Infância: otite e pouca estimulação causam problema de fono
Incentivo por meio de músicas, conversas e histórias desde os dois anos pode ajudar crianças a desenvolver boa fala, leitura e escrita
O Transtorno Fonológico é considerado uma alteração de fala relacionada ao desenvolvimento. Em geral, ele é identificado em crianças entre quatro e oito anos de idade e entre suas principais causas está a otite, problemas nas vias nasais superiores (que vai desde o nariz até a laringe) e aspectos familiares. Pais, se liguem nessa matéria para saber identificar um possível TF no seu filho.
Em primeiro lugar é importante reforçar que o desenvolvimento da fala e da linguagem é gradual e começa desde a tentativa de emitir os primeiros sons. Então, estimular a fala das crianças é fundamental e os pais são os principais responsáveis por essa tarefa. “O resultado dessa estimulação será um bebê que balbucia muito produzindo diferentes sons”, diz Haydée Fiszbein Wertzner, professora Associada do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP).
Quando só os pais entendem
Em seguida, entre 12 e 18 meses, a criança começa a produção das primeiras palavras e à medida que as ouve vai melhorando a produção dos sons e compreendendo a importância de cada um deles e como eles diferenciam as palavras.
“Assim, por volta dos três anos a fala da criança é inteligível. No entanto, se nessa fase ela manifesta uma fala que só é compreendida pelos familiares mais próximos ou por seus cuidadores já é possível procurar um fonoaudiólogo para avaliar a situação e orientar a melhor conduta”, diz a especialista.
Ainda segundo Haydée, entre quatro e cinco anos as crianças têm uma fala que deve ser bem compreendida por todos. “Porém, se ela demonstra uma fala que é pouco compreendida, também deve ser avaliada por um fonoaudiólogo para verificar a possibilidade de apresentar transtorno fonológico”, diz a professora.
Causas e estimulação
Dentro da faculdade, a professora coordena um grupo de pesquisa que procura entender mais as causas desse transtorno e buscar melhores formas de diagnóstico e tratamento.
“Até o momento as pesquisas indicam que vários fatores podem estar presentes em crianças com TF como a otite média secretora, alterações das vias aéreas superiores e aspecto familial. Em geral, ocorre uma combinação de fatores causais, que acabam por interferir no desenvolvimento da fala e levando a criança a apresentar um transtorno fonológico”, diz Haydée.
Assim, como vários fatores interferem no desenvolvimento da fala da criança é muito importante que nos primeiros dois anos de vida ela receba muita estimulação de fala, seja por meio de músicas, de histórias ou conversas do dia a dia da família.
“Essa estimulação dá a possibilidade da criança ouvir bastante os sons da fala da nossa língua e ao responder aos pais ela tem também chance de produzir os sons e aprimora-los”, diz a especialista.
Ouvir, ler e escrever
Embora seja um problema que possua tratamento, é fundamental que os pais percebam desde cedo as dificuldades fonéticas de seu filho para que ele não seja prejudicado na hora da alfabetização.
“A representação fonológica dos sons da fala é necessária para que a criança possa relacioná-los às letras correspondentes no aprendizado da leitura e escrita. Portanto, quanto antes identificarmos e tratarmos uma criança com TF melhor será o seu desempenho na hora da alfabetização”, diz a professora.