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Como forte calor pode afetar e até mudar o turismo na Europa

Estudo da Comissão Europeia prevê que ondas de calor levarão viajantes a destinos mais frios. Suécia e Noruega já promovem as "coolcations"

19 set 2024 - 10h43
(atualizado às 12h16)
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Público deve começar a buscar destinos mais frios para as férias
Público deve começar a buscar destinos mais frios para as férias
Foto: Republica/Pixabay

Tendência real ou invenção de marketing? "Acabaram-se os dias de buscas incessantes pelo sol escaldante e pelo calor sufocante", afirma a associação de turismo Visite a Suécia, em seu portal de internet.

Ao contrário da habitual busca por altas temperaturas, a agência sueca aposta em uma nova tendência chamada coolcation, que une as palavras em inglês cool (fresco) e vacation (férias). "Essa tendência reflete o maior desejo dos turistas por destinos com temperaturas moderadas", diz a associação.

A aposta dos suecos é que, em razão do aquecimento global e dos efeitos negativos do calor extremo, cada vez mais pessoas devem optar por destinos turísticos com climas amenos.

A organização de promoção do turismo Visite a Noruega adota um tom semelhante. "Fuja do sol escaldante e do calor intenso", anuncia. "Viaje rumo ao norte para férias de verão refrescantes."

De fato, as mudanças climáticas se tornam cada vez mais perceptíveis nos destinos turísticos clássicos no Mar Mediterrâneo. A Espanha e a Itália, por exemplo, tiveram em 2022 e 2023 os dois anos mais quentes desde o início dos registros.

Na Grécia, a temperatura atingiu altas recordes e a seca extrema acompanhada de incêndios florestais devastaram regiões inteiras na temporada de verão no Hemisfério Norte. Mesmo as previsões mais otimistas de especialistas do clima sugerem que a situação deve ainda piorar nas próximas décadas.

Demanda pelo norte pode aumentar

O fato de que haverá certamente consequências para o turismo é um dos resultados de um estudo do serviço científico da Comissão Europeia divulgado no ano passado, que avalia os prováveis efeitos das mudanças climáticas no turismo até o ano de 2100.

"Observamos um claro padrão norte-sul, com um aumento do turismo nas regiões central e norte e um declínio da demanda nas áreas ao sul". As maiores perdas devem ocorrer na Grécia, Espanha, Itália e Portugal, com aumentos mais acentuados na Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Suécia e Reino Unido, entre outros.

Um estudo recente da Comissão Europeia de Viagens (ETC) sugere que o calor extremo já é um efeito de dissuasão para os turistas, com 75% deles afirmando que já estão se adaptando à crise climática, o que inclui evitar temperaturas extremas.

Não há, porém, provas até agora de que o comportamento turístico esteja de fato mudando. "Na Alemanha, não há tendência rumo aos destinos de férias com temperaturas mais amenas", diz Martin Lohmann, da Associação de Pesquisas sobre Férias e Viagens, que há anos analisa o comportamento dos turistas alemães.

No ano passado, os alemães realizaram quase 65 milhões de viagens, sendo que apenas 3,6 milhões tiveram como destino a Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega. Ao serem perguntados sobre suas preferências de viagem, o tempo quente e ensolarado surge geralmente no topo da lista, diz Lohmann. "Isso, inclusive, aumentou recentemente." Espanha, Itália, Grécia, Croácia e Turquia continuam entre os destinos turísticos mais populares entre os alemães.

Sol e praias como as maiores atracões

No contexto europeu, o quadro é bem parecido, com os países ao sul do continente sendo bastante procurados.

Segundo a ETC, mais de 300 milhões de viajantes passaram férias no sul da Europa no ano passado. No norte europeu, por outro lado, os números estiveram somente um pouco acima dos 80 milhões. Segundo o ETC, "sol e praia" são, de longe, os principais motivos citados pelos turistas na Europa para viajar.

Os países escandinavos vêm observando há anos um aumento no número de turistas, embora o mesmo ocorra na Espanha e na Itália - apesar das fortes ondas de calor.

Procuradas pela DW, as associações de turismo, tanto na Suécia quanto na Noruega, não confirmam a autodeclarada tendência rumo à coolcation.

Sabine Klautzsch, da Visite a Suécia, diz ser difícil afirmar se há, de fato, uma procura maior por destinos de férias em locais de clima mais amenos.

Margrethe Helgebostad da Visite a Noruega, por outro lado, aponta diversos fatores que influenciam o aumento da demanda, como taxa de câmbio favorável da coroa norueguesa para os turistas estrangeiros e uma boa campanha de marketing.

Tendência que não pode ser comprovada

É exatamente disso que se trata a coolcation, diz Peter Zellmann, diretor do Instituto de Pesquisa sobre Lazer e Turismo de Viena (IFT). "É uma invenção de marketing", afirma. "O desejo é claramente o pai da ideia, nesse caso."

De qualquer forma, não é possível comprovar uma tendência, apesar de a região norte e os Alpes certamente poderem se tornar alternativas para os turistas, caso o Mediterrâneo se torne insuportavelmente quente.

"Ainda estamos muito longe disso", observa o pesquisador Martin Lohmann. "Mas é bem possível que isso se torne um tema mais relevante no futuro."

Para ele, no entanto, uma mudança no fluxo de turistas em razão das mudanças climáticas ainda deve levar décadas para acontecer.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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