e a reforma da fábrica, estimada em R$ 60 milhões. O restante, mais de R$ 1,8 bilhão, seria investido na compra da própria vacina.
Questionado sobre a resistência de Bolsonaro à vacina chinesa, o secretário de Saúde paulista disse que o produto é "apolítico". "Estamos tratando de medidas técnicas e com gestores técnicos. Dessa maneira que deve ser encarado. Não viemos de forma política", afirmou.
Durante coletiva de imprensa nesta tarde, o governador João Doria (PSDB) afirmou ter "expectativas positivas" em relação às negociações com o governo federal. "O encontro foi extremamente positivo. Há uma manifestação bastante proativa em relação ao Butantã, portanto descarto nesse momento qualquer expectativa negativa em relação a isso."
A aposta do governo federal é no modelo de vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório britânico AstraZeneca. O governo liberou cerca de R$ 2 bilhões para que a Fiocruz receba, processe e distribua cerca de 100 milhões de doses.
Tanto a vacina de Oxford como a Coronavac devem ser aplicadas em duas doses. Assim, 100 milhões de doses, por exemplo, devem imunizar 50 milhões de pessoas.
A expectativa do governo paulista é encerrar os estudos clínicos no meio de outubro e submeter a vacina às análises da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que dá o aval para distribuição do produto no País. De acordo com Doria, ele terá ainda hoje uma reunião com representantes da Anvisa sobre os resultados da fase 3 de testes da vacina, que deve ser concluída até 10 de novembro. "O que a Anvisa já nos avisou tecnicamente é que tentará fazer a aprovação o mais rápido possível, mas dentro dos protocolos seguidos."
Nesta quarta, São Paulo registrou 282 óbitos e 10.465 novos casos do coronavírus. Ao todo, o Estado já soma 776.135 pessoas infectadas e 29.194 vítimas fatas da doença./ COLABOROU JOÃO KER