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Tudo sobre autismo: Desvendando o TEA

No mês de abril, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu que fosse comemorado o abril azul, para conscientização a respeito do TEA, Transtorno do Espectro Autista. Segundo dados divulgados pela Associação de Amigos do Autista (AMA), uma em cada 160 pessoas no mundo possui autismo. O autismo foi relatado cientificamente pela primeira vez nos […]

21 dez 2024 - 00h04
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No mês de abril, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu que fosse comemorado o abril azul, para conscientização a respeito do TEA, Transtorno do Espectro Autista. Segundo dados divulgados pela Associação de Amigos do Autista (AMA), uma em cada 160 pessoas no mundo possui autismo.

Foto: Pixabay / Revista Malu

O autismo foi relatado cientificamente pela primeira vez nos anos de 1943, quando o médico Leo Kanner publicou um estudo que descrevia o comportamento e as dificuldades na socialização de 11 crianças. Além de Kanner, outros profissionais da saúde também contribuíram para o conhecimento a respeito do TEA ainda no século XX. Foram eles Hans Asperger, Bruno Bettelheim, famoso pela obra A Psicanálise Dos Contos De Fadas, Michael Rutter e Lorna Wing.

Primeiras análises sobre o autismo

Cada um destes pesquisadores buscou compreender as causas e consequências do autismo. Ainda em 1943, Kanner acreditava que o TEA era parte de uma esquizofrenia infantil. Enquanto o psiquiatra Michael Rutter propôs, em 1978, uma visão do autismo como um transtorno único, diferente da esquizofrenia.

Já a observação de que o TEA afeta mais os meninos surgiu por parte de Asperger em um artigo que ficou famoso em 1981. Ou seja, foram anos de pesquisas e reflexões até que, uma pesquisadora chamada Lorna Wing observou que o autismo atinge as pessoas em diferentes níveis e fases. O que estimulou a ideia do autismo como um espectro. 

Porém, somente em 2013 houve uma publicação e reconhecimento, por parte da comunidade médica, da ideia do autismo como espectro, com a publicação do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Levaram 70 anos para a aceitação desta ideia.

Segundo o site do Ministério da Saúde, o Transtorno do Espectro Autista é um "distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades", afirma o site da instituição.

Níveis de autismo - (DSM-5)

Antigamente, antes da publicação do DSM-5, o autismo era classificado por tipos. Porém, desde a aceitação e compreensão como espectro, o autismo passou a ser dividido em três níveis, que avaliam a gravidade do espectro. Bem como o nível de dependência, ou suporte, que a pessoa com autismo irá necessitar. 

Nível 1 

Geralmente conhecido pelo grau mais "leve" do autismo. Nestes casos, a criança ou pessoa com autismo possui um nível maior de funcionalidade e independência, necessitando de menos suporte ou ajuda. Algumas características:

  • Possui alguns déficits de comunicação 
  • Dificuldade em iniciar interações sociais
  • Pouco interesse nos outros 
  • Comportamento inflexível em algumas situações

Nível 2 

Já o nível dois, considerado moderado, é marcado pelo fato de a pessoa com autismo precisar de suporte substancial.  Suas características são:

  • Déficits graves nas habilidades sociais e comunicação verbal e não verbal.
  • Maior dificuldade em aberturas sociais
  • Comportamento repetitivos com frequência 
  • Inflexibilidade 
  • Estresse e dificuldade de mudar de foco ou ação

Nível 3

Por fim, o nível três é o nível considerado severo, e é marcado por um autismo de grau mais grave e que necessita de grande apoio e suporte. Suas características costumam ser de:

  • Déficits severos na comunicação verbal e não verbal.
  • Interação social muito limitada
  • Resposta mínima à abertura social 
  • Extrema dificuldade de lidar com mudanças
  • Grande estresse
  • Muitos comportamentos repetitivos

Fonte: Informações desenvolvidas a partir do DSM-5 

Rótulos que atrapalham

Com base nestas informações, é possível imaginar alguns mitos e preconceitos a respeito das pessoas com autismo. Por exemplo, como podemos perceber, não são todas as pessoas com o TEA que terão graves problemas de comunicação ou comportamentos repetitivos em todas as esferas de suas vidas. Segundo Deborah Kerches, neuropediatra especialista em Transtorno do Espectro Autista e autora do livro Compreender e Acolher Transtorno do Espectro Autista na Infância e Adolescência (Literare Books), há muitos mitos que cercam esta condição.

"O TEA é uma condição do neurodesenvolvimento de início precoce que resulta em maneiras diferentes de uma pessoa se comunicar e relacionar. E, dentro desse espectro, existe uma infinidade de possibilidades sintomatológicas, o que evidencia a importância de combatermos os rótulos e preconceitos que, infelizmente, cercam essa condição, como 'pessoas com TEA não tem sentimentos', 'não gostam de se relacionar', 'de fazer amigos'. Essas ideias precisam ser combatidas, e fazemos isso através da informação e, sobretudo, do respeito.  Algumas pessoas com TEA têm, sim, dificuldades em identificar, gerenciar e expressar suas emoções, mas isso não significa, de forma alguma, que não sintam. Há ainda quem diga que a pessoa com TEA vive em um mundo só dela e se isola porque não quer fazer amizades. 

Forma diferente de viver

O que acontece, na verdade, é que ela convive com as pessoas de forma diferente devido a particularidades da condição, como, por exemplo, déficits de linguagem e na socialização, que podem resultar num maior isolamento. Justamente por isso é importante estimular a independência, a confiança, a autonomia e as interações sociais entre crianças com TEA.

Outro mito difundido é o de que todos os autistas têm capacidade intelectual acima da média. Temos, sim, aqueles totalmente funcionais e com alta performance, mas essa não é a regra. Existe um amplo espectro, que vai desde deficiência intelectual severa até casos de superdotação.

Outro erro é tratar o TEA como uma doença, falar em 'cura' O TEA é uma condição que acompanha o indivíduo durante toda sua vida, o que não significa que os desafios serão sempre os mesmos. O tratamento é totalmente possível e, quanto mais precoces e individualizadas forem as intervenções, melhores serão os resultados no sentido de amenizar déficits, exaltar potencialidades e proporcionar melhor qualidade de vida", explica a especialista.

Linguagem da criança com TEA

A professora e pesquisadora Silvia Aparecida Canonico, que estuda a linguagem da criança com autismo no grupo Gealin da Unesp, em Araraquara, afirma que apesar das dificuldades de comunicação e interação no autismo, a criança ou indivíduo com TEA está sim no universo da linguagem. "Se considerarmos linguagem por um ponto de vista mais amplo, com sentidos que são construídos por diversas modalidades da língua, como uso da linguagem, uso dos gestos, do olhar, das ações, que acontece dentro de uma rotina, de acordo com um contexto, essa criança está na linguagem, compreende linguagem e sentidos", diz. 

Ainda, Silvia afirma que, para além da linguagem verbal, é necessário que os pais prestem atenção também na linguagem não verbal, pois é um mito que só a fala e a língua carregam sinais do TEA. "Antes de pensar somente na expressão de palavras ou balbucios, observar as pistas não verbais, como olhar direcionado ao que seu interlocutor aponta ou a ele quando se dirige à criança, uso de gestos, comportamento singular, como manipular ou rodar objetos e também apego a rotinas", completa. 

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