Igreja panamenha foi salva de pirata por truque de química
Em 1671, o pirata galês Henry Morgan atacou a primeira colônia fundada pelos espanhóis no Panamá – área hoje conhecida como Panamá Viejo. Durante vários dias, Morgan saqueou os principais pontos da cidade, espalhando o pânico pela região. Diante da ameaça, reza a lenda que um monge local teve uma ideia mirabolante para proteger o altar da Igreja de San José, todo folheado a ouro: pintar a peça de preto, para convencer o pirata de que se tratava de um objeto sem valor.
A tática, dizem, funcionou bem até demais. Além de não roubar o altar, o pirata doou dinheiro para a igreja. É que os religiosos locais aplicaram uma solução de óxido de prata que cobriu a peça com uma camada negra, criando um aspecto de serviço inacabado.
O padre da Igreja de San José recebeu, então, Morgan e lhe comunicou que não havia nada de valor no templo e que faltava dinheiro para terminar o altar. Ao entregar algumas moedas como doação, o galês disse: “Não sei por quê, mas acho que você é mais pirata que eu.” Com isso, os monges da ordem dos agostinianos recoletos conseguiram preservar o valioso altar de sua igreja.
O resto da colônia, no entanto, não teve a mesma sorte: acabou incendiada e ficou totalmente em ruínas, o que obrigou os espanhóis a fundarem um novo assentamento. Construída a alguns quilômetros da original, a nova vila foi inaugurada em 1673 e deu origem à atual Cidade do Panamá.
O altar da Igreja de San José se tornou um símbolo desse processo de reconstrução: depois que a camada preta formada pelo óxido de prata se desgastou, o ouro da peça voltou a brilhar e os monges agostinianos decidiram reconstruir o templo na nova vila para abrigar o altar. A segunda versão da Igreja de San José foi erguida entre 1671 e 1677, e inaugurada em 1675.
Essa nova encarnação do templo sobreviveu aos séculos e hoje é uma das grandes atrações do Casco Antiguo, o centro histórico da Cidade do Panamá. E a vedete da igreja continua sendo o altar, que continua firme e forte no interior do prédio. Feito de mogno e coberto por folhas de ouro, é banhado pela luz que entra por uma claraboia e dá uma aparência ainda mais brilhante e levemente etérea à peça.
Outro destaque da igreja são os vitrais importados de Florença, na Itália. Eles prestam homenagem a Santa Rita de Cássia, Santo Agostinho, Nossa Senhora da Consolação e São José, e foram instalados em 1963, quase três séculos depois da fundação do templo.