O lado B do deserto: 3 trilhas alternativas no Atacama, no Chile
No deserto mais árido do planeta, no norte do Chile [...]
A recomendação veio de longe, de um atacamenho que mora nas terras frias de Chiloé.
"No deserto, aprenda com o silêncio para saber quem é você, com as estrelas (para lembrar onde você está) e com os vulcões que protegem a Cordilheira".
No endereço mais árido do planeta, céu estrelado sobre cenário montanhoso e silencioso, há tempos, não é mais novidade, sobretudo para a massa de brasileiros que invadiu São Paulo de Atacama (ops, San Pedro de Atacama, cidade que serve de base para quem visita a região).
Mas o seu deserto não precisa ser igual ao de todo mundo.
Muito além de salares e vales lunares, tem um Atacama diferente que você pode conhecer em trilhas alternativas por áreas menos turísticas.
Meu roteiro nessa quarta vez em San Pedro de Atacama teve trilha alternativa até a famosa Grande Duna do Valle de la Luna, visita a uma cidade abandonada, em meio aos Andes, e uma caminhada exigente por cânions de alta concentração de animais selvagens.
TRILHAS NO ATACAMA
Trilha Copacoya
4.400 de altura / 8 km de extensão / dificuldade alta
Quando os turistas deixam os Gêiseres do Tatio, onde acontece o café da manhã com cheiro de enxofre, começa essa caminhada que circunda a montanha que dá nome à trilha, na parte posterior das famosas fumarolas desse campo geotérmico, a 90 km ao norte de São Pedro.
"Este é um lugar muito remoto que poucas pessoas conhecem", avisa o guia Tomás Larraín, enquanto a gente caminha por uma trilha de paja brava, em meio a um vale que rasga os Andes.
A atividade é exigente, mas serve como aclimatação para quem vai encarar atrativos mais radicais como as subidas dos vulcões Toco e Licancabur.
Em cerca de 5h de trilha e muita variação de altitude, é possível avistar vales profundos, cânions e curiosas formações rochosas que reforçam a fama do cenário extraterrestre do Atacama. Em plena Cordilheira dos Andes, é como sair dos pampas gaúchos de montanhas verdes e chegar ao alaranjado deserto do Grand Canyon estadunidense.
Humanos são raros por ali, mas a vida animal na trilha é abundante, com altas chances de ver grupos de vicunhas (camelídeos andinos) e vizcachas, um roedor parecido às chinchilas.
E se tudo é, exageradamente, tão lindo, por que quase ninguém conhece?
"É difícil, é remoto e as agências preferem passeios mais massivos pois não requerem guias especializados", explica Larraín.
Mas pode vir que é lindo. É puxado, mas é lindo.
VEJA VÍDEO
Trilha Machuca-Río Grande
12 km de extensão / 5 horas de caminhada / dificuldade média-alta
O minúsculo povoado de Machuca despontou para o turismo com serviços para atender quem volta dos Gêiseres do Tatio, mas também pode ser ponto de partida para outra caminhada pouco explorada no Atacama.
Com início a 45 km de San Pedro e a 49 km do Tatio, a trilha segue pelo curso de água do rio Peñarili, passando por antigos campos pastoris, cânions e até por um povoado abandonado.
A caminhada tem início a mais de quatro mil metros e segue por terreno com variação de altitude e mudanças de cenários, conforme se desce, em direção a Río Grande.
Quase no final da travessia, a cerca de 4,5 km de Río Grande, o povoado de Peñarili é o destaque da trilha. Nessa comunidade é possível visitar algumas das casas de pedras vulcânicas, abandonadas nos anos 90.
Trilha Los Achaches
45 minutos de caminhada / dificuldade baixa
Não tem como escapar. O Vale da Lua é um dos atrativos naturais mais populares do Atacama.
Mas em vez de estar no mesmo lugar onde vão todos os turistas para acompanhar o pôr do sol, essa trilha curta e sem muita dificuldade é indicada para ver a parte de trás da Gran Duna.
"Aqui temos a oportunidade de ver o que nem todo mundo vê", avisa o guia Nicolás Ziliotto.
A caminhada pelo terreno arenoso do Vale da Lua acontece dentro da Reserva Nacional Los Flamencos, uma área de quase 74 mil hectares que abriga também outros clássicos do Atacama, como o Salar do Atacama e as lagoas Miscanti - Miñigues e Chaxas.
Antes da trilha, dá para visitar também o mirante com estrutura como mesas e cadeiras com vista para as cordilheiras dos Andes, do Sal e a de Domeyko.
* O Viagem em Pauta viajou a convite do hotel Tierra Atacama