Surto de meningite deve se restringir a algumas localidades em SP, diz especialista
Professor da USP ressalta a importância de aumentar a cobertura vacinal de meningite e de outras doenças, como a poliomielite; a capital paulista registra 10 mortes pela doença
São Paulo registrou no início da semana mais dois casos de meningite meningocócica; um deles resultou em óbito — de um homem de 22 anos. Apesar de a capital paulista viver um surto localizado nas regiões de Vila Formosa e Aricanduva, zona leste da cidade, esses novos registros são isolados, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), já que não houve três ou mais ocorrências de tipo igual em um período de 90 dias na mesma localidade.
Para o infectologista Marcos Boulos, professor sênior da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), a tendência é que esses casos se restrinjam às localidades em que vêm ocorrendo. O total de casos da doença na cidade chega agora a 58 desde janeiro, com redução de 63,2% em relação ao mesmo período de 2021, quando se registraram 158 infectados. Em relação ao número de óbitos, são dez em 2022, contra 28 no último ano.
Em entrevista à Rádio Eldorado, Marcos Boulos explicou que a disseminação se deve em parte ao abandono do uso da máscara, já que a meningite se transmite pelo ar como as infecções respiratórias. "Ainda é um número que não preocupa de maneira importante, e as medidas têm que ser feitas na localidade onde estão ocorrendo, é onde tem que tomar as medidas mais importantes e mais intensas", resume. Com a diminuição do período de frio, que foi prolongado neste ano, a expectativa é que a transmissão de doenças por via aérea diminua.
Para frear a disseminação, também contribui a atual cobertura vacinal infantil de 75% contra a doença. O ideal, no entanto, seria que essa taxa atingisse os 90%, já que a meningite se espalha em comunidades fechadas — por exemplo, escolas —, transmitida entre as crianças que não foram imunizadas. "Foi assim que todos os grandes surtos de infecção meningocócica ocorreram", explica Boulos.
A ampliação da cobertura vacinal é apontada pelo especialista como o caminho para proteger as crianças e descartar as chances de que ocorra uma maior disseminação não só de agentes que causam a meningite, mas de outros quadros também graves. "As pessoas esquecem as doenças; nós estávamos praticamente livres da poliomielite. Porém ela existe em outros lugares, onde está tendo epidemias, e no mundo globalizado as pessoas viajam de um lado para o outro e você pode ter pessoas albergando o vírus", afirma.
Imunização
A doença meningocócica ou meningite é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e que pode ser causada por infecções de vários microrganismos, como fungos, vírus e bactérias. Até o momento, o Ministério da Saúde informa que em 2022 foram registrados 5.821 casos e 702 óbitos por meningite por diversas etiologias.
A doença pode deixar graves sequelas, principalmente a bacteriana, que tem letalidadade em torno de 20% no País. No Brasil, o mais comum é o tipo C (que envolve 80% dos casos). Os tipos A, W e Y são menos frequentes. Para preveni-los, é possível tomar o imunizante em todas UBSs do município.
A vacina contra a meningite meningocócica C deve ser aplicada em bebês aos 3, 5 e 12 meses, e a de meningite meningocócica ACWY é fornecida atualmente à faixa etária de 11 a 14 anos de idade. A campanha foi ampliada também para adolescentes de 13 e 14 anos, até junho de 2023, conforme definição do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Apenas em situações excepcionais, como a do surto localizado que ocorre nos distritos da Vila Formosa e Aricanduva, os imunizantes são indicados para adultos. Os cidadãos podem verificar sua situação vacinal na unidade de saúde e localizar a mais próxima por meio da plataforma Busca Saúde.