Saiba qual a hora certa de a criança aprender a mastigar
A Organização Mundial de saúde tem recomendações muito claras sobre amamentação: aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementado por outros alimentos até os dois anos. É claro que a realidade da mãe moderna muitas vezes não permite que esta recomendação seja seguida.
Mesmo nestes casos, os alimentos mais sólidos não devem ser introduzidos precocemente devido à incapacidade do bebê muito novo de mastigar e deglutir corretamente. “Antes dos seis meses, os alimentos devem ser oferecidos de forma líquida ou pastosa, depois disso o aumento da consistência deve respeitar o desenvolvimento da criança”, indica a pediatra e nutróloga Denise Lellis, coordenadora do Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital Universitário da USP.
A especialista explica que, a princípio, os liquidificadores devem ser evitados para não deixar as papas com consistência muito próxima da líquida. “A intenção é desde o início apresentar à criança uma consistência diferente e que exija dela movimentos musculares diferentes dos que a sucção exigia”, diz Denise. Assim, peneira, garfo e espremedor de batatas são mais recomendados e, depois, alimentos macios cortados apenas com a faca.
Hora da papinha com pedaço
Ao contrário do que se pensa, não é preciso esperar os primeiros dentes nascerem para introduzir papinha com pedaços. Isso porque os alimentos massageiam a gengiva e podem ser partidos por ela. “Claro que nestes casos é preciso evitar alimentos duros que machuquem a as gengivas”, afirma Denise.
Segundo a pediatra Mariana Nudelman, do Hospital Israelita Albert Einstein, a criança precisa aprender a mastigar mesmo sem dentes, para fortalecer a musculatura orofacial e não criar modismos na hora de comer. “Assim, quando chegar aos 12 meses, ela já será capaz de entrar na rotina das refeições da casa”, diz Mariana.
Em geral, por volta de um ano de idade, a maioria das crianças consegue comer com uma consistência parecida com os alimentos da família. Mas é preciso evitar a pressa, já que é normal algumas demorarem mais para conseguir deixar a papinha. “O ideal é que, aos 12 meses, a criança já se alimente como os familiares da casa, pedaços e alimentos separados no pratinho, sem misturar tudo”, afirma Mariana
Desenvolvimento
É muito importante a criança começar a comer alimentos de consistências mais duras no momento certo. Além das questões nutricionais, alimentos mais duros propiciam melhor desenvolvimento da musculatura orofacial e da arcada dentária. “No futuro, esse desenvolvimento interfere diretamente no desenvolvimento da fala, mastigação e deglutição”, afirma Denise.
Uma dica é deixar a criança pegar o alimento com a mão para ajudar na coordenação motora. Mas a especialista alerta que isso não deve ser feito com alimentos que possam soltar pedaços grandes e obstruir as vias aéreas da criança. “O ideal é oferecer biscoitos que dissolvem na boca ou pedaços pequenos de frutas moles”, recomenda Denise.
“É muito importante a criança ter contato com a comida, pegar, amassar, olhar, sentir, mesmo que faça sujeira, isso faz parte do desenvolvimento”, diz Mariana.
Engasgos
Quando a criança estiver manipulando bem alimentos com pedaços na boca e deglutindo sem engasgar, o cuidador pode tentar introduzir pedaços pequenos e sentir como a criança lida com eles. “Se a criança engasgar muito os pedaços devem ser evitados até que a causa dos engasgos seja esclarecida”, afirma a pediatra.
É comum a criança engasgar principalmente nos primeiros dias. Muitas vezes, podem se assustar com o engasgo e dar trabalho para comer depois. Por isso, é preciso que a introdução de novos alimentos seja feita de forma calma e cuidadosa. “Para introduzir a papinha com pedaços, a cervical da criança deve estar com ótimo tônus e, caso o engasgo seja frequente, deve-se procurar auxílio médico”, diz a médica nutróloga, Elza Mello, da Associação Brasileira de Nutrologia.
Rejeição
Muitas crianças fazem movimentos com a língua como se não gostassem do alimento, mas na verdade elas só não estão acostumadas com o sabor e com a presença da colher na boquinha. O cuidador deve insistir nos dias seguintes para que a criança possa "treinar" e assim conseguir desenvolver essa capacidade. “Existem estudos que sugerem que uma criança pode levar até 20 tentativas para aceitar determinado alimento”, diz Denise.
Elza dá a dica de que, ao redor dos nove meses de vida, a criança deve ser estimulada a se alimentar sozinha. “Ela fica com uma colher, ou pegando pedacinhos com a mão do prato, e o cuidador a alimenta com outra colher”, afirma.
Também vale prestar atenção nas cores dos pratos dos bebês. Quanto mais cores, maior a variedade de nutrientes. “Mesmo quando o bebê ainda está com alimentação predominantemente na forma de papinha essa variedade deve ser respeitada para garantir o valor nutricional e não causar monotonia alimentar”.
Saúde bucal
A cirurgiã-dentista, Márcia Vasconcelos, consultora científica da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), explica que os alimentos duros só serão mastigados e triturados com a presença dos dentes, que iniciam a erupção entre os seis e oito meses. “Os molares só terminam a erupção próximos aos dois anos de idade”, diz. Segundo a especialista, uma alimentação balanceada, rica em fibras, promove nutrição e mastigação ideal para o desenvolvimento de uma boa saúde bucal.