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Paris é infinita (parte 1)

A Cidade Luz, Lelouch, Truffaut, Bunuel, Bertolucci e Hemingway

29 jul 2024 - 06h00
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Foto: Léonard Cotte / Unsplash

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Os Jogos Olímpicos de Paris começaram nesta sexta, então nada melhor do que esquentar os leitores com informações sobre a cidade.

São tantas histórias nessa cidade mágica que resolvi dividir em duas partes.

A primeira cobre minha primeira visita solo em 2003 e a lua de mel em 2005. Na segunda parte, os causos são de 2007 com meu cunhado e sua trupe, e depois em 2012 numa viagem em família.

Paris é magnética e parece ser uma espécie de obsessão da maioria dos turistas. Com razão, já que a cidade tem tanta história, cultura, artes e gastronomia concentradas num pequeno espaço.

A playlist “Paris Vibes” é uma preciosidade para ser ouvida várias vezes. De preferência acompanhada de um bom vinho e um cobertor de orelhas.

Som na caixa e c’est la vie!!!

Paris é infinita – e magnética

A primeira vez é difícil de esquecer. Em agosto de 2003 eu fiz a última perna da minha viagem iniciada dois meses antes em Berlim após seis semanas de intercâmbio técnico.

Depois de um giro pela Rep. Tcheca, Viena, Alemanha e Amsterdam, programei cinco dias na Cidade Luz. Sozinho e Deus com uma lista de lugares para visitar, o que mais eu poderia querer?

Da Gare du Nord até Pigalle a cidade muda bastante. A nata da malandragem local era de africanos enchendo as ruas. Meu hostel era o que se esperava pelo preço. Um quarto com nove beliches e um banheiro. Por sorte, consegui a cama de cima do único que ficava encostado na parede, isolado dos outros oito.

O plano era acordar bem cedo, tomar café na rua e seguir o roteiro programado. Voltar o mais tarde possível, tomar um banho e apagar. No dia seguinte, tudo de novo.

De Pigalle ao Arco do Triunfo de metrô, descendo pela Xânzêlisê, vulgo Champs-Elysées, os campos elísios parisienses, eu parava no primeiro McDonalds para o desjejum de um estudante com dinheiro curto no final da viagem.

Fiz os passeios tradicionais, cruzei a belíssima ponte Alexandre III passando pela estátua do Churchill logo em frente ao Grand Palais e sua soberba cúpula em aço e vidro. Seguindo até a Place de la Concorde, fiz questão de ir até a sede da FIA, a Federação Internacional de Automobilismo, na esperança de cruzar com o Max Mosley, então presidente, e chamá-lo para um café.

Do Jardim de Tuileries, passando entre o Jeu de Paume e o L’Orangerie, avista-se de longe a pirâmide de vidro em frente ao Louvre. Passei uma tarde ali imaginando o cardeal Richelieu habitando e confabulando no portentoso complexo de edifícios que compõem o museu mais famoso do mundo.

Monalisa estava lá, existe mesmo e é decepcionante. Mas os Van Gogh, Renoir, Matisse e Chagall valem cada minuto. Sem falar nas esculturas e sessões temáticas.

No dia da visita à La Tour, segui até os Invalidès para bater continência ao Napoleão. Logo ao lado o Museu Rodin com um jardim pipocando de esculturas maravilhosas, inclusive O Pensador. Um deslumbre.

A arquitetura e parte externa do Pompidou já valem a visita, mas o interior é uma experiência única. O pequeno estúdio com esculturas romeno Brancusi logo em frente é uma grata surpresa.

O Museu Picasso é obrigatório para quem gosta de Arte. A fase azul está ali, esculturas, rascunhos, cartas, memorabília. Dali segui para Montmartre fechando o circuito e refazendo os caminhos do mais famoso dos artistas que ali viveu nos anos 1920.

Fechando com chave de ouro, paguei uma visita ao Rei Lagarto, Jim Morrison, no cemitério Pére Lachaise. Uma peregrinação de fãs, hippies e admiradores colocava velas, cantava e bebia em frente à lápide do roqueiro que morreu em Paris e virou lenda.

Na noite de Pigalle todo cuidado é pouco. Quase caí na lábia de uns malandros e de senhoritas da noite, mas escapei por pouco.

Lua de Mel

Em dezembro de 2005 alugamos uma lata de sardinha na Rue de la Rochelle para curtir o casório e a cidade mais romântica do mundo.

Estava nevando, coisa rara em Paris. Arrastamos malas pelas ruas, Ela machucou as mãos, o dinheiro continuava curto, mas o Amor estava no ar e a vontade de aproveitar a cidade era enorme.

O Museu d’Orsay fica numa antiga estação ferroviária. Me lembro do Portão do Inferno criado por Rodin. Uma obra magnética e eterna.

Na tarde do último dia flanamos por St. Germain e seus famosos cafés. As patisseries parisienses são de cair o queixo. Você fica como um cachorro diante daqueles espetos girando com frangos assados apetitosos. Come os doces com os olhos pra depois devorar mesmo, sem dó nem piedade. Se tiver um café acompanhando então!

E o croissant? Parem o mundo!

Tanto nos cafés quanto nos restaurantes você vai se encontrar com um famigerado personagem de Paris: o garçom. São insuportáveis, arrogantes, toscos e estão cagando e andando pra você. É tanto turista o tempo todo que fazer um bom serviço pouco importa. Sempre terá um incauto pra sentar e consumir.

Uma certa vez fomos tão bem atendidos que resolvemos perguntar de onde aquele ET era. “De Paris”, respondeu naturalmente. Pedimos pra ver a identidade e comprovamos o impossível: Paris tinha um, pelo menos um, garçom simpático e atencioso.

O Hotel de Ville, a prefeitura de Paris, e a esplêndida Place de Vosges com sua simetria perfeita, são outros lugares que merecem ser vistos.

Pra fechar, a Notre Dame. Sou fanático por catedrais. Não pelo caráter religioso, mas pela arquitetura e obras de arte ali contidas. Os famosos gárgulas da principal igreja de Paris são apenas um dos tantos detalhes que fazem desta uma obra de Arte inigualável. Após o incêndio, espero que restaurem o quanto antes.

Estive também na Saint Sulpice que aparece no livro “O Código da Vinci”. Tentei achar as marcações no chão, a rosa dos ventos e outros detalhes, mas nem tudo estava lá. Assim se faz literatura, com muita imaginação.

Nunca fui ao Canal de St. Martin e sei que lá o consagrado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, radicado em Paris desde 1976, mantém o seu ateliê. Falha imperdoável e um bom motivo pra voltar.

C’etait un Rendezvous / Claude Lelouch (1976)

Uma Mercedes com som de Ferrari

Muitas histórias sobre esse filmete underground. Diziam que era uma Ferrari rasgando Paris pela madrugada, filmado na clandestinidade em agosto daquele ano quando os parisienses fogem da cidade durante as férias de verão.

Na verdade era uma Mercedes 450 SEL 6.9 V8 e o som de uma Ferrari 275 GTB foi inserido depois para dar mais charme e autenticidade. Dizem que o piloto era um ex-Fórmula 1 de identidade até então desconhecida. Por se tratar de Paris nos anos 1970, desconfia-se que Jean Pierre Jabouille estivesse ao volante do bólido. Jamais saberemos.

Pode ter sido o próprio diretor, Claude Lelouch, que fez o filme como uma lembrança de uma época de loucuras e coisas proibidas típicas da juventude.

Após o lançamento, o diretor foi preso e o filme proibido permanecendo muitos anos no underground. A própria United Artists informa que ‘C’était un rendez-vous’ é um documentário ilegal e intransigente.

Teve uma bandinha pop, acho que foi o Snow Patrol, usou este vídeo num clip. Não perca tempo assistindo.

Se você quer fazer um city tour em alta velocidade por Paris, aperte os cintos aqui!

E veja também este curto documentário mostrando bastidores de como fizeram o filme.

Pra ver e ler

FILMES: Cinco Filmes passados em Paris (são tantos que é impossível escolher apenas um).

Além dos já batidos “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", “Meia Noite em Paris” do Woody Allen e “Os Intocáveis” sobre a amizade improvável do cuidador africano com um milionário cadeirante francês, Paris sempre foi cenário e fonte inesgotável de bons filmes.

Selecionei cinco películas para não cansar demais o leitor.

La Vie en Rose / Olivier Dahan (2007) – Marion Cotillard garantiu sua carreira neste filme. Atuação marcante como Edith Piaf, a grande cantora francesa famosa no mundo inteiro. 

Paris, je t’aime / vários diretores (2006) – Uma coletânea com 21 curtas de 5 minutos cada feita por diretores consagrados. Nomes como Walter Salles, Alfonso Cuarón, Gus Van Sant e Wes Craven e atores igualmente famosos como Natalie Portman, Juliette Binoche, Elijah Wood, Nick Nolte e Willem Dafoe, nos levam pela cidade e seus recantos. Binoche está deslumbrante, como sempre. 

Jules et Jim / François Truffaut (1962) – Talvez o maior clássico da Nouvelle Vague francesa, pra desespero de Goddard. Jeanne Moreau...

Belle de Jour / Luis Bunuel (1967) – Catherine Deneuve nunca esteve tão linda numa tela de cinema.

Último Tango em Paris / Bernardo Bertolucci (1972) – Marlon Brando, Maria Schneider, um apartamento vazio e um pouco de manteiga. O resto é história...

LIVRO: Paris é uma Festa - Ernest Hemingway (ANO). O privilégio de passar a juventude em Paris.

“Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante.”, disse Ernest Hemingway a um amigo em 1950.

As memórias de um jovem Ernest na década de 1920 iniciando sua carreira de escritor na melhor cidade para se estar nessa época da Vida.

Hemingway e sua jovem esposa Hadley eram recém casados, sem dinheiro e com muita vontade de viver e explorar Paris. Flanamos pela cidade junto com suas amizades do quilate de Ezra Pound, Gertrude Stein e sua companheira Alice B. Toklas, F. Scott Fitzgerald e sua Zelda, Picasso, James Joyce entre tantos outros.

Sua rotina era escrever de manhã, almoçar num restaurante geralmente acompanhado de um ou vários amigos, sempre bebendo bastante, depois continuar escrevendo à tarde, jantar com a esposa em seus lugares preferidos e, quem sabe, esticar até a casa de alguém ou alguma festa.

O dinheiro era contado para o aluguel e o básico. Ernest teve uma Vida bem melhor do que George Orwell quando viveu na Cidade Luz e relatou tudo em “Na Pior em Paris e Londres”.

O jovem Ernest tinha dois objetivos básicos: ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade a si próprio. Em Paris que ele desabrochou, conheceu gente famosa, aumentou seu círculo de amizades e influências e pavimentou o caminho do que estava por vir.

Este livro de memórias publicado postumamente, iniciado em Cuba no outono de 1957, burilado no inverno de Idaho entre 1958-59 e finalizado novamente em Cuba em 1960, cobre o período de 1921 a 1926 em Paris.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, sonha em morar no Canal de St. Martin, e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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