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Teatro +60: Liane Maya fala sobre novos desafios ao viver vilã de musical 'Hairspray'

15 nov 2024 - 10h08
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Liane Maya, uma das personalidades mais versáteis do teatro musical brasileiro, se destaca por sua carreira multifacetada como atriz, cantora, bailarina, coreógrafa e diretora. Com formação em instituições renomadas como O Tablado, o Conservatório Nacional de Música do Rio de Janeiro e a Escola de Música Villa-Lobos, além de estudos em Nova York e sob a tutela de renomadas professoras de Ballet Clássico, Maya possui um currículo acadêmico impressionante que reflete sua dedicação às artes cênicas.

A triz Liane Maya, que vive a vilã de "Hairspray"
A triz Liane Maya, que vive a vilã de "Hairspray"
Foto: Divulgação / Manequim

Ao longo de sua trajetória profissional, Liane participou de mais de 25 produções teatrais, conquistando elogios por suas atuações em espetáculos como "As Damas de Paus", "Crazy For You" e "Além do Ar - Um Musical Inspirado em Santos Dumont". Este último lhe rendeu indicações ao Prêmio Bibi Ferreira. Seu talento também brilhou em produções como "A Família Addams", "Cabaret", "Noviças Rebeldes" e "Gypsy". Atualmente, ela enfrenta o desafio de interpretar Velma Von Tussle no musical "Hairspray", a antagonista cuja complexidade requer uma performance marcada pela crueldade e preconceito.

Paralelamente ao seu trabalho no teatro, Liane está pronta para apresentar ao público Dona Zefa, uma nova personagem na série musical "Uma Garota Comum", produzida pelo Disney+. Este projeto marca seu retorno às telas após participações memoráveis em programas icônicos como "Planeta dos Homens" e "Escolinha do Professor Raimundo".

Em entrevista exclusiva à revista Manequim, a atriz falou sobre os desafios de dar vida a personagens com valores retrógrados e a responsabilidade de representar questões sociais relevantes através da arte. Veja a seguir:

1. Como foi para você, Liane, mergulhar na personalidade de Velma Von Tussle, uma personagem tão diferente e oposta aos valores inclusivos e diversos que o próprio musical "Hairspray" celebra?

"Eu como atriz me interesso pelo universo do ser humano e mergulhar na personalidade de Velma Von Tussle, a vilã do musical 'HairSpray' foi um desafio. Além de Velma ser meu oposto,tive que criar um corpo e uma voz que caminhassem juntos na interpretação".

"Eu não poderia tomar partido e teria que mergulhar até o fim na crueldade e preconceito, para ser o contraponto da idealista Tracy Turnblad. Sabia que tinha uma responsabilidade em mostrar com esse personagem a intolerância e o preconceito de Baltimore dos anos 60 e que também temos vivido em vários momentos da nossa história recente".

2. O musical "Hairspray" levanta questões sérias sobre racismo e intolerância, temas que Velma representa. Como é para você lidar com essas questões em cena e como você espera que o público reaja ao papel da sua personagem na trama?

"Minha personagem levanta questões dos anos 60, porém muitas vezes escondidas em entre linhas nas atitudes e no comportamento da nossa sociedade atual".

"A reação do público é muito direta em relação a vilã da história, que desde a primeira cena se apresenta preconceituosa até o momento final, quando o programa está ao vivo e finalmente elas são desmascaradas e perdem tudo".

3. Interpretar uma personagem tão marcante e com valores retrógrados pode ser desafiador. Você encontrou algum aspecto de Velma que conseguiu entender ou pelo menos explorar com um olhar empático?

"Bom, quando a gente levanta um personagem as perguntas são bem diretas: Qual é o seu sonho? De que você tem medo? Qual é a sua frustração? Essas perguntas são feitas e claro que a empatia acontece quando você começa a mergulhar na psique da personagem e descobre  o quanto ela não teve amor, foi criada tendo que ser a melhor,foi rejeitada e teve seu sonho frustrado. Esse mergulho faz com que o personagem se humanize e você passe a entender suas motivações e justificativas".

4. Sua carreira é marcada por trabalhos diversos, do humor na televisão aos palcos dos musicais e à música com As Frenéticas. Como essas experiências moldaram sua visão sobre o mundo das artes e influenciaram sua forma de atuar?

"Eu comecei a minha formação no ballet clássico e no canto lírico, em seguida veio a Escola de Teatro Tablado. Eu comecei a atuar com 15 anos, como protagonista da primeira direção de musical do diretor Wolf Maya e depois continuei com uma carreira extensa em musicais nacionais e internacionais". 

"Aos 18 anos fui para a TV Globo contracenar com os gênios da comédia: Jô Soares e depois nos programas do  Chico Anysio e a 'Escolinha do Professor Raimundo' no papel de Dona Clarinha. Fiz novelas e séries da Globo, fui diretora e coreógrafa de Teatro e TV, tive muitas bandas de Rock e Soul e fiz parte de uma das formações do grupo 'As Frenéticas' durante 8 anos". 

"Além disso, comecei a dar aulas na  CAL, escola de formação de atores no Rio por 30 anos seguidos de Teatro Musical e corpo e voz para o ator da cena. Esta experiência tão diversificada em várias áreas, com certeza foram fundamentais para a artista que sou hoje".

"Hoje sou uma atriz que mergulha tanto no drama como na comédia. Os mestres que tive no canto, dança e teatro e os diretores que tive o privilégio de trabalhar, foram fundamentais para que eu hoje, humildemente, os reverencie e tenha imensa gratidão pelos conhecimentos que recebi".

5. Como você se sente ao saber que seu trabalho como Velma pode estar ajudando o público a refletir sobre temas como racismo e preconceito, e qual mensagem você espera que essa interpretação deixe?

"Eu sou uma artista comprometida com a arte que transforma e faz refletir. Tenho certeza que mesmo dentro de uma comédia musical, a personagem Velma Von Tussle está cumprindo a missão de fazer o público refletir seus valores com os temas: racismo, homofobia, gordofobia, etarismo e padrão de beleza na sociedade.

Espero que esses temas sejam cada vez mais discutidos e colocados em cena  para que a sociedade avance com o respeito à diversidade e a liberdade de sermos uma sociedade livre".

Manequim
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