Telégrafo hidráulico: como funcionava o sistema de comunicação criado na Grécia Antiga?
Os sinais de fumaça foram um dos primeiros sistemas de comunicação à distância utilizados pela humanidade, mas apresentavam limitações que dificultavam a transmissão completa das mensagens. Pensando em aprimorar esta solução, o escritor grego Enéias, o Estrategista, criou o telégrafo hidráulico por volta do ano 350 a.C.
Especializado em guias sobre estratégias e comunicações relacionadas ao universo militar, o autor não estava contente com os resultados oferecidos por tochas e faróis para o envio de mensagens. Tais mecanismos permitiam comunicar que algo estava acontecendo, como uma invasão, mas não detalhavam o fato.
Para melhorar a comunicação, então, ele teve a ideia de usar dois potes cheios com a mesma quantidade de água e uma haste flutuante que trazia uma série de códigos escritos, idênticos, em ambos os vasilhames. Um deles ficava com o remetente e o outro com o destinatário.
A mecânica do primeiro telégrafo criado na época da Grécia Antiga exigia, ainda, que quem emitia a mensagem e quem recebia ficassem posicionados em um local no qual um poderia ver o sinal luminoso emitido pelo outro, e vice-versa, sem dificuldade, mesmo à distância. Este sinal era dado por meio de tochas, geralmente.
Como funcionava o telégrafo hidráulico?
Com os dois operadores do telégrafo de Enéias posicionados, a parte interessada em enviar a mensagem erguia a tocha, sinalizando o início da comunicação. Do outro lado, o receptor precisava dar o mesmo sinal, indicando que estava pronto para começar o processo.
Em seguida, o remetente deveria abaixar a tocha e abrir a válvula localizada no fundo do recipiente para deixar a água escapar, passo que precisava ser feito simultaneamente pelo outro lado. À medida que a água escorria, a haste contendo as mensagens também descia, até o emissor voltar a erguer a tocha e fechar a torneira, sinalizando a mesma medida para o colega.
Quando o sistema era paralisado, ambos os recipientes deveriam ter a haste com a mesma altura, indicando a mensagem que o primeiro grupo desejava transmitir. Por causa disso, era imprescindível a sincronia entre os participantes, pois um pequeno atraso de um deles resultaria em erro na mensagem enviada.
Apesar de simples, a tecnologia por trás do telégrafo hidráulico foi bastante eficiente, otimizando a comunicação à distância naquela época. O sistema inventado pelo escritor grego influenciou um mecanismo mais avançado desenvolvido séculos depois pelo engenheiro britânico Francis Whishaw.
Uso na Primeira Guerra Púnica
A Primeira Guerra Púnica, ocorrida entre 261 a.C. e 241 a.C., teve o telégrafo criado por Enéias como uma das principais ferramentas. No conflito entre Cartago e Roma, duas das maiores potências do Mediterrâneo ocidental no período, o dispositivo de comunicação auxiliou no envio de mensagens da Sicília para Cartago.
Iniciada com a tomada de Messina pelos romanos, a primeira guerra terminou com a derrota dos cartaginenses. Posteriormente, outros dois conflitos ocorreram, com Roma dominando o mar Mediterrâneo.