Soroterapia: os riscos de técnica conhecida como 'soro da beleza'
Procedimento é anunciado como 'milagroso' por clínicas e influenciadores; profissionais da saúde alertam para riscos
O termo "soro da beleza" tem se popularizado no Brasil depois que influenciadores e famosos passaram a tomar soro na veia com vitaminas, aminoácidos e outros nutrientes, em busca de mais disposição e beleza. A busca por bem-estar e melhora da aparência, porém, pode tirar o foco do sentido principal da soroterapia, que é ajudar a promover a saúde de pessoas que não estão saudáveis.
"Enquanto a administração intravenosa de nutrientes pode ser crítica para tratamentos médicos específicos, o uso em contextos não médicos (como para aumento de energia, embelezamento da pele, ou desintoxicação) é muitas vezes questionado por profissionais da saúde, que alertam sobre os riscos potenciais, como reações adversas e complicações da inserção de cateteres venosos", explica a pneumologista e paliativista Michelle Andreata.
A soroterapia tem sido vendida como uma prática que deixa o paciente mais bonito, como uma pele mais hidratada, luminosa e rejuvenescida. Algumas clínicas chegam a oferecer cardápios de soros prontos, sem exigir exames prévios aos pacientes.
Andreata alerta que faltam dados sobre resultados e informações de segurança sobre o uso da soroterapia como medida para alcançar benefícios estéticos. "A evidência científica ainda é limitada e muitas vezes contraditória, especialmente no que diz respeito à redução da ansiedade e à promoção da saúde em indivíduos já saudáveis", diz.
Quando a soroterapia deve ser aplicada?
A soroterapia só é benéfica quando a absorção de nutrientes por via oral está comprometida. Isso pode acontecer, por exemplo, por causa de problemas gastrointestinais que possam limitar a absorção dos alimentos. "Pode ser benéfica para pessoas que sofrem de condições como refluxo gastroesofágico, gastrite, ou outras doenças que dificultam a ingestão ou absorção oral de nutrientes", diz a pneumologista.
Além disso, o procedimento pode ser usado para tratar pessoas com doenças neurológicas ou reumatológicas crônicas, "como artrite reumatoide, fibromialgia, e fadiga crônica, onde evidências sugerem potenciais benefícios", afirma.
A médica reforça, no entanto, que a decisão de realizar o procedimento deve levar em conta condições específicas do paciente e seguir uma análise dos benefícios versus riscos, feita por um médico especializado.
Consequências e fiscalização
As consequências para quem faz soroterapia sem necessidade podem ser graves. Uma matéria exibida pelo Fantástico (TV Globo) no último domingo (7) mostrou o caso do deputado estadual Carlos Alexandre (PL- SE), conhecido como Pato Maravilha.
Ele buscou a soroterapia por causa do cansaço. Após a segunda aplicação do soro passou a sentir dores no estômago e na cabeça e acabou hospitalizado. Com o quadro agravado, precisou de uma transferência de emergência, por UTI aérea, de Aracaju para São Paulo. Foi aí que a equipe da cardiologista Ludhmila Hajjar constatou que uma intoxicação por cromo tinha afetado vários órgãos do deputado.
Após casos parecidos, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) passou a realizar uma série de vistorias em clínicas do Estado para apurar a promoção e realização de "soroterapia" para fins estéticos.
No Paraná, a Justiça Federal acatou um pedido do CRM-PR e suspendeu um curso de soroterapia que era ministrado em Foz do Iguaçu. O curso era divulgado em redes sociais como capaz de preparar profissionais sem formação em Medicina para "utilizar em seu consultório um tratamento complementar endovenoso para reposição de nutracêuticos (vitaminas, minerais, aminoácidos e antioxidantes) através da suplementação dessas substâncias".