Arena foi palco do maior feito de Garrincha
Se os dribles desconcertantes e a irreverência marcaram toda carreira de Garrincha, houve um momento em que o gênio das pernas tortas mostrou que também era capaz de assumir responsabilidades, mas sem deixar seu estilo inconfundível de lado. Durante a Copa do Mundo de 1962, o Brasil perdeu Pelé, machucado, logo na estreia, e contou com atuações espetaculares do Mané para levantar a taça. Por esse motivo, passados 50 anos, o Estádio Nacional do Chile, principal sede daquele mundial, é até hoje um lugar histórico para o futebol brasileiro.
Localizada no município de Ñuñoa, na região metropolitana de Santiago, a arena Julio Martinez Prádanos foi inaugurada em 1938 com uma arquitetura inspirada no Estádio Olímpico de Berlim. Mas o local ganhou importância 24 anos depois, ao receber as partidas decisivas do principal torneio de seleções do planeta.
Na semifinal, foi palco do duelo entre Brasil e Chile. Esperava-se uma imensa pressão dos 76,5 mil torcedores sobre os visitantes, mas Garrincha tratou de silenciar os espectadores com jogadas de efeito e dois gols logo nos minutos iniciais, encaminhando a vitória por 4 a 2.
Na grande decisão, o craque não foi às redes, mas infernizou a defesa adversária e foi fundamental para que os brasileiros conquistassem seu segundo título mundial ao vencer a Tchecoslováquia por 3 a 1, de virada. Não por acaso, foi eleito o melhor jogador do torneio, que ficou conhecido como a “Copa de Garrincha”.
Mas a história do estádio não é feita apenas de boas lembranças. Em 1973, logo depois do golpe que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder, as dependências da arena foram usadas como centro de detenção e tortura. Estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham passado pelo local na condição de prisioneiros.
O mais famoso deles foi o jornalista norte-americano Charles Horman. Ele foi executado na arena e teve sua história contada no livro “The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice”, de Thomas Hauser e no filme “Missing”, de Costa-Gravas.
Além da Copa do Mundo, o estádio já foi palco de algumas decisões da Copa Libertadores da América. Em 1981, por exemplo, Zico e companhia jogaram lá o segundo duelo da final contra o Cobreloa, e conduziram o Flamengo à conquista continental em uma partida posterior de desempate. Doze anos depois, foi a vez do São Paulo de Telê Santana erguer o troféu, ao superar o Universidad Católica.
Mas o Brasil também teve suas decepções naquele gramado, sendo que a maior delas foi o vice-campeonato da Copa América de 1991. Para completar a frustração, os vencedores daquela edição foram os argentinos. Atualmente, o local recebe jogos da seleção nacional e também é a casa do Universidad de Chile, equipe que nos últimos anos tem se destacado por um futebol com muito toque de bola, chegando, inclusive, a ser comparada ao Barcelona.
As instalações do estádio são parte de um complexo desportivo de mais de 60 hectares, área que também é utilizada para shows internacionais, celebrações e atividades culturais. Em 2015, ele passará por uma reforma para receber a Copa América, que será disputada no Chile.