Vírus da catapora aumenta contaminações no Brasil: entenda o herpes-zóster
O vírus causador da catapora costuma reativar no organismo, como tem acontecido com muitos brasileiros. Entenda novo surto
Os casos de herpes-zóster têm aumentado cada vez mais no Brasil. O país registrou cerca de 2,6 mil internações por conta do vírus em 2023, um aumento de 13,6% em relação ao ano anterior, quando foram 2,3 mil ocorrências, e de 31,6% em comparação com as duas mil hospitalizações de 2021.
Fora as internações, uma pesquisa do Instituto Penido Burnier em Campinas com uma base de dados do DataSUS mostrou que 127 mil brasileiros sofrem com a reativação do herpes-zóster apenas no ano passado, ante 19 mil em 20222.
E somente nos dois primeiros meses de 2024, o vírus 'acordou' para 27 mil brasileiros. Esse total representa o triplo dos 9 mil casos no mesmo período de 2023. O estado com a maior taxa da doença é o Rio de Janeiro que supera inclusive São Paulo, apesar de ter uma população bem menor.
O médico oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier explica que o SUS não oferece o PCR, exame considerado padrão ouro para diagnosticar o herpes-zóster. Os dados, portanto, se baseiam no número de exames imunoglobulina G que indica convalescença ou vírus em circulação no organismo.
A má notícia é que o herpes zoster está alojado em 95% dos brasileiros, e uma em cada três pode manifestar a doença que ataca os gânglios nervosos. Isso porque a vacina só começou a ser produzida a partir de 1990, explica Leôncio.
O vírus da catapora
O herpes-zóster é o vírus causador da catapora. Antes da década de 90, quem não era vacinado contraía a catapora e, após a cura da infecção, mantinha o vírus alojado no sistema imunológico. Estas pessoas, principalmente após os 50 anos de idade, correm maior risco de desenvolver uma reativação viral. Para o oftalmologista, o envelhecimento da população brasileira explica o surto no país.
Vírus alocado no cérebro e nos olhos
A região dos olhos é uma das "favoritas" do herpes-zóster. "Os olhos e o cérebro são órgãos preferenciais para o vírus permanecer por muito tempo se replicando sem fazer alarde", comenta. Isso porque as células de defesa do olho são autolimitadas para evitar processos inflamatórios que poderiam causar danos maiores ao órgão. Por isso, as afecções oculares respondem por 1 em cada 4 casos.
Sinais de alerta
Leôncio afirma que uma semana antes de surgirem as primeiras erupções ao redor dos olhos pode ocorrer dor e formigamento no fronte, sempre em um único olho. Ao primeiro sinal, o médico recomenda consultar um oftalmologista. "Quanto antes for iniciado o tratamento, menores são as sequelas", destaca.
Segundo ele, ter mais de 60 anos, a constante exposição ao estresse e qualquer fator que abale a imunidade pode reativar a doença. "Embora fique latente no organismo, é rara a manifestação no olho mais de uma vez", afirma.
Doenças causadas nos olhos
Entre as doenças causadas pelo vírus o oftalmologista destaca a ceratite herpética, uma inflamação recorrente na córnea que tem como sintomas dor nos olhos, vermelhidão, sensibilidade à luz, visão embaçada e sensação de corpo estranho nos olhos.
Outras condições elencadas pelo oftalmologista são: uveíte (inflamação da úvea, a camada média do olho), irite (inflamação da íris), episclerite (inflamação da camada fina que cobre a esclera) e neurite óptica (inflamação do nervo óptico) que pode levar à perda da visão.
Tratamento
Queiroz Neto ressalta que o tratamento do herpes-zóster varia de acordo com a gravidade de cada caso. Pode incluir antivirais tópicos em gota ou pomada para reduzir a replicação do vírus, corticosteróides tópicos ou sistêmicos, colírio anti-inflamatório e analgésico para aliviar a dor associada à neurite óptica.
"É crucial seguir as orientações médicas, realizar consultas de acompanhamento para monitorar a resposta ao tratamento e ajustar a terapia conforme necessário", salienta.
Além disso, é recomendável manter a área afetada limpa lavando várias vezes ao dia, aplicar compressas frias feitas com gaze e água filtrada. O contágio não é comum, mas pode ocorrer caso outra pessoa tenha contato com o líquido que transborda das vesículas. Por isso, recomenda separar toalhas e fronhas que devem ser trocadas, pelo menos, uma vez ao dia.
Prevenção
O especialista afirma que toda criança deve ser vacinada aos 15 meses de idade com a tetra ou tríplice viral e a varicela monovalente. A aplicação da segunda dose de varicela monovalente é indicada aos quatro anos de idade.
Para quem já passou dos 50 anos e adultos imunocomprometidos com 19 anos ou mais a recomendação do médico é tomar a vacina zoster recombinante que só está disponível na rede privada e custa em torno de 800 reais.
Além disso, manter uma alimentação equilibrada, boa noite de sono e as mãos limpas também pode diminuir o risco de reativar este vírus, bem como contrair outros, conclui o médico.