Solidão a Dois: Por que Acontece?
Seu estilo de relacionamento pode contribuir (ou até mesmo causar) este sentimento
Muitas vezes, mesmo dentro de um relacionamento, não conseguimos evitar de nos sentir extremamento sozinhos e não entendemos bem o motivo. Essa experiência é conhecida como solidão a dois.
Apesar de vivermos em uma era que valoriza a independência e a autonomia pessoal, e de todo o discurso sobre a busca pela felicidade individual dentro de um relacionamento, intuitivamente sabemos quando algo não está funcionando.
Existem muitas razões pelas quais podemos nos sentir sozinhos mesmo acompanhados, mas um dos fatores mais relevantes é o estilo de relacionamento que desenvolvemos ao longo da vida.
Esse estilo pode contribuir significativamente para a sensação de distanciamento dentro da relação.
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Estilos de relacionamento e a solidão a dois
Somos seres sociais desde o nascimento. Nosso cérebro é programado para interagir com outras pessoas e formar laços.
No entanto, a maneira como nos relacionamos é influenciada tanto por nossa personalidade quanto pelo tipo de vínculo que tivemos na infância, especialmente com nossos cuidadores.
Alguns são mais seguros em suas relações, outros menos. Há quem seja mais carinhosa e presentes, mas há quem nem tanto. Alguns mais atentos, outros não; e assim por diante.
Ainda que parte deste estilo pessoal seja definido pela nossa personalidade, a maior parcela se estabelece através dos relacionamentos com nossos pais nos primeiros anos de vida.
A dinâmica desta relação inicial imprime uma marca fisiológica em nós e faz com que nossos neurônios se organizem de formas diversas. Além disso, partes do nosso cérebro se desenvolvam de maneira diferente.
Consequentemente, determinará formas distintas de nos relacionarmos com o mundo na vida adulta.
O psicólogo britânico John Bowlby, pioneiro da Teoria do Apego, e a psicóloga Mary Ainsworth identificaram três principais estilos de relacionamento: âncora, onda e ilha.
Cada estilo se desenvolve a partir de um tipo de infância e relacionamento com os pais/cuidadores principais, e tem suas vantagens e desvantagens. Mas, geralmente, são as pessoas que têm um parceiro do estilo "ilha" que se sentem mais sozinhas em relacionamentos.
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Estilo âncora de se relacionar
Pessoas com um estilo de relacionamento âncora tiveram pais mais presentes, protetores e emocionalmente expressivos. Costumam crescer acreditando que o mundo é um lugar bom.
Sentem-se vistos e importantes, e confiam em sua capacidade de modificar o mundo através da sua ação e comportamento.
Tais fatores criam condições favoráveis para relacionamentos futuros. Isso porque estas pessoas conseguem se conectar com o outro e com o mundo desde um lugar de confiança e estabilidade.
Estilo onda de se relacionar
Quem tem um estilo de relacionamento onda cresceu com cuidadores que eram carinhosos e presentes de forma intermitente.
Ou seja, em alguns momentos demonstravam afeto e atenção, mas em outros estavam emocionalmente indisponíveis.
Essa instabilidade gera um sentimento de insegurança e ambivalência nas relações adultas.
Pessoas com esse estilo podem oscilar entre buscar proximidade e temer a rejeição, o que pode impactar a conexão dentro do relacionamento e gerar crises de solidão.
Em outras palavras, estas condições iniciais de vida a desempoderam para lidar com o mundo externo e a vida adulta. Assim, criam uma forma insegura e ambivalente de se conectar com o outro.
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Estilo ilha de se relacionar
Por fim, temos as pessoas que são o foco deste artigo, as chamadas ilha. Estas atravessaram as mesmas situações descritas no parágrafo anterior, ou pior, houve total ausência.
Elas têm um histórico de negligência emocional na infância, seja por pais emocionalmente ausentes ou por trocas constantes de cuidadores, impedindo a formação de um vínculo seguro.
Podem ter tido boas condições financeiras e talvez nada lhes faltou materialmente, mas emocionalmente houve negligência.
Dessa forma, essas pessoas aprendem desde cedo que o melhor é não depender de ninguém, pois não podem contar com os outros para atender às suas necessidades emocionais. Elas se tornam autônomas, autossuficientes e evitam vulnerabilidade.
No entanto, ao levarem esse comportamento para os relacionamentos amorosos, acabam criando barreiras emocionais.
Como não aprenderam a esperar nada do outro, também não aprenderam a dar. Assim, tendem a ver as demandas emocionais do parceiro como carência e podem reagir com distanciamento ou irritação.
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Os dois lados da Ilha
Como nada na vida é feito só de vantagens ou desvantagens, o relacionamento com alguém do estilo ilha também tem benefícios.
Por exemplo, esta pessoa é autônoma, autossuficiente, criativa e produtiva (especialmente quando sozinha).
Cuida muito bem de si e é do tipo que espera pouco ou nada dos demais. Ela valoriza muito seu espaço e jamais desrespeitará os tempos ou os espaços dos outros, porque entende esta necessidade.
Por outro lado, espera o mesmo do seu par: que eles sejam autônomos, autossuficientes e independentes em todos os sentidos. Demandas emocionais ou por presença são vistas como carência e são recebidas com irritação.
Quando estão em um relacionamento, não percebem que essa necessidade extrema de independência é resultado de um mecanismo de defesa criado na infância.
Dessa forma, podem acabar repetindo o ciclo de negligência emocional do qual foram vítimas, perpetuando a solidão a dois.
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Como superar a solidão a dois
A ideia de "alma gêmea" ou "cara-metade" é uma visão romântica que pode gerar frustração. Mas isso não significa que as relações não precisam de conexão e reciprocidade.
Relacionamentos saudáveis exigem diálogo, compreensão das necessidades do outro e equilíbrio entre a individualidade e a parceria. É preciso permitir-se ser vulnerável diante do outro.
Ser independente é importante, mas autonomia em excesso pode impedir uma verdadeira conexão emocional. E sem conexão não há relação.
Se cada um no relacionamento está apenas focado em si e espera que o outro cuide de si sozinho, então não há um casal, mas apenas duas pessoas dividindo um espaço.
Para evitar a solidão a dois, é essencial que os parceiros se vejam, se escutem e priorizem a relação.
Se quiserem que a relação funcione, deverão colocar o relacionamento como prioridade.
Não, não só de concessões sobrevive um relacionamento, mas pequenos gestos diários de atenção e generosidade ajudam a fortalecer o vínculo e criar um fluxo positivo de reciprocidade.
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Marcia Fervienza (info@marciafervienza.com)
- Astróloga e terapeuta há mais de 20 anos. Associa sua experiência com aconselhamentos analíticos ao trabalho com Astrologia para facilitar o autoconhecimento, o empoderamento e a transformação pessoal.