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Solidão: uma ameaça global à saúde pública

Sentimento de solidão pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e autoextermínio. Mas também promover reflexões sobre a origem da inabilidade de estar só e a qualidade das relações estabelecidas Em novembro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou o mundo a refletir sobre o que classificou como uma ameaça global à saúde […]

16 jan 2025 - 15h56
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Sentimento de solidão pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e autoextermínio. Mas também promover reflexões sobre a origem da inabilidade de estar só e a qualidade das relações estabelecidas

Em novembro do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou o mundo a refletir sobre o que classificou como uma ameaça global à saúde pública: a solidão. De acordo com a entidade, a solidão é tão nociva para a saúde quanto fumar 15 cigarros por dia. A falta de socialização está relacionada, ainda, a outros fatores de risco como o consumo excessivo de álcool, sedentarismo e obesidade. Além de aumentar em até 50% o risco de demência e em 30%, de AVC.

Sentimento de solidão pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e autoextermínio, mas também promover reflexões
Sentimento de solidão pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e autoextermínio, mas também promover reflexões
Foto: Revista Malu

No aspecto psíquico, completa a psicanalista Tássia Borges - que, nos últimos anos, debruçou-se sobre o tema em razão de sua dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica: "A solidão pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e até autoextermínio".

Entendendo a solidão

Segundo Tássia, existe uma diferença entre solidão e solitude. "A solidão é o estado de alguém que está ou se sente só", diz. "O sentimento pode surgir até mesmo quando a pessoa está rodeada de pessoas, em bons ou maus momentos. Isto acontece a partir da sensação de que os outros não estão no mesmo estado emocional ou não sentem a experiência da mesma forma". 

Já a solitude é uma relação benéfica com o estado de solidão. "São casos em que o isolamento é voluntário e aprazível", explica a psicanalista. "Durante o isolamento imposto pela pandemia, muitas pessoas, embora preocupadas, viram esta condição como um alívio no sentido de não precisarem conviver com pessoas ou marcar presença em eventos considerados desgastantes". 

Um alerta

O grande alerta relativo à solidão, além dos pontos citados pela OMS, é que muitas pessoas simplesmente não conseguem ficar só e sofrem demais por isso. Buscam, o tempo todo, uma companhia. E um dos perigos que correm é, em nome desta necessidade, estabelecer relações nem sempre saudáveis. "Melanie Klein (1882-1960), uma psicanalista de extrema relevância, dizia que, algumas pessoas, vivem a solidão como um estado agudo de desamparo, de abandono ou como uma sensação de estarem sendo perseguidas por objetos hostis. É um sentimento insuportável", afirma Tássia.

Segundo ela, na clínica, ao receber uma pessoa que não consegue ficar só, "é preciso entender o que se passa no mundo interno dela, ou seja, o que falta nela mesma que a leva a sentir-se completa, apenas, na presença de alguém". 

A solidão é única

Embora cada caso seja único - e assim deva ser encarado durante o atendimento psicanalítico - a impossibilidade de estar só pode ter relação com aspectos bem primitivos da infância, ou seja, na forma como se deu a relação mãe/cuidadora e bebê, e na maneira como este bebê "entendeu" o mundo externo a ele. "Klein afirmou que o sentimento de solidão está ligado à sensação de uma perda irreparável, algo irreversível. Outro fator correlato, na minha opinião, é o medo ou a iminência de uma perda. Aspectos que só ouvindo o analisando conseguiremos compreender e ajudá-lo a elaborar". 

Por outro lado, pensando naqueles que se sentem sós mesmo rodeado de familiares e amigos, vale refletir sobre a qualidade destas relações e as expectativas que se tem a respeito delas. "É outra importante contribuição que a psicanálise pode dar", finaliza a especialista.

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