'Vape de vitamina'? Entenda os riscos do cigarro eletrônico, proibido pela Anvisa
Vendido nas redes sociais, produto não tem comprovação científica de qualquer benefício à saúde
Nas últimas semanas, as redes sociais viralizaram a propaganda de um produto que se vende como um "vape saudável". Segundo a empresa Iz Health, o cigarro eletrônico seria diferente dos outros produtos por não conter nicotina, e sim concentrados vitamínicos. Após repercussão, o perfil da empresa foi deletado do Instagram, mas produtos ainda podem ser encontrados para aquisição em sites na internet.
A comercialização e propagandas de cigarros eletrônicos são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em nota, a agência reiterou a proibição do produto "independentemente de sua composição e finalidade" e acrescentou que o "vape saudável" não possui qualquer comprovação científica ou regularização para circular no mercado brasileiro.
"Sem danos à saúde e com sabor de hortelã cítrica". Essa é uma das descrições feitas pela modelo enquanto se exercita na academia em vídeo das redes sociais, acrescentando que o produto fornece "alta performance" e energia para o dia a dia.
As vendas são divididas em seis sabores para diferentes objetivos, "Zen" para relaxar, "Restore" para rejuvenescimento, "Vital" para imunidade, "Melatonin" para descansar, "Power" para energia e "Boost" para garantir o foco. É o que dizem as embalagens dos vaporizadores, que são encontrados no mercado pelo valor de R$ 55.
As composições variam, segundo os anúncios, de plantas como camomila, passiflora, raiz de valeriana, para vitaminas C, D3, B12, além de outros componentes como cafeína e colágeno. Para o pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Paulo Corrêa, não há estudos que avaliem a segurança do processo. "A inalação de substâncias é muito diferente do que você colocar a substância por via digestiva."
Ao comparar com outros produtos, o médico chama a atenção para substâncias que já foram testadas em modos inalatórios, como a insulina, vetada da venda por causar fibrose pulmonar. "Cada uma das substâncias que tem ali teria de ser submetida a um estudo para ver se é seguro. Isso leva tempo", afirma. Também não há comprovações se existe de fato uma absorção dos nutrientes por meio da inalação, como afirma a propaganda.
ah nao kkkk pic.twitter.com/S752d9XQek
— lucas sakamoto. (@Lucassakamotoo) January 29, 2023
Além da falta de comprovações científicas em relação às vitaminas e os outros componentes, os cigarros eletrônicos são perigosos independentemente de conterem nicotina ou não. O vazamento de metais para o aerossol que acontece no uso dos vapes é prejudicial à saúde.
Um dos metais que podem afetar o organismo é o níquel, que está em níveis mais elevados nos cigarros eletrônicos do que em cigarros normais. O metal já foi associado a câncer de pulmão e também dos seios paranasais.
A inflamação causada pelos cigarros eletrônicos pode causar fibrose pulmonar, pneumonia e até insuficiência respiratória. Os produtos podem provocar também doenças respiratórias, como enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer.
O Estadão tentou contato com a Iz Health, mas não localizou a empresa.
Cigarros eletrônicos são proibidos por lei
No ano passado, a Anvisa reiterou a Resolução 46, de 28 de agosto de 2009, que proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar, entre eles o cigarro eletrônico.
Durante reavaliação, ocorrida em julho, a agência aprovou o Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) sobre os dispositivos. O documento indicou a necessidade de manter a proibição e a garantia de coibição do comércio irregular, por meio de fiscalização e campanhas educativas.