Tchau, filtros de beleza: Instagram vai remover função

Desde o dia 14 de janeiro, o Instagram descontinuou todos os filtros feitos por terceiros, o que inclui tanto os de joguinhos como os de beleza. Serão mantidas apenas as opções criadas pela Meta.

Os malefícios dos filtros

A psicóloga Mariane Pires Marchetti (CRP: 06/191429), especialista em Capacitação em Transtornos de Ansiedade e Capacitação em Terapia Cognitiva Comportamental, explica que o uso dos filtros era prejudicial a saúde mental das pessoas e apoia a decisão da retirada:

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"Os filtros criam uma versão idealizada de nós mesmos, o que pode levar à comparação e à sensação de que nossa aparência real não é suficiente. Isso afeta a autoestima e reforça padrões irreais de beleza, gerando sentimentos de inadequação. Retirar o filtro é uma boa opção. Mas, de forma gradual e no seu tempo. Aceitar a aparência natural não é fácil em um mundo que valoriza a perfeição, mas abrir mão dos filtros pode ser libertador. É um processo que fortalece a autocompaixão e a autoestima, permitindo que você se conecte com quem realmente é. Encontrar um equilíbrio no uso dos filtros é fundamental para se sentir bem consigo mesmo", explica a especialista.

A retirada dos filtros

Josué Montedonio Nascimento, Cirurgião Plástico (CRM : 117.312 | RQE : 30.714) - Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, reforça a decisão de retirar o filtro:

"A decisão do Instagram de remover os filtros de realidade aumentada chega em um momento oportuno, onde nós, profissionais da saúde, cirurgiões plásticos, temos nos preocupado cada vez mais com os impactos dessas ferramentas na autoestima e na percepção de imagem das pessoas. Os filtros, inicialmente, eles pareciam apenas uma forma divertida de modificar o visual, né? mas se tornaram um fenômeno cultural com impacto direto na forma como as pessoas enxergam a si mesmas. A facilidade de modificar traços faciais, suavizar a pele ou alterar completamente a estrutura do rosto nas redes sociais cria uma distorção sobre o que é natural e saudável", comenta o profissional.

"O problema é que isso incentiva muitos a desejarem na vida real algo que só existe no mundo virtual. No meu consultório, vejo cada vez mais pacientes chegando com pedidos específicos para alcançar essa "perfeição" filtrada. Isso pode ser muito prejudicial do ponto de vista psicológico, né? Como cirurgião plástico, acredito que meu papel é buscar um equilíbrio que valorize as características naturais de cada pessoa, de forma responsável e segura. Não se trata de transformar alguém em um filtro, mas de preservar a autenticidade e promover a autoestima. Acho fundamental o trabalho conjunto entre cirurgiões plásticos e psicólogos para ajudar os pacientes a desenvolverem uma visão mais saudável e realista sobre si mesmos", acrescenta.

A tecnologia pode ser uma grande aliada, mas a autenticidade e o autoconhecimento são essenciais para que qualquer intervenção estética traga benefícios reais e sustentáveis. Considero que essa mudança pode ser extremamente positiva. Essa decisão tem o potencial de combater as distorções de imagem que afetam tantas pessoas. Ao remover os filtros, o Instagram pode incentivar uma relação mais saudável com a própria aparência e criar um ambiente que valorize a naturalidade. Não é uma questão de limitar a criatividade, mas sim de proteger a autoestima dos usuários, promovendo mais autenticidade e menos comparações irreais", explica o médico.

Personagem:

Adriana Muller, 34 anos (@adrianamullerofc)

Sou a favor dos filtros mas desde que isso não te cause uma distorção de imagem. Eu acho positivo pelo fato de ter filtros engraçados para você interagir com o seu público e realizar brincadeiras nos stories. Tem dias que eu acordo querendo aparecer exatamente como eu acordei, sem filtro nenhum e super satisfeita com isso mas tem dias que eu não acordo legal e vejo que um filtro de leve ali vai ajudar, lembrando que isso só não pode virar um vício na sua rotina ao ponto de você não se reconhecer sem o uso do mesmo, se não acaba virando um verdadeiro problema na sua vida. Sempre busco utilizar filtros que não alterem o meu rosto natural, pois não quero que meu público enxergue algo fora da minha realidade.

Janny Mota - Influenciadora digital

Há mais ou menos dois anos decidi abandonar os filtros no Instagram e também parei de editar minhas fotos antes de postar. Isso aconteceu quando percebi que estava me associando à "pessoa do filtro". Nos vídeos gravados pela câmera ou ao me olhar no espelho, já não me sentia tão bem com a minha imagem real.

No início, usava os filtros apenas para suavizar a pele e, por isso, recebia muitos elogios nas redes sociais. Comentários como "sua pele é incrível" e "meu sonho é ter uma pele assim" eram frequentes. Mas, ao ouvir isso, comecei a me sentir uma fraude. A sensação de estar enganando as pessoas me incomodava, e foi então que tomei a decisão de parar.

Foi libertador me desprender dessa dependência. Hoje, quando as pessoas me encontram pessoalmente, costumo ouvir: "Você é ainda mais bonita ao vivo!" E, sinceramente, isso é muito melhor do que causar a impressão oposta.

Por outro lado, reconheço que essa decisão foi mais fácil para mim porque sempre cuidei da minha imagem. Faço procedimentos estéticos e invisto no meu bem-estar, o que me ajuda a me sentir confiante. Isso me leva a refletir sobre a pressão que muitas pessoas sentem para corresponder a padrões irreais nas redes sociais.

Não costumo julgar quem usa filtros ou edita suas fotos. Cada pessoa vive sua própria experiência e lida com suas inseguranças de formas diferentes. Mas sempre procuro incentivar que sejamos mais autênticos, especialmente evitando edições que distorcem quem realmente somos. Afinal, o maior elogio que podemos receber é sobre a nossa essência, não sobre um efeito digital.