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Sarampo faz Ministério declarar emergência na Grande São Paulo

Estado concentra quase a totalidade dos casos no País. Nesta quarta, morte foi confirmada em decorrência da infecção pelo vírus

28 ago 2019 - 19h14
(atualizado às 19h34)
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O Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública local no município e região metropolitana de São Paulo por causa do sarampo. O Estado paulista registrou até o momento 2.299 infecções, quase a totalidade dos dados nacionais. Em outros 12 Estados, foram contabilizados até o momento 32 casos.

São Paulo foi também o primeiro Estado a confirmar uma morte provocada pela doença neste novo ciclo do surto, iniciado em junho. Trata-se de um homem de 42 anos que não havia sido vacinado. O secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber Oliveira, afirmou que há ainda outro óbito suspeito de sarampo em investigação no País. O caso é de uma criança menor de um ano, residente no interior de Pernambuco.

Vacinação da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) em SP.
Vacinação da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) em SP.
Foto: Roberto Costa / Código 19 / Estadão

Apesar do aumento do número de casos, o Ministério da Saúde manteve a conduta adotada na semana passada, que é a de estender a vacinação apenas para crianças entre seis meses e um ano, em todo o território nacional. Batizada de dose zero, a estratégia tem como objetivo antecipar a proteção dessa população, considerada mais vulnerável. Nessa faixa etária, a relação é de 46 casos a cada 100 mil habitantes. Entre bebês de 1 a 4 anos, a relação é de 12 casos a cada 100 mil habitantes. Entre jovens de 20 a 29 anos, a taxa de casos é de 10 a cada 100 mil.

A dose zero é uma espécie de reforço antecipado. A aplicação da vacina não dispensa as duas demais doses, que ocorrem aos 12 e 15 meses. Nesta segunda, o Ministério da Saúde iniciou o envio de 1,6 milhão de doses extras de vacina tríplice para todos os Estados para atender a nova estratégia.

Além da inclusão da vacinação para crianças entre 6 meses e 1 ano, o Ministério da Saúde manteve medidas de praxe. Uma delas é a recomendação da atualização da carteira vacinal A indicação é de que a população entre 12 meses e 29 anos recebam duas doses do imunizante. Para aqueles entre 30 e 49, a prescrição é de uma dose. Outra medida é a vacinação de bloqueio, em que todas as pessoas que tiveram contato com caso suspeito são imunizadas, num período de até 72 horas.

Não há intenção de se fazer campanhas de vacinação específicas contra a doença. Como o jornal O Estado de S. Paulo adiantou, essa decisão é tomada por causa dos estoques da vacina. Oliveira vem repetindo que o imunizante é suficiente para as ações que foram desenhadas até o momento. Não haveria quantitativo para fazer uma campanha para uma extensão maior da população.

Nem mesmo para compra no mercado internacional. Isso porque outros países enfrentam aumento de casos da doença pressionando a demanda.. Entre janeiro de 2018 e maio de 2019, foram notificados 160 mil casos na Europa. "Gostaríamos de ter vacina para todos. Mas não há no mundo nenhum país que tenha feito isso. Não há razão", disse.

O secretário argumentou ainda que na cidade de São Paulo, o epicentro do surto, uma campanha de maior extensão foi realizada, a partir do dia 10 de junho. A iniciativa, de acordo com ele, será concluída até dia 31. "Não há justificativa técnica para fazer o mesmo em outros Estados. Não temos imunobiológicos para todo o Brasil", completou. Na análise de Oliveira, a iniciativa proposta pela pasta dá trabalho, é mais demorada, mas é mais eficiente e evita desperdícios. Ele argumenta ainda que, além do imunizante, seria necessário mobilizar uma verba significativa para realizar uma campanha específica para jovens adultos, por exemplo.

A vacina usada de rotina no Brasil é produzida por Biomanguinhos, ligada à Fiocruz. Tanto em 2018 quanto em 2019, a fábrica encaminhou 30 milhões de doses para o governo federal, que se encarrega de distribuir para Estados. Isso está aquém do limite de produção, que é de 40 milhões. A Fiocruz, no entanto, não recebeu a incumbência de ampliar a entrega.

O único pedido feito pelo ministério foi o de antecipação da entrega da encomenda já realizada. Para reforçar os estoques de todo o País, o Ministério da Saúde recorreu à Organização Pan-Americana de Saúde. Foram feitas duas encomendas. Uma, de 10 milhões de doses que serão entregues de forma escalonada, em 60, 9 e 100 dias. Foram encomendados mais 18 milhões. A previsão, contudo, é de que esse novo carregamento seja entregue somente no próximo ano.

Além de São Paulo, surto de Sarampo foi identificado no Rio (12 casos), Pernambuco (5 casos), Santa Catarina (4 casos), Distrito Federal (3 casos). Bahia, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Sergipe, Goiás e Piauí registraram um caso cada, um. Embora o número possa parecer pequeno, ele preocupa o Ministério da Saúde.

Isso porque a cobertura vacinal em parte das unidades da federação está bem abaixo do que seria considerado ideal. Oliveira faz um paralelo com outro ciclo da epidemia de sarampo, ocorrido entre 2018 e 2019, nos Estados do Norte do País. "Numa região de 2 milhões de habitantes, registramos 8 mil casos. Em São Paulo, que tem 12 milhões, foram 1.900." Kleber avalia que, se a vigilância paulista e as ações de autoridades sanitárias não fossem ágeis, os números poderiam ser ainda muito maiores.

A expectativa do Ministério da Saúde é de que os números comecem a se reduzir. Os dados reunidos até o momento indicam que o surto atingiu estabilidade. "Esse é o cenário da semana passada. Estamos investigando, mas já demonstra uma projeção de pequena tendência de redução de casos", afirmou o secretário.

O sarampo é altamente contagioso. Transmitida por tosse, espirro e saliva, a doença pode levar à morte e provocar sequelas anos depois de a infecção ter sido debelada. A estimativa é de que uma pessoa infectada tenha capacidade de contaminar 40 pessoas próximas. Isso pode ocorrer mesmo antes de a pessoa apresentar o sintoma, o que dificulta as ações de identificação.

Em entrevista ao jornal concedida há duas semanas, o pesquisador da Fiocruz, Cláudio Maierovitch, observou, por essas características, é muito difícil controlar um surto de sarampo rapidamente. "Se o paciente busca o serviço de saúde, há o risco de ele contaminar o profissional que o atende, as pessoas na sala de espera."

Neste novo ciclo de sarampo registrado no País, foram identificados ínúmeros casos da doença entre profissionais de saúde. A constatação levou o Ministério da Saúde a reforçar a recomendação de que todos os trabalhadores da área estejam imunizados. O Ministério da Saúde considera novo ciclo da doença aquele em que casos são identificados nos últimos 90 dias. O início dessa nova onda começou em São Paulo, com a importação de casos vindos de Israel e da Espanha.

O primeiro ciclo de sarampo, iniciado em 2018, atingiu Estados do Norte e teve como estopim a importação de casos da região da Venezuela. "São dois estágios diferentes, por isso, foram feitas separações dos números de casos", explicou Kleber Oliveira.

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Estadão
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