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Agadèz, a esquecida porta do deserto do Níger

9 set 2013 - 06h04
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Issa Ousseni.

Agadez (Níger) 8 set (EFE)- Agadèz, erguida entre os séculos 15 e 16 às portas do deserto nigerino do Ténéré e classificada em junho pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, lembra com saudade os tempos nos quais o turismo era uma das principais atividades da cidade.

"No final do século passado, Agadèz era uma etapa inevitável para os organizadores do Rali Paris-Argel-Dacar, o que contribuiu para desenvolver o turismo, que é uma das nossas principais atividades econômicas", comentou à Agência Efe Mohammed Agaly, um antigo guia turístico que buscou melhor sorte trabalhando como artesão de couro.

No entanto, as rebeliões tuaregues e os golpes de estado que atingiram o país ao longo da década dos anos 1990 afastaram os 4x4 do famoso rali, que passou por Agadèz pela última vez em 1997, e pouco a pouco foi debilitando o turismo.

"As rebeliões armadas, que começaram nos anos 90, acabaram com nossa principal fonte para ganhar o pão. Os turistas deixaram de visitar nossos monumentos históricos e nosso formoso deserto por medo de serem sequestrados", ressaltou Agaly, antes de acrescentar que as recentes ameaças terroristas ainda pioraram a situação.

No último dia 23 de maio, 25 soldados morreram em um atentado suicida contra o quartel militar de Agadèz.

O ataque, o primeiro dessas características ocorrido no Níger, foi reivindicado pelos grupos Monoteísmo e Jihad na África Ocidental (MYAO) e os Signatários com Sangue, cujo líder é o terrorista argelino Mojtar Belmojtar.

Enquanto terminava de calçar alpargatas de couro, Agaly lembrou o tempo no qual chegavam diariamente à cidade voos de várias cidades europeias com viajantes e turistas curiosos para descobrir os segredos desse antigo enclave comercial.

Em junho, a Unesco incluiu em sua lista o centro histórico da cidade, erguido com tijolos de adobe durante a rebelião tuaregue de Air.

No total, são 11 bairros que se estendem em 70 hectares, nos quais destaca-se a Grande Mesquita e seu mirante de terra que parece desafiar o céu, o Palácio do Sultão, a Casa do Padeiro e a do explorador alemão Henri Barth, que residiu na cidade em 1850.

Segundo o historiador nigerino Djibo Hamani, a origem da cidade, centro comercial entre a África setentrional e a subsaariana, remonta ao século 11.

"A cidade de Air foi uma importante encruzilhada comercial de caravaneiros, um ponto de união entre a África negra e o Magrebe, onde a hospitalidade é um valor essencial entre a população local", disse à Agência Efe a socióloga Sumana Adamu.

Segundo Sumana, seu nome vem da palavra "egdez", que em tamasheq, a língua da comunidade tuaregue que fundou a cidade, significa "fazer uma visita".

"Estes valores favoreceram a eclosão da diversidade étnica nesta cidade, onde vivem etnias como a hausa, a árabe, a kanuri, a sonrai e a peul em perfeita simbiose", acrescentou a socióloga.

Em algumas ruas, é possível perceber algum movimento, mas as patrulhas militares que percorrem a cidade de maneira intermitente seguem lembrando o sangrento atentado de maio.

"Desde que ocorreu o ataque criminoso, que afetou várias famílias, o esquema de segurança na cidade experimentou um reforço excepcional" assegurou Agaicha Ibrahim, que administra uma loja.

Agaicha se sente satisfeito pela presença das forças de segurança. "Estão para proteger nossas vidas e nossos bens dos grupos terroristas", acrescentou este comerciante do velho mercado da poeirenta Agadèz.

EFE   
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