Como é viajar em classe executiva
Assento que vira cama, refeição assinada por chef estrelado e a dádiva de não chegar amarrotado ao destino
Voar em classe executiva é uma das melhores benesses que pode acontecer em uma viagem ao exterior. É daqueles momentos em que ninguém em sã consciência seria capaz de dizer que dinheiro (ou milhas) não traz felicidade. Uma viagem no final de 2023 para Roma com a Ita Airways, empresa 100% estatal que ocupou o lugar da antiga Alitalia, foi a minha estreia na ala esquerda de quem pisa no avião.
A Ita Airways não é a Alitalia com novo nome, faz questão de frisar Emiliana Limosani, diretora comercial da nova áerea. "Somos outra empresa", completa. O passar de bastão aconteceu em outubro de 2021, quando a Ita assumiu as antigas rotas da Alitalia, que passou os últimos anos de operação afundada em dívidas. A nova aérea italiana vem aos poucos renovando a frota e pretende até 2027 ter pelo menos 90% de aeronaves novas. A viagem que eu fiz do Galeão até Fiumicino, em Roma, foi a bordo de um novíssimo Airbus A330-neo, tido como um equipamento até 25% mais econômico e menos poluente quando comparado às aeronaves de gerações anteriores.
Os 30 assentos da executiva têm acesso direto ao corredor. O meu era o 2A, na janela, e a primeira sensação foi de alegria suprema pelo belo minifúndio que coube a mim para aquelas onze horas entre o Rio e Roma.
Uma cama perfeita
A primeira coisa que é preciso se familiarizar na classe executiva é com o controle remoto do assento. Em princípio ele é bastante intuitivo e a partir dos desenhos você consegue navegar as dezenas de regulagens possíveis. Eu já queria de uma vez chegar na posição que é o grande fetiche de quem viaja na executiva, ou na primeira classe, que é tornar o assento uma cama perfeita, a chamada flatbed.
Um clique e o encosto das pernas começou a subir para a vertical, outro clique e o assento avançou para frente, um terceiro clique e o encosto começa a deitar. O assento vai abaixando até ficar praticamente no nível do corredor. Já os meus pés, graças a um cálculo perfeito, encaixou direitinho no buraco que ocupa um pedaço do assento da frente. Mas é claro que isso significou zero incômodo para o meu vizinho do assento 1A porque existe uma divisória que é praticamente um muro de curvas suaves separando as fileiras.
Antes mesmo da decolagem, as comissárias passaram oferecendo suco, espumante e água. Para não queimar a largada, fui de água com gás. Um espaço de alguns centímetros no meu lado direito serviu como mesa de apoio, onde tinha um fone de ouvido bem confortável, uma luminária dimerizável e, enrolado em uma prática nécessaire, um conjunto de seis tubinhos de amenities da marca italiana QC Terme. Na frente do assento tinha a TV e, à direita, um gancho daqueles ocultos para pendurar o casaco. Cobertor e travesseiro também compunham o kit do meu pequeno reinado.
Filmes e gastronomia
O entretenimento de bordo tinha filmes que estavam nos cinemas e também havia uma ótima seleção de produções italianas, mas nenhuma com legenda e raros eram os filmes dublados em português. Selecionei ao acaso o excelente Past Lives, que meses depois estreou por aqui como Vidas Passadas e virou um fenômeno.
Na hora das refeições, o cardápio seguia à risca a tradição italiana da entrada, primeiro prato, segundo prato e sobremesa. Após as luzes de atar cintos se apagarem, você pode pedir o que quiser do cardápio a qualquer momento do voo. O serviço é muito gentil, com toalha e louça brancas, talheres reluzentes, mas ao menos na ida a comida não foi nada marcante.
Já no trajeto de Roma para São Paulo a coisa melhorou significativamente com o cardápio assinado por Gian Pero Vivalda, chef do Antica Corona Reale, um duas-estrelas Michelin que fica em Cervere, uma hora ao sul de Turim. O menu, aliás, honra o norte da Itália e o prato mais gostoso do voo foi o ravioli recheado com abóbora de Mantova com creme de queijo robiola. Deliciosa também estava a seleção de queijos que fechava a refeição, como o trentingrana maturado por 2 anos, o pienza pecorino e o taleggio.
Acredito que dificilmente seja possível ter uma refeição memorável em avião, ainda mais quando o destino é Roma, cidade onde pratos simples na aparência, mas de difícil execução como uma carbonara, atingem o estado da arte em endereços como o Da Enzo, no Trastevere, ou o Al Velavevodetto, no Testaccio.
Mal acostumado / você me deixou
Com isso, digo que a grande vantagem de voar em classe executiva ou primeira classe é não chegar demolido no destino após 11 horas de viagem. Eu praticamente não preguei o olho, mas consegui ler, me esticar e cheguei pronto para turistar. Poderia dizer que isso não tem preço, mas o certo é dizer que vale o preço.
O retorno para São Paulo não foi em um Airbus A330-neo, mas uma aeronave antiga que pertenceu à Alitalia. Ainda que esteticamente seja visível as décadas que separam os dois aviões, a classe executiva ainda é bastante confortável. Uma coisa é certa: daqui para frente será mais difícil trocar um "bom dia", "buogiorno", "buenos dias" ou "good morning" com o comissário e ter que pegar o corredor da direita.
SERVIÇO
A Ita Airways inaugurou em 2023 uma sala vip fantástica no terminal 1 no aeroporto Fiumicino, a Hangar Lounge, destinada a quem embarca em voos domésticos e internacionais dentro do Espaço Schengen. O design italiano é marcante nas poltronas, no moderno balcão do bar e na iluminação. O bufê serve ótima pizza e a coquetelaria é autoral. Passageiros que voam entre Itália e Brasil têm à disposição o Lounge Piazza di Spagna, no terminal 3, que é mais tradicional. As duas salas funcionam entre 6h e 23h e quem não viaja de executiva pode acessar os lounges mediante o pagamento de € 45.
A Ita Airways opera 14 voos semanais entre Rio de Janeiro e Roma e 28 voos semanais entre São Paulo e Roma. De Guarulhos, a tarifa ida e volta para março de 2024 sai a partir de R$ 3.935,31 na classe econômica e, na executiva, desde R$ 13.728,18. Busque passagens para Roma.
Classe executiva X Primeira classe
A primeira classe costuma oferecer níveis de serviço e conforto ainda mais extraordinários que a executiva. Contudo, nos últimos anos muitas aéreas resolveram abrir mão da primeira classe em suas aeronaves para justamente aprimorar ainda mais a executiva. Nas Américas do Sul e do Norte isso de fato é uma tendência, já as aéreas que voam na Ásia, Oriente Médio, Oceania e algumas europeias continuam investindo em boas doses de luxo. Algumas das empresas com maior reputação em primeira classe são a Qatar, a Emirates, a Etihad, a Singapore, a Qantas, a Cathay, a Air France e a Lufthansa. Aqui estão algumas das principais diferenças entre as duas classes:
- Assentos e espaço: Na primeira classe, os assentos são geralmente maiores, mais largos e oferecem mais espaço pessoal em comparação com a classe executiva. A privacidade também costuma ser maior, sendo que algumas aéreas têm verdadeiras suítes.
- Serviço de bordo: O serviço de bordo na primeira classe tende a ser ainda mais sofisticado do que na classe executiva, com uma ampla seleção de bebidas premium.
- Salas VIP e privilégios em solo: Os passageiros de primeira classe muitas vezes têm acesso a salas VIP exclusivas nos aeroportos e até limusines para levar da sala de embarque até a aeronave.
- Entretenimento e amenidades: As comodidades oferecidas na primeira classe podem incluir telas de entretenimento maiores e de alta definição, fones de ouvido mais tecnológicos, kits de amenidades de marcas de luxo, roupões de banho, travesseiros e cobertores de alta qualidade - e até chuveiro.
- Preço: Os bilhetes de primeira classe podem custar pelo menos três vezes mais do que um bilhete na executiva.
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