Uma curva no coração de São Paulo: edifício Copan é símbolo da urbe
Maior conjunto residencial da América Latina é um emblema do modernismo na arquitetura brasileira. Conheça a história do prédio e seus atrativos
O edifício Copan, em São Paulo, é um contraste sinuoso em uma cidade de tantas retas - para não dizer de poucas ousadias arquitetônicas. O responsável pelo "respiro" é o arquiteto Oscar Niemeyer, que, junto com Carlos Lemos executou o projeto hoje mundialmente famoso por suas curvas.
Embora seja um imóvel só, o Copan funciona como uma pequena cidade, já que tem pelo menos 5000 moradores distribuídos em seus 1160 apartamentos. Em tudo ele é monumental: são 115 metros de altura, 32 andares e 120 mil metros quadrados de área construída, dividido em 6 blocos. O prédio também conta com uma galeria de lojas e uma variedade de restaurantes em seu piso térreo.
O endereço é um marco arquitetônico que faz parte do conjunto de seis edifícios da chamada "mancha da São Paulo moderna", tombados como patrimônio da cidade pela relevância de seu valor histórico, arquitetônico e paisagístico. Os demais edifícios são o antigo hotel Hilton, o prédio redondo que fica em frente ao Copan; o do Bradesco, que cobre boa parte da "onda" de Niemeyer; o Jaçatuba, na esquina da rua Major Diogo com a rua Araújo, e o Renata Sampaio Ferreira, que fica na esquina oposta e que passou por um grande retrofit em 2023 (os dois últimos são de autoria de Osvaldo Bratke).
História do Copan revela trajetória modernista
O projeto começou nos anos 1950, encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, de onde vem a sigla "Copan". A ideia era construir um edifício residencial e outro para servir como hotel. A encomenda veio num momento em que a cidade de São Paulo enfrentava um déficit habitacional, o que levou o projeto a ser idealizado como um complexo de "apartamentos a preço de custo".
Uma das principais influências de Niemeyer, o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, havia concluído a pouco tempo a Unité d' Habitation Marseille, o primeiro de uma série de projetos habitacionais cujo foco era a vida comunitária. Daí vem a ideia de unir em um mesmo desenho uma larga quantidade de residências e comércios.
Após a obra ser interrompida algumas vezes por problemas financeiros, apenas o prédio residencial foi inaugurado, em 1966.
Arquitetura para morar e viver em coletividade
A influência do arquiteto já vinha de longa data, pois Niemeyer também trabalhou no projeto para o Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, no qual Le Corbusier atuou como consultor. O chamado "Palácio Capanema" foi entregue em 1947, mesma época em que também nasceu o projeto para o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, no bairro de São Cristóvão. Curiosidade: o Pedregulho foi usado como locação nos filmes A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, e Central do Brasil, de Walter Salles.
Desenhado por Affonso Eduardo Reidy e inaugurado em 1951, o Pedregulho reúne preocupações funcionais, estéticas e sociais típicas do modernismo, traduzidas em soluções formais como o aproveitamento de luz natural e ventilação cruzada. Essas preocupações exibidas no imóvel carioca também estão expressas no Copan, cuja fachada principal é composta por um conjunto de 95 brises, que fornecem ao mesmo tempo controle de luz e temperatura, além de garantir certa privacidade aos moradores.
Conheça (em parte) o Copan
Até 2019 era possível visitar o terraço do Copan, mas há planos para que o passeio seja retomado ainda em 2024, mas sem data definida. As melhores opções para conhecer o edifício por dentro são procurar uma hospedagem no Airbnb ou andar pelo térreo da galeria e nos prédios vizinhos que tem endereços consagrados como o Bar da Dona Onça, o bar Fel, o restaurante Cuia (dentro da livraria Megafauna) e tem até uma locadora de filmes em VHS, a Video Connection. Veja o que fazer por lá nesta outra reportagem.