"Toda viagem transforma": Sarah Oliveira indica músicas para viajar
Recentemente, a apresentadora esteve no Festival de Montreux, na Suíça [...]
Sarah Oliveira é tão eclética quanto um line-up do Festival de Jazz de Montreux.
Numa mesma entrevista, vai de Amy Winehouse a Pink, do pop ao indie rock, passando pelo Órgão do Mar, na Croácia, até chegar num sambão na festa de bodas de latão do Péricles.
Recentemente, o Viagem em Pauta conversou com a apresentadora numa chamada de vídeo que começou no carro, caiu quando ela entrou no elevador e (ufa!) terminou no sofá da casa dela. Nosso pedido era de três indicações de álbuns para viajar. Mas, generosa que é, finalizou com uma faixa bônus para cair na estrada.
"Não existe a possibilidade de viajar sem música. Toda viagem transforma e toda transformação que eu passo é permeada pela música, não tem jeito", contou para a reportagem.
Sarah Oliveira dá dicas de músicas para viajar
Recentemente, Sarah realizou um sonho. Um, não, três: pessoal, profissional e musical.
No último mês de julho, pela primeira vez, a apresentadora desembarcou no Festival de Jazz de Montreux, na cidade suíça homônima, aos pés dos Alpes. Durante o verão europeu, essa antítese de um país minúsculo se agiganta nesse que é um dos maiores festivais musicais do planeta, às margens do Lago Léman.
Em 2024, a 58ª edição do evento foi do soul funkeado de Lenny Kravitz ao trip hop viajandão da banda Massive Attack; do eletrônico fofo do Air ao hard rock de Alice Cooper.
"Eu estava muito feliz, parecia uma criança. Que delícia que foi estar ali, viver aquela história", descreveu a apresentadora de outras delícias como 'Viva Voz' e 'Calada Noite', antigos programas do canal GNT.
Sarah, que confessa não ter playlist montada, exceto a de pesquisa para seu programa 'Minha Canção', na rádio Eldorado, foi criando a sua só de entrar na lojinha do festival de Montreux. Aliás, quem já passou por ali sabe dos perigos que é circular entre souvenirs personalizados, pôsteres de outras edições e LPs dos mais variados artistas, em franco suíço.
"Os vinis estavam divididos por gêneros: Blues, Jazz, Rock, África e… Brasil. Que moral, né?", comemora, depois de ver na bancada opções de discos de Djavan, Caetano e Elis.
Uma música foi puxando a outra e, zás, Sarah tinha sua playlist versão Montreux.
Tamanho não é documento
Na lojinha do festival tudo é tão variado quanto a Suíça do lado de fora.
"É pequenininha, né? Eu gosto muito dessa coisa multicultural, diferentes paladares, diferentes culturas, diferentes músicas. Inclusive poderia ser uma trilha [sonora] para cada parte do país", sugere Sarah, emendando no assunto seguinte.
"Você viu o Phoenix ontem no encerramento da Olimpíada? Foi demais, foi lindo", disse Sarah Oliveira, fã desse quarteto francês, tal qual o editor deste Viagem em Pauta.
Mas como a gente veio aqui para ouvir, e não para ficar conversando na pista, confira as três dicas para viajar que Sarah, coincidentemente ou talvez tomada pelo recente protagonismo feminino da Olimpíada de Paris, escolheu com mulheres pretas, transgressoras e de formação musical na igreja.
"Eu acho que a música preta é o que rege tudo", define.
Live at Montreux, 1976
Nina Simone
"Acho o disco mais lindo dela, é maravilhoso. A hora que ela canta 'My Baby Just Cares for Me' é um negócio delicioso", descreve.
Para a apresentadora, esse registro "é um clássico, icônico, absoluto, topo da lista dos melhores discos do mundo, ever". Amém, Miss Simone!
Para viajar: "Eu recomendo [esse álbum] para qualquer viagem. Para a estrada é uma delícia. E, no caso da Nina, é Montreux, é Suíça."
My 21st Century Blues
Raye
Essa cantora e compositora era uma das artistas do line-up da edição de 2024 do Festival de Jazz de Montreux.
"[Antes de viajar] mergulhei nesse álbum porque eu era apaixonada pela faixa 'Worth It'", conta Sarah, para quem essa britânica é uma "mina arretada com umas letras fortes".
E qualquer semelhança com Amy Winehouse é pura inspiração. Quando a apresentadora começou a ouvir Raye, percebeu a pegada Amy das faixas (não à toa ambas são da região de Londres, lembra a brasileira).
Óbvio que, por isso, ela [Raye] tem tanta influência na Amy, que é uma coisa dos pretos, das influências para a Amy, como Etta James, Aretha Franklin e, principalmente, Minnie Riperton".
SARAH OLIVEIRA - apresentadora
Para viajar: Sarah sugere as animadas faixas do álbum 'My 21st Century Blues', "mais baladinhas", para uma road trip como a que ela fez para a Croácia com o irmão, o cineasta Esmir Filho.
Aliás, esse diretor já esteve aqui no site quando sua série 'Boca a Boca' foi lançada com uma trilha synth-pop-rural, na Netflix, em 2020; e, mais recentemente, no aniversário de 18 anos do avô dos vídeos virais, 'Tapa na Pantera'.
"Para você ver como música boa fica, é eternizada. Na Croácia, só tocava Amy, parecia que era a cantora preferida dos croatas", aposta Sarah.
Dirty Computer
Janelle Monáe
Diferente das outras sugestões, essa é a dica mais dançante, cujo show em Montreux teve homenagens a Prince e Michael Jackson.
"Esse álbum é uma ode ao Prince e tem a música 'Make me Feel', que eu acho um hit absurdo", se empolga cantarolando um tan nã nã que seus filhos Chloé e Martin também adoram.
Inclusive, dizem as más línguas (e não é a da Sarah), que a abertura de Janelle Monáe, no show de Amy Winehouse, em São Paulo, em 2011, foi melhor que o da própria atração principal.
Para viajar: Sarah recomenda esse álbum para ir em eventos com músicas ruins, como a Lake Parade, espécie de parada com desfiles de carros ao som de techno, que ela e o irmão viram em Genebra, também na Suíça.
"As pessoas eram ótimas e estavam muito animadas. Mas não estava legal aquela espécie de Carnaval com remix de funk. Se tocasse 'Dirty computer', a galera ia à loucura, só de começar a intro da faixa 'Make me Fell', propõe.
Por ser mais "para pista de dança", Sarah também recomenda o álbum para quando bater aquele sono ao volante, durante uma dessas viagens por estradas compridas. "É muito animado, é muito bom", diz.
Já Nina Simone é uma espécie de mãe tanto para Janelle Monáe como para Raye, artistas que reverenciam a ancestralidade e todas as outras mulheres que já passaram por Montreux, na definição da apresentadora.
"São três gerações diferentes, autorais, compositoras e multi-instrumentistas que perpetuam a importância da mulher na música", finaliza.
Faixa bônus da Sarah Oliveira
E por falar em mulher, a estadunidense Pink é a artista da faixa bônus que Sarah indicou. Isso porque na mesma trip pela Croácia, o Parque Nacional dos Lagos de Plitvice foi uma das paradas da brasileira, perto da fronteira com a Bósnia.
Nesse Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, para onde se olha, tem uma cachoeira. É monumental, é exagerado e é fabuloso. E, no caso da Sarah, é Pink.
Foi com essa cantora (no fone de ouvido) que ela visitou o primeiro e maior parque nacional da Croácia, conhecido pela sequência de 16 lagos conectados por cachoeiras, em que o visitante caminha sobre passarelas de madeira que cruzam lagos, em diferentes níveis do parque.
"Eu anunciava 'Just Like a Pill' no Disk [MTV] todo dia", lembra Sarah, uma das apresentadoras desse programa com os videoclipes mais votados pelos telespectadores do saudoso canal de música.
E dá-lhe Sarah rodinha nos pés e uma(s) música(s) na cabeça.
"Por isso que eu digo que na música não existe gênero, até porque depois [dos Lagos de Plitvice] eu fui lá no Péricles, um sambão em que fiquei até de madrugada", se diverte com o próprio caos, como ela mesma definiu a sequência de experiências opostas, no mesmo dia em que voltou da Croácia.
Toca mais uma
A música é tão parte da vida de Sarah Oliveira que até onde não se espera tem algo para ouvir: o mar (outra das suas paixões).
Nessa mesma viagem para a Croácia, ela e o irmão estiveram em Zadar, uma espécie de museu a céu aberto com arquitetura medieval, às margens do mar Adriático. Porém, mais do que por suas 24 ilhas, a cidade é conhecida pelo inusitado Órgão do Mar (Morske orgulje, em croata).
Essa instalação do arquiteto Nikola Bašić produz um som criado pelo movimento da maré nos 35 tubos de diferentes comprimentos e diâmetros, ao longo de setenta metros da orla de Zadar, sob a escadaria de mármore do calçadão da cidade.
Diz a lenda que foi nesse destino que o cineasta Alfred Hitchcock confessou ter visto o final de tarde mais bonito do mundo.
E, pelo sorriso na foto, deve ter sido também um dos preferidos da Sarah.
VEJA VÍDEO DO ÓRGÃO DO MAR
* O jornalista Eduardo Vessoni escreveu esta matéria ao som dos álbuns "Wolfgang Amadeus Phoenix" (Phoenix), "Moon Safari" (Air), "The English Riviera" (Metronomy) e "Sun Structures" (Temple).