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[crônica] Nu e desarmado numa praia naturista

Como é visitar uma praia naturista [...]

27 ago 2024 - 09h30
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Essa história de ficar peladão em praia de naturismo não é para os fracos. Muito menos para jornalistas nus e (des)armados com câmera fotográfica.

Fui convidado para conhecer a primeira praia de naturismo do Nordeste, na Paraíba.

Mais do que isso, fui embebedado, antes de ser convencido a tirar a roupa em Tambaba, em um processo de persuasão que se deu num restaurante de praia, onde a proprietária tentou me tranquilizar com uma ébria sequência de caipirinhas.

Não que praticantes de naturismo precisem recorrer a bebidas alcoólicas para se entregar às delícias de se integrar à natureza, mas pode ser uma boa ideia para jornalistas urbanos acostumados a trabalhar metidos em calças e camisas.

Primeiro, a de limão, logo a de uva, outra de cajá e uma quarta que eu já nem sabia do que era. Por mim, eu tirava a roupa ali mesmo.

Conde, município no litoral sul da Paraíba
Conde, município no litoral sul da Paraíba
Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Numa praia naturista, as regras são claras: homens desacompanhados não entram e quem cruza o portão de acesso deve, obrigatoriamente, estar sem roupa.

Minha anfitriã e eu paramos na recepção que separa o trecho frequentado pelos que não vão tirar a roupa e os outros 500 metros exclusivos para o naturismo.

"Posso entrar com câmera? Sou jornalista e blá blá blá", enrolei com um discurso confuso que tentava esconder minha nudez vestida. Do outro lado do balcão, a moça correu os olhos até a minha câmera jogada sobre o balcão, antes de disparar:

"Poder, você pode. Só não sei se vai conseguir esconder essa câmera aí", respondeu, apontando o queixo para a teleobjetiva.

Arrisquei.

Cruzamos a trilha de mata fechada, uma espécie de fronteira ideológica que separa os vestidos dos nus, e saímos no paraíso dos naturistas, uma faixa de areia curta, recortada por pedras e coqueiros altos.

Entrei na praia com minha anfitriã paraibana. Eu, nu. Ela com roupa. Demos meia dúzia de passos e um casal de idosos nos abordou.

"Por que você está com roupa?", perguntaram para ela.

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Deu até para ouvir a engolida seca da minha acompanhante vestida, antes de disparar alguns argumentos que não convenceram os naturistas. A anfitriã teve que se retirar, em plenas terras paraibanas, onde nascera, nua.

Tambaba se exibe em sua forma mais natural, sem qualquer moralismo ou preocupação com curvas corporais. Tem jovens, adultos, crianças, casais de idosos, magros e outros nem tanto. Só não pode ir vestido.

Eu fiquei ali, sozinho, pelado e com uma câmera na mão. Eu não podia deixar a pauta morrer na praia e entrei devagarzinho, depois que deixei a câmera com a assessora que me espiava na passarela de madeira de acesso à praia.

Corri até o mar e dei aquele que seria um dos meus mergulhos mais espontâneos (e livres) da vida.

"O bichinho correu todo solto que nem um passarinho feliz", soltou a proprietária do restaurante que também me fitava ao longe, na área dos vestidos. Sem piadinhas, caro leitor-duplo-sentido.

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Peguei a câmera de volta e fui para a areia.

Dois ou três cliques discretos, sempre com o cuidado de não registrar ninguém, até ser surpreendido por um homem, furioso, com tudo balançando no mesmo ritmo apressado de quem queria me impedir de trabalhar.

Abaixei a câmera e iniciei a listar minhas intenções por ali, que eu era jornalista em missão oficial a convite do órgão de promoção do turismo paraibano e mais um blá blá blá inútil.

Logo se armou uma discussão de peladões, acalentada por mais um que chegou se apresentando como o gerente da praia. Em poucos minutos, um bando de homens, com tudo à mostra, protagonizava uma discussão com direito à plateia (nua, só para deixar bem claro) que me olhava de longe.

A discussão já beirava o insuportável. Mais uma troca de argumentos e decidi deixar o local.

Voltei de cabeça baixa para a passarela de acesso e contei o que tinha acontecido. E sem nenhum pudor, como deve ser entre quem frequenta aquelas terras despidas, a dona do restaurante disparou:

- "Coitado do bichinho, não tem nem uma manchinha na pitoca e ainda é tratado assim."

Me senti nu com o comentário.

Foto: Arquivo Pessoal / Viagem em Pauta
Viagem em Pauta
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