Casal viaja quase 6 mil km de fusca pela América do Sul
Degustação de vinhos, praia e noite nas Cordilheiras dos Andes compuseram a aventura a bordo de um clássico branco de 1972
Ele ainda não tem um nome, personalidade ou foi astro de um filme como Herbie, mas o fusquinha branco 1972 com motor original e um pouco de ferrugem virou atração, foi clicado e ganhou até fãs no último mês. “Na Argentina não tem fusca, as pessoas tiravam fotos e acenavam quando a gente passava. Uma pessoa pediu para entrar no carro e teve um homem que pediu para comprar o carro na hora, no caminho para Mendoza”, contou a jornalista Alessandra Toniazzo. Ela e o namorado, o engenheiro mecânico Alexandre Carrard Rodrigues, percorreram 5.756 km pela Argentina, Uruguai e Chile em 20 dias, na companhia do clássico automóvel.
A ideia surgiu de forma inesperada, o casal namorou à distância por três anos e nunca havia viajado junto. O planejamento durou quase quatro meses: “pesquisamos estradas, hostels, passeios e tudo o que a viagem precisava”, contou. O fusca ganhou bancos mais espaçosos, encostos para a cabeça, dois estepes, cintos três pontos, aquecedor e a Carta Verde, seguro obrigatório para circular no Mercosul. Os dois partiram de Horizontina (RS) no dia 20 de setembro e Alessandra criou uma página no Facebook para registrar cada momento da viagem, que seguiu por Villa Carlos Paz, Mendoza, Santiago, Valparaíso, Buenos Aires, Colonia del Sacramento e Cordilheira dos Andes.
Para quem acha que um fusca é velho demais para viver uma aventura, se engana. É certo que, segundo Alessandra, os frentistas dos postos apanharam um pouco para descobrir como abastecer o carro, porque o tanque fica na parte da frente, mas, quanto ao desempenho, eles não têm do que reclamar. “Só quando a gente passou dos 3 mil metros de altitude, que ele (o fusca) quis aproveitar a paisagem e foi um pouco mais devagar”, contou a jornalista.
Antes de definir o fusca como companheiro de viagem, eles pesquisaram o custo benefício de viajar de avião e ônibus. “Gastamos 488,2 litros de gasolina, mais ou menos R$ 1.400”, contou, mais cerca de R$ 200 em pedágios. “Todos os trechos que fizemos sairia mais de R$ 2.500 só em passagens para cada um”, estimou Alessandra. Além do ponto financeiro, com o fusca eles puderam conhecer os lugares com mais liberdade, interagir com mais pessoas além de estreitar a relação: “éramos só nos dois e o fusca, que não fala, nem opina”, disse ela.
Trajeto sobre quatro rodas
A escolha do roteiro foi baseada no gosto pelo vinho e tem como cidades principais Mendoza e Valparaíso. A primeira parada foi na cidade Parana, na Argentina, apenas para passar a noite. No dia seguinte, o casal seguiu até Villa Carlos, uma cidade pequena à beira de um lago e só então seguiram para Mendoza, onde passaram três noites. O que Alessandra mais gostou na cidade foi o “passeio de bicicleta pelos vinhedos, com direito a almoço e vinhos. "Foram seis horas de pedalada entre Chandon e Rucca Malem”, contou. Além da vista das Cordilheiras dos Andes, eles aprenderam a degustar e a aproveitar os aromas dos vinhos.
Rumo a Santiago, Alessandra, Alexandre e o fusca atravessaram toda a Cordilheira em um dia ensolarado, um percurso que levou nove horas – é possível fazer em cinco - com todas as paradas para fotos. A metrópole chilena era apenas um ponto de parada para o verdadeiro destino no país: Valparaíso, onde visitaram as casinhas coloridas do local. Com objetivo cumprido, chegou a hora de voltar, mas para aproveitar ainda mais a viagem eles decidiram fazer um novo caminho. “Tivemos que dormir uma noite em cima das Cordilheiras para conhecer o Uruguai”, contou. “Pegamos -3 °C e o fusca ficou todo coberto de neve”.
O acesso à montanha é feito por cerca de 30 curvas e é repleto de mudanças de paisagens, ora neve, ora rochas marrons: “é uma obra de arte”. Buenos Aires ficava no caminho, então, eles passaram três dias na cidade portenha. Atravessaram de barco para Colonia Del Sacramento, no Uruguai, lugar “ideal para terminar a viagem em grande estilo”, contou Alessandra. O casal e o fusca retornaram ao Brasil no dia 10 de outubro, mas já têm planos de conhecer a Patagônia na próxima viagem.