Com 10 anos, projeto de Unique ainda não é ultrapassado, diz Ohtake
Não há como negar que o arquiteto Ruy Ohtake herdou a veia artística da mãe, a artista plástica Tomie Ohtake. Suas construções inusitadas e até polêmicas o levaram a se tornar um dos nomes mais reconhecidos da arquitetura brasileira. Segundo o crítico norte-americano Paul Goldberg, o prédio do hotel Unique, projetado por Ruy, está entre os mais importantes do mundo moderno.
E parece que o ramo hoteleiro é de fato um dos xodós do arquiteto. Durante o evento que celebrou os 10 anos do Unique, Ruy falou sobre a história do edifício, seu prazer em projetar prédios que recebem tantos turistas e do que não pode faltar nos lugares em que ele se hospeda. Quando perguntado sobre os aspectos que todos os hotéis projetados por ele tinham em comum o arquiteto brincou: “todos são superbacanas”. Porém, a fama de Ruy se estende a diversos tipos de construção, como o Instituto Tomie Ohtake e obras para comunidades carentes.
Confira a íntegra da entrevista com Ruy Ohtake:
Terra - O Unique é conhecido por alguns como o hotel barco ou melancia. O que mais você já ouviu que as pessoas enxergaram nesse prédio?
Ruy Ohtake - Uma vez um cara entrou no quarto do Unique que fiz com o piso inclinado e disse “P.q.p! O chão está subindo”. (risos) Já ouvi tudo que você possa imaginar, cada um enxerga uma coisa.
T - Você tinha alguma forma específica em mente quando fez o projeto?
R - Não. Comecei a desenhar, desenhar, desenhar...Existe uma regra na (avenida) Brigadeiro Luís Antônio que permite apenas prédios de até sete pavimentos. E para fazer um hotel com certa presença eu precisava de algo bem maior, mas não podia. Então tive que me virar. Por que o prédio ficou tão bom? Primeiro porque tem uma forma inusitada. Segundo porque tem uma parte de cima com muito mais quartos que a parte de baixo e todo mundo quer ficar na área mais alta. E terceiro porque com a lateral arredondada o prédio ganhou um vazio muito grande. Fazer um prédio de sete andares é simples, há vários, mas um com um vazio assim você não encontra.
T - Houve alguma mudança física no Unique nos últimos 10 anos?
R - Não, ele continua igual ao que foi projetado. E sabe o que eu acho mais legal? Quando chega um hóspede e você pergunta quando ele acha que o hotel foi construído, a maioria responde 'há um ano'. Então, esse aspecto que a gente queria de ele não ser um prédio ultrapassado funciona até hoje.
T - Você também assinou o projeto de outros hotéis, como o Renaissance, em São Paulo, e o Royal Tulip Alvorada, em Brasília. Há algum aspecto que todos os seus hotéis tenham em comum?
R - Todos são superbacanas, que é o mais importante. (risos)
T - E como turista, o que não pode faltar nos hotéis em que você se hospeda?
R - Observo toda a estrutura, arquitetura e mobiliário. Fico de olho em toda na ambientação, seja da parte de fora, do lobby, do quarto...e também tem que ter pessoas bonitas, né? (risos)
T - Você tem planos de fazer outros hotéis?
R - Eu gostaria, sim. Depende de muitas coisas, mas tenho interesse.
T - Por que você gosta de projetar hotéis?
R - Porque tem essa entrada e saída constante a toda hora. Alguns hóspedes ficam só um dia, outros durante semanas, cada um vem de um lugar e todos interagem com o prédio. Isso permite visões muito diferentes e provoca reações variadas nas pessoas. Eu gosto muito disso.