Brasileiro vence concurso internacional com fotografia 360º subaquático
O registro foi feito no Abismo Anhumas, no Mato Grosso do Sul [...]
O fotógrafo Márcio Cabral vai onde nem todo turista consegue chegar. Mas sua fotografia 360º subaquático vai correr o mundo.
Esse brasiliense é o vencedor do Epson International Pano Awards 2024, na categoria VR Photographer of the Year, com um panorama subaquático feito no cenográfico Abismo Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul.
"Estou muito feliz por ter conquistado novamente a categoria VR do Epson PanoAwards. Representar o Brasil internacionalmente é uma honra indescritível", descreveu Cabral, em depoimento para o Viagem em Pauta.
* depoimento exclusivo dado para o jornalista Eduardo Vessoni
Fotografia 360º
Aberto ao público em geral, o Anhumas é uma complexa atração turística que exige fazer rapel negativo (quando não se coloca os pés em nenhum ponto de apoio) para chegar até a plataforma flutuante dessa caverna alagada com entrada e saída verticais.
Do vão estreito onde começa a atividade até a plataforma sobre um lago interior são 72 metros de altura, o equivalente a um edifício de 26 andares. O Buraco, como o atrativo também é conhecido, é considerado uma das maiores cavernas submersas do Brasil.
Mas para ver o que Márcio registrou é preciso ainda mais.
Para ficar de cara com esse surreal mundo subaquático é preciso fazer um mergulho multinível com cilindro (apenas para certificados) que desce até 18 metros de profundidade, em direção a um anfiteatro alagado que abriga cones calcários que repousam dentro do lago.
"A imagem do Abismo foi um verdadeiro desafio, exigindo não apenas um trabalho árduo, mas também a sorte de contar com condições climáticas perfeitas para capturar o raio", conta Cabral para a reportagem.
Panoramas subaquáticos, "verdadeiras obras de arte", são feitos a partir de uma série de imagens capturadas em diferentes ângulos, mas do mesmo ponto de vista. Sem falar no desafio de estabilizar a câmera debaixo d'água sem o uso de tripé, além do risco de sedimentos turvarem a água com qualquer movimento errado.
Entre as dificuldades para garantir o clique, o fotógrafo lembra também que o mergulhador retratado na foto "teve que estar em uma posição precisa, com braços e pernas visíveis, e sem soltar bolhas durante a captura".
Esse brasiliense é considerado o único brasileiro a produzir artisticamente esse tipo de panorama.
Cabral é especializado também em fotos noturnas ou em locais com baixa luminosidade, com registros potentes em destinos como as cavernas de Terra Ronca (Goiás) e na Lagoa Misteriosa (MS).
É de lá, inclusive, que vem outro recorde seu.
Em 2020, ele entrou para o Guinness World Records como autor da maior imagem panorâmica subaquática já feita, um registro na impactante Lagoa Misteriosa, também no Mato Grosso do Sul.
Originalmente, a foto acima tem 826.9 megapixels de resolução, o que equivale a uma imagem com 14,46 metros de largura e 7,23 metros de altura.
Na época, a pós-produção exigiu um trabalho de 30 horas diante do computador para "costurar", digitalmente, as 28 imagens que formam a foto recordista (bem mais tempo do que os breves minutos que precisou para mergulhar nessa lagoa de profundidade desconhecida).
O Epson International Pano Awards, o concurso que Márcio Cabral acabou de levar o primeiro lugar, foi criado em 2009 pelo fotógrafo de paisagem australiano David Evans, com o objetivo de divulgar e premiar fotografias panorâmicas, "um nicho sem grandes investimentos", segundo a organização da premiação.
Em 2024, o brasileiro conquistou também o 3º lugar na mesma categoria com outra foto panorâmica.
Dessa vez, o registro Golden Mountain foi feito em El Chaltén, endereço do clássico Fitz Roy e considerado a capital nacional do trekking, na Argentina.
Em 2023, Cabral foi o único brasileiro vencedor do mesmo prêmio, também na categoria 360.
Para a foto noturna na Chapada dos Veadeiros (GO), esse também geógrafo usou uma câmera especial de astrofotografia.
Seu registro em 360º, feito em junho de 2022, tem como motivo principal uma das plantas símbolos do Cerrado, a "sempre-viva", popularmente, conhecida como "chuveirinho", iluminada em primeiro plano com uma lanterna projetada especialmente para espeleologia e com uma luz "mais macia", a fim de compensar a escuridão do céu.
E como se já não sobrasse beleza natural naquela área protegida de 240 mil hectares, onde Cabral faz esse tipo de imagem, desde 2014, ele ainda finalizou a foto vencedora com uma exibida Via Láctea sobre a silhueta dos morros da região.
Para ver as imagens panorâmicas, acesso o site fotoexplorer.com.