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Velocidade e prioridade na imunização estão entre os dilemas éticos de testes da vacina

Governos e cientistas terão de lidar com tempo menor para testes e necessidade de escolher grupos para doses iniciais

10 ago 2020 - 13h06
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Mesmo que o estudo de desafio humano não seja realizado, cientistas e governos terão de lidar com outros dilemas éticos no desenvolvimento e distribuição de uma vacina para a covid-19. Entre os principais estão a cautela com os resultados das pesquisas e o dilema da escolha de quais grupos devem ser vacinados inicialmente.

Quanto ao primeiro ponto, especialistas alertam sobre os riscos de acelerar as pesquisas de uma vacina. Em situações normais, um estudo de fase 3 tem duração mínima de um ano justamente para que os cientistas tenham tempo para observar a resposta imune e eventuais eventos adversos.

No caso de imunizantes em teste para a covid, como as vacinas de Oxford e da chinesa Sinovac, pesquisadores estimam que eles possam estar licenciados menos de seis meses após o início da fase 3.

"Por mais que, neste momento, a gente queira que os processos regulatórios sejam acelerados, temos de considerar que estamos lidando com um ser humano e é necessário um tempo para ver a resposta dessas pessoas e se elas não terão nenhum efeito a longo prazo", diz Juliana Santoro, diretora educacional da Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (Abracro).

Quanto à escolha dos grupos prioritários para receber as primeiras doses da vacina, é recomendável que os dados epidemiológicos sobre a letalidade no Brasil sejam usados como base para definir que indivíduos serão vacinados primeiro.

"Em um cenário desfavorável, em que inicialmente não teremos doses para toda a população de risco, precisaremos ter uma política clara de priorização acompanhada de uma campanha de comunicação transparente com a população, para que ela entenda por que estão sendo priorizados alguns grupos", comenta a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Para isso, ressalta a especialista, é preciso que as decisões do Ministério da Saúde tenham respaldo das sociedades médicas científicas, que devem participar da discussão e assessorar o órgão na definição dos grupos prioritários, como já ocorre em outras campanhas de vacinação, como a da gripe.

Estadão
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