Traumas na infância podem afetar as relações amorosas na vida adulta
Pessoas que vivenciam traumas na infância podem ter dificuldades em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis
A infância é parte importante do desenvolvimento humano e os eventos traumáticos vivenciados durante esse período têm um impacto profundo e duradouro na vida, na saúde e nas relações futuras.
A psicoterapeuta Cecília Lauriano explica que traumas na infância, como abusos, violência doméstica, ausência paterna ou materna, e até mesmo a negligência emocional, podem deixar marcas profundas no desenvolvimento emocional de uma pessoa.
"Essas experiências traumáticas moldam a forma como um indivíduo vê a si mesmo, como vê o mundo e interage com ele, influenciando diretamente suas relações, especialmente relações amorosas no futuro", conta Lauriano. "As crianças que crescem em ambientes instáveis podem desenvolver dificuldades em confiar nos outros e em estabelecer vínculos afetivos saudáveis."
Impacto na saúde mental
Pesquisas indicam que traumas na infância podem levar ao desenvolvimento de diversos transtornos mentais, incluindo transtornos de personalidade e de humor como depressão e ansiedade crônica. Em um estudo publicado no The American Journal of Psychiatry, indivíduos com transtorno de personalidade limítrofe ou traços limítrofes e indivíduos não limítrofes com diagnósticos intimamente relacionados foram entrevistados em profundidade sobre experiências de grandes traumas infantis.
Um número significativamente maior de indivíduos borderline (81%) relatou histórias de tais traumas, incluindo abuso físico (71%), abuso sexual (68%) e testemunho de violência doméstica grave (62%). Histórias de abuso foram menos comuns naqueles com traços limítrofes e menos comuns em indivíduos sem diagnóstico limítrofe. Estes resultados demonstram uma forte associação entre o diagnóstico de transtorno de personalidade borderline e uma história de abuso na infância.
"O transtorno de personalidade borderline, por exemplo, está frequentemente associado ao histórico de desenvolvimento. Indivíduos com esse transtorno apresentam instabilidade emocional e dificuldades em manter relacionamentos estáveis, o que pode ser um reflexo direto de vivências traumáticas da infância", afirma a psicoterapeuta.
Além disso, ela destaca que os traumas infantis podem afetar a autocompaixão e a percepção de valor próprio de uma pessoa. "Crescer em um ambiente onde as necessidades emocionais não são atendidas pode levar à sensação de que não se é digno de amor e respeito. Isso pode resultar em padrões de relacionamento codependentes ou em envolvimentos repetitivos em relações abusivas, perpetuando um ciclo de dor e frustração", elucida.
Como lidar com essa situação?
O reconhecimento e tratamento dos traumas na infância são essenciais para romper esses ciclos negativos. A especialista ressalta a importância de uma abordagem terapêutica que considere o histórico de vida do paciente, proporcionando um espaço seguro para a exploração e cuidado especialmente orientado para as experiências traumáticas.
"A terapia é uma ferramenta poderosa para ajudar indivíduos a reconhecerem e processarem experiências traumáticas. Através do trabalho terapêutico, é possível reestruturar padrões emocionais, padrões de comportamento e de pensamento, promovendo o desenvolvimento de habilidades para relacionamentos mais saudáveis e satisfatórios", pontua Lauriano.
Para aqueles que buscam tratamento para seus traumas e construção de relacionamentos mais saudáveis, a psicoterapeuta compartilha algumas orientações práticas:
Procure terapia
A ajuda de um profissional qualificado é essencial para trabalhar os traumas do passado. Terapias orientadas para o trabalho com trauma, como a Experiência Somática, são bastante indicadas.
Desenvolva a autocompaixão
Pratique ser gentil consigo mesmo. Reconheça que seus sentimentos são válidos e que é possível processar os traumas com o tempo e esforço, a professora indica como leitura, o trabalho de Kristin Neff sobre autocompaixão.
Construa um sistema de apoio
Cerque-se de amigos e familiares que ofereçam suporte emocional. Ter um grupo de apoio confiável pode fazer uma grande diferença na jornada de cura.
Aprenda sobre relacionamentos saudáveis
Invista tempo em aprender sobre dinâmicas de relacionamentos saudáveis. Leia livros, participe de workshops e procure informações que ajudem a entender e identificar padrões positivos.
Pratique a comunicação aberta
Trabalhe na habilidade de expressar seus sentimentos e necessidades de maneira clara e honesta. A comunicação aberta é fundamental para estabelecer e manter relações saudáveis.
