Saliva é sangue filtrado. Entenda como isso é possível!
A saliva tem mais água e menos íons e proteínas do que o sangue, mas ambos podem ajudar na detecção de doenças e gravidez
Se algum dia você ouvir dizer que a saliva é sangue filtrado, acredite. Apesar de essa afirmação ser simplista demais, pois há substâncias no sangue que não estão na saliva e vice e versa, os dois apresentam bastante semelhanças e podem servir de material para exames e analises de doenças.
A saliva é uma secreção, e secreções são substâncias produzidas por células utilizando como matéria-prima outras substâncias presentes no sangue. “A saliva é uma secreção produzida e liberada pelas glândulas salivares diretamente na cavidade bucal. Assim, de forma simples e com algumas modificações, podemos dizer que a saliva é sangue filtrado e diluído”, diz Maria Cecília Aguiar, cirurgiã-dentista especialista em Alterações Salivares.
Durante a produção salivar, as maiores células do sangue permanecem na corrente sanguínea e não passam para a saliva, mas substâncias de tamanho menor como alguns medicamentos e toxinas, passam, por isso o termo “filtrar” é aplicado nessa questão.
A partir daí, as características da saliva produzida vão variar de acordo com o tipo de glândula salivar que a esta produzindo (pois temos mais de um tipo dessa glândula). “As parótidas produzem secreção serosa e rica em amilase, as glândulas salivares menores e as sublinguais formam uma secreção mucosa, enquanto as submandibulares geram uma secreção mista”, diz a especialista.
Maria Cecília ainda destaca que, apesar de ser feita a partir do sangue, a saliva tem mais água e menos substâncias que ele. “Ela é composta por água, íons e proteínas como as enzimas, proteínas estruturais e proteínas imunológicas”, diz a especialista.
Sem gosto de sangue
Se a saliva é produzida a partir do sangue, deveria ser normal sentir o gosto dele na boca, mas não é isso que acontece. “Isso não acontece porque a saliva é formada por 99% de água, de modo que é muito diluída. Além disso, na composição da saliva não existem hemácias ou glóbulos vermelhos, que são as células que contêm a hemoglobina que é rica em ferro e responsável pelo gosto marcante de sangue”, diz Maria Cecília.
Exames mais simples
Assim como acontece com o sangue, hoje em dia já é possível realizar exames para detectar doenças através da saliva. E esse método tem tudo para se popularizar, pois é mais simples, tão confiável quanto, menos invasivo e indolor, além de permitir um armazenamento mais fácil e de baixo custo quando comparada à coleta de sangue e de urina.
“O exame da saliva nos permite, entre outras coisas, avaliar o risco para cáries dentárias e doença periodontal, a dosagem de hormônios, deficiências nutricionais em geral, fazer teste de gravidez, testes rápidos de HIV, diagnosticar a hepatite C, a doença de Parkinson e fazer pesquisas de drogas, inclusive testes para dopping”, diz a especialista.
Porém, muitos desses métodos de diagnóstico e monitoramento por meio da saliva ainda não estão disponíveis ao alcance da população sendo viáveis somente para pesquisas.
É possível doar saliva?
Segundo a dentista, não é possível, pois seria complexo. “A saliva presente na boca é altamente contaminada por microrganismos e pode transmitir doenças, como a hepatite, a mononucleose e a caxumba. Também não há bancos de saliva para testar esta secreção em relação à presença de agentes infecciosos nem formas viáveis de purificar a saliva humana sem modificar sua composição”, diz Maria Cecília.
Mas já existem no mercado substâncias conhecidas como substitutos salivares indicados nos casos de deficiência salivar. “Algumas delas buscam aproximar a composição à saliva humana, contendo inclusive enzimas salivares”, diz Maria Cecília. Ou seja, por enquanto a única forma de doar saliva é trocando muitos beijos por aí!