Serra Leoa mobiliza Exército no combate ao Ebola; cresce medo de contágio global
Autoridades de Serra Leoa mobilizaram, nesta terça-feira, o Exército na luta contra o Ebola, que matou quase 900 pessoas neste país e nas vizinhas Guiné e Libéria, enquanto os riscos da epidemia levam governos e empresas a adotar normas rígidas para evitar o alastramento.
O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, ordenou a mobilização de centenas de soldados para clínicas de tratamento do Ebola, situadas principalmente no leste do país, para que as medidas de quarentena sejam respeitadas, impedindo familiares e amigos de retirar os doentes sem autorização médica.
Segundo o balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), 887 mortes foram registradas entre 1.603 casos de Ebola (confirmados, suspeitos e prováveis): 358 pessoas morreram na Guiné; 255, na Libéria; 273, em Serra Leoa e uma na Nigéria. Esta é a pior epidemia de Ebola desde a descoberta do vírus, em 1976.
Dois americanos - um médico e uma missionária -, que contraíram o vírus na Libéria, foram repatriados e internados em hospitais especialmente equipados em Atlanta (sudeste).
Os dois estão sendo tratados com uma vacina experimental nunca testada antes em seres humanos e que parece, segundo médicos citados pela emissora americana CNN, ter tido um efeito "milagroso" ao atenuar rapidamente os sintomas.
Um homem foi tratado nesta terça-feira em um hospital de Nova York após apresentar sintomas semelhantes aos do Ebola, mas o centro médico considerou pequeno o risco de que se trate do vírus mortal.
Também nesta terça, a Arábia Saudita apontou um caso similar: um de seus cidadãos, que voltou de Serra Leoa, foi internado em Jidá e colocado em quarentena com sintomas idênticos.
Por medida de precaução, a companhia aérea britânica British Airways anunciou nesta terça-feira a suspensão até pelo menos 31 de agosto de seus voos com destino à Libéria e a Serra Leoa, após uma decisão parecida da Emirates, em vigor desde sábado.
Na Libéria, três missionários - um espanhol, um congolês e um equatoriano - foram contaminados pelo vírus e hospitalizados em Monróvia, capital liberiana, segundo a Ordem Hospitalar de São João de Deus (OHSJD), à qual pertence o religioso espanhol e que chefia o hospital onde os estrangeiros estão internados.
Outras três pessoas também estão sendo tratadas em isolamento na mesma cidade, acrescentou a fonte.
A Nigéria, país mais populoso e principal economia da África, também foi afetada pelo Ebola: em Lagos, um médico que tinha atendido um cidadão liberiano morto com Ebola, foi contaminado. Este é o segundo caso registrado nessa cidade, depois do liberiano Patrick Sawyer, que faleceu em 25 de julho.
Em alguns lugares, a febre hemorrágica levou famílias inteiras, como a do ex-ministro serra-leonês Lansana Nyallah, que contou ter perdido nove familiares no leste de Serra Leoa.
Em Daru, "nossa casa hoje está vazia, ninguém mais vive lá", relatou, apresentando-se como a "prova viva" da realidade avassaladora da epidemia.
O vírus Ebola é transmitido por meio do contato com o sangue, os fluidos corporais ou os tecidos de pessoas ou animais infectados. A febre que provoca se manifesta, principalmente, com hemorragias, vômitos e diarreia. A taxa de mortalidade da doença varia entre 25% e 90%.
Virologistas americanos esperam testar, a partir de setembro, uma vacina experimental contra a doença, que, se for bem-sucedida, permitirá imunizar os funcionários da saúde a partir de 2015.
Na segunda-feira, o Banco Mundial (BM) anunciou que vai destinar 200 milhões de dólares em caráter de urgência para ajudar Guiné, Libéria e Serra Leoa a comprar material médico, pagar funcionários da saúde e amortecer o impacto financeiro da epidemia na população.
Além da crise sanitária, o impacto econômico da epidemia começa a preocupar os países afetados. Ela poderá custar à Guiné um ponto de crescimento, 4,5% a 3,5%, segundo o BM e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na Libéria, o preço dos produtos de higiene, essenciais para evitar o contágio, disparou, assim como o do pescado, que escapa da proibição ao consumo da carne silvestre (macaco, morcego, etc.), apontada como responsável pela propagação da doença.