Problemas bucais podem ter relação com a saúde mental
O corpo humano é como uma engrenagem. Se algo não vai bem, todo o resto pode ser afetado
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental e a saúde bucal são partes integrantes da saúde em geral e representam um “estado de completo bem-estar físico, mental e social”. O cirurgião-dentista e membro da Câmara Técnica de Odontologia Hospitalar do Conselho Regional de Odontologia (CROSP), Keller De Martini, explica que “os transtornos mentais afetam o comportamento do indivíduo, alterando a rotina de cuidados com a saúde. A depressão, a esquizofrenia, o transtorno afetivo bipolar, a demência, a deficiência intelectual e os transtornos de desenvolvimento, estão entre os transtornos mentais mais conhecidos, fazendo com que o indivíduo esqueça a saúde física e, consequentemente, a higienização bucal, provocando uma série de agravos à boca”.
O corpo humano é como uma engrenagem. Se algo não vai bem, todo o resto pode ser afetado. Quando o assunto é saúde mental, é mais comum notar mudanças no comportamento da pessoa, embora uma disfunção nessa área possa impactar também outras partes do organismo, como a boca. Alguns problemas bucais podem estar relacionados a ansiedade, depressão e o estresse, por exemplo.
Segundo De Martini, o cirurgião-dentista que trata esse perfil de paciente deve avaliar a cavidade bucal para perceber se há diminuição do fluxo salivar (decorrente de algum efeito colateral de alguma medicação específica). “A diminuição da produção de saliva pode gerar agravos para a cavidade bucal, tais como cárie, periodontite e gengivite. Em alguns casos, uma simples troca na medicação pode minimizar a questão”.
O bruxismo (ato de ranger ou apertar os dentes, principalmente durante o sono) é outra disfunção que necessita de atenção no tratamento odontológico. A doença está relacionada à ansiedade e ao estresse. “O ato de ranger os dentes e apertar a mandíbula pode originar dores de cabeça intensa, além de problemas musculares na face, pescoço, ombro e toda região cervical.”
Outro aspecto importante é a correlação de alguns medicamentos utilizados em tratamentos psiquiátricos, que podem provocar hiperplasia gengival, um aumento excessivo do número de células da gengiva (a doença acarreta crescimento da gengiva e em casos mais graves, pode trazer consequências como problemas na mastigação, dor e sangramento). “Isso pode ocorrer no uso de alguns fármacos como os antiepilépticos (fenitoína), os bloqueadores de canais de cálcio (nifedipina) e os imunossupressores (ciclosporina)”, explica o especialista.
Tratamento odontológico deve estar aliado à uma equipe multidisciplinar
O que deve ser levado em consideração, em alguns casos de pacientes com transtornos psíquicos é a necessidade de ofertar um tratamento integral aos estímulos. “O profissional precisa ter uma percepção da sua atuação dentro de um espaço multidisciplinar, com envolvimento de outros profissionais de saúde e áreas correlatas. Para garantir qualidade de vida ao paciente portador de algum transtorno mental é preciso ter um enfoque no tratamento integral, não apenas com a visualização da cavidade bucal”.
De acordo com o especialista, o cirurgião-dentista deve estar capacitado para realizar o atendimento desse perfil de paciente. “Dentre as especialidades odontológicas, podemos destacar a Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, que tem por objetivo a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e o controle dos problemas de saúde bucal de pacientes que tenham alguma alteração no seu sistema biopsicossocial. Mas é preciso sempre levar em conta todos os aspectos envolvidos no processo de adoecimento para a adequação do tratamento odontológico, frente às necessidades apresentadas, levando em conta a classificação de funcionalidade de cada doença”.