Dentistas já podem usar botox para fins estéticos
CFO autorizou a classe a utilizar a toxina botulínica para tratamentos estéticos em praticamente toda a face causando polêmica
No último mês o plenário do Conselho Federal de Odontologia autorizou os cirurgiões-dentistas a usarem a toxina botulínica, o popular botox, e os preenchedores faciais tanto para fins terapêuticos (como já era permitido), como para fins estéticos em praticamente toda a face em seus pacientes. Os dentistas, claro, comemoraram essa regulamentação que era uma luta antiga da classe.
Mas antes de entender essa nova permissão, e suas polêmicas, vamos explicar como o botox pode ser usado na odontologia. O papel da toxina botulínica nesta área pode ser terapêutico ou estético.
“Para pacientes com queixa de sorriso assimétrico, sorriso gengival e alguns tipos de assimetrias faciais a toxina botulínica age trazendo equilíbrio muscular e harmonização estética”, diz Flávio Luposeli, dentista, diretor da Luposeli Spa Odontológico e pioneiro nessa área.
Mas o botox pode trazer ainda mais benefícios para a odontologia. “Existem pacientes com dores orofaciais de origem muscular e apertamentos dentários que quando estão em tratamento odontológico convencional podem ser controlados com toxina botulínica, sobretudo quando outros recursos não puderem ser eleitos”, diz o especialista.
Entenda a nova regra
Na verdade, o cirurgião dentista pode usar a toxina botulínica para fins estéticos, desde 2014. “A questão é que não estavam claros, em termos legais, os limites de atuação da odontologia na face para finalidades estéticas”, diz Flávio.
Com a nova resolução deste ano, a CFO autorizou os dentistas a trabalharem com essa substância para fins estéticos em praticamente toda face. “Na prática, agora o dentista pode atuar em toda a face em procedimentos estéticos não cirúrgicos e até a altura das sobrancelhas em procedimentos clínico-cirúrgicos”, diz o especialista.
Á polêmica e seus dois lados
A polêmica envolvendo esse assunto existe por que alguns dermatologistas alegam que certas regiões da face não são áreas de trabalho do cirurgião-dentista e sim deles, ainda mais no âmbito estético.
“O que eles ou vocês achariam se eu, um dermatologista, quisesse fazer um clareamento dental nos meus pacientes? Afinal, por que eles estão fazendo isso? Para beneficiar quem? Essa prática pode ser um risco para o paciente, pois para lidar com preenchimentos faciais estéticos é preciso capacitação, habilitação e formação. Essa nova regulamentação do CFO me preocupa bastante, acho que a coisa está sendo um pouco banalizada”, diz Gabriel Gontijo, Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Ainda segundo ele, já existem documentos que provam que essa medida está trazendo diversas complicações para os pacientes, que “ingenuamente” estão se submetendo a tratamentos estéticos faciais com dentistas.
Mas essa postura da SBD é apenas contra o uso do botox por dentistas na área estética. “Para fins terapêuticos a gente não só é favor, como inclusive indicamos que tratamentos para problemas de oclusões ou dores musculares na face, por exemplo, sejam feitos com a toxina botulínica em consultas odontológicas”, completa Gabriel.
Em contrapartida, Flávio discorda e defende que a harmonização facial faz parte da competência do cirurgião-dentista sim e que o que está em jogo nessa polêmica são outros interesses que não só os do paciente.
“A polêmica é normal porque mexe com questões mercadológicas. Contudo, face não é uma área de atuação exclusiva do dermatologista. Nós, cirurgiões-dentistas temos uma formação em anatomia de face tão boa quanto os médicos têm formação cirúrgica, tanto que operamos há muito tempo pacientes com trauma de face e fazemos cirurgias corretivas nessa região de maneira plenamente legal”, diz o especialista.