Uma história de superação e viagens
Conheci a Mellina através de um post no Instagram…achei muito curioso um blog de viagens se chamar 4pataspelomundo e resolvi entender melhor. E não é que descobri uma história linda de superação…e viagens!
Pois é, a Mellina é uma jovem de 35 anos, formada em Turismo que sempre gostou muito de viajar com a família e os amigos. Para ela viajar representa uma possibilidade de autoconhecimento – um mundo de novas experiências e aprendizados únicos.
Aos 14 anos descobriu uma degeneração na retina e começou a perder a visão progressivamente. Aos 27 anos a doença se agravou e ela precisou encarar o fato de que era deficiente visual. Precisou aceitar a bengala e as transformações que a vida lhe impôs.
Como todo processo de transformação, Mellina teve que encarar de frente seus medos, dúvidas e inseguranças. Com o apoio da família conseguiu aceitar sua nova condição de vida e vencer seu próprio preconceito com a doença que a afligiu. E, a partir da aceitação, conseguiu retomar as rédeas da sua vida – seus outros sentidos ficaram mais aguçados e aos poucos foi retomando a autoconfiança.
Mas…o que tudo isso tem a ver com viagem? Bom, eu achei super inspirador saber que, apesar de hoje ter apenas 3% da visão, a Mellina retomou seu hábito de viajar e agora desbrava e experimenta o mundo de uma forma muito mais sensorial na companhia da Hilary, uma labradora preta fofíssima, que é seu cão-guia.
Mel, como foi se adaptar a condição de deficiente visual?
No início foi muito difícil, quando precisei aceitar a bengala e encarar que era deficiente visual. Foi uma época bem complicada da minha vida, precisei trabalhar várias coisas em minha mente para conseguir seguir em frente, e uma delas foi enfrentar o meu próprio preconceito. Tinha vergonha de usar a bengala e mostrar para as pessoas que eu era deficiente visual, como se isso fosse mostrar a minha fraqueza.
Como a Hillary entrou na sua vida?
A Hilary chegou em minha vida no começo de 2014, através de um projeto do SESI SP, em parceria com o Instituto IRIS. Passei por um processo de adaptação e treinamento intenso para aprender a “enxergar” com os olhos dela – aprender a ser guiada e confiar totalmente nela, pois nunca sei do que está desviando e o que tem a nossa frente, aprender a usar o equipamento (arreio) e os comandos certos. Aos poucos fomos nos conhecendo e o carinho crescendo. Hoje digo que ela é como um filho, preciso me preocupar com alimentação, banho, escovar dentes, pelo, brincar, levar ao banheiro. E como todo filho tem alguma característica da mãe…a Hilary, assim como eu, adora viajar!
Você voltou a algum lugar turístico que já conhecia após perder a visão?
Sim. O mais marcante foi Orlando. Sempre fui apaixonada por essa cidade, sempre amei a magia dos parques e em 2017 tive a oportunidade de retornar. Confesso que foi um pouco nostálgico, fiquei olhando as coisas que antes eu enxergava e só via uma névoa, sem definir imagens, ao anoitecer conseguia ver melhor as luzes e alguns detalhes, mas a claridade me incomoda bastante. Mas isso foi só no início, depois curti tudo da mesma forma, me atentando mais aos sons e cheiros! E claro, da energia daquela terra encantadora!
Você conheceu algum lugar novo, que nunca tinha estado, após perder a visão?
Vários lugares novos desde que perdi a visão. A experiência de viajar sem enxergar é diferente, não aprecio a beleza do lugar, mas a energia, o contato com as pessoas, o vento, o som, cheiro, gastronomia, ou seja, só não uso a visão!
Como é viajar com um cão guia? Ela vai com você dentro do avião? Existem trâmites especiais?
Eu sempre falo que veio o cão-guia certo para mim! A Hilary adora viajar e conhecer novos lugares. Ela vai dentro do avião junto comigo, dorme nos meus pés a viagem toda, assim é quando viajo de ônibus também. A única coisa que preciso é ter as vacinas dela em dia, estar sempre com a carteirinha comprovando que ela é um cão-guia e ela estar usando os equipamentos de guia (arreio). Para viagens internacionais preciso também do CVI, documentação fornecida pelo Ministério da Agricultura.
E nos hotéis, precisa escolher hospedagens “pet friendly” ou cão guia é aceito em todos os estabelecimentos?
Existe uma lei onde cão-guia tem livre acesso em todos os locais, incluindo hotéis. Nem todos respeitam a lei, mas com um pouco de conversa somos aceitas, mesmo que não seja sempre de tão bom grado.
Já passou algum aperto com a Hilary em alguma viagem?
Já passei pelo descumprimento da lei. Recentemente fui a Buenos Aires e não fomos aceitas em vários estabelecimentos (restaurante, mercado, farmácia), mesmo explicando sobre a lei. Como estávamos em outro país, às vezes, fica mais complicado brigar para que respeitem a lei.
Já se sentiu discriminada por conta da deficiência visual em alguma viagem?
Por conta da deficiência visual não me recordo de nenhum acontecimento, a discriminação acontece mais por causa do cão-guia. De um modo geral sempre sou bem tratada.
Em suas viagens, sua família a acompanha ou você viaja sozinha com a Hillary?
Depende da viagem, às vezes vou sozinha, com namorado e/ou família. Gosto de viajar sozinha, por mais que sozinha tenha mais dificuldades pois dependo de outras pessoas para me ajudar, a experiência é bem diferente, acabo tendo mais contato com outras pessoas e isso me traz uma percepção diferente das coisas.
E você tem alguma dica de hotel ou passeio que surpreendeu pelo atendimento?
Recentemente fomos para Caldas Novas e ficamos no Suites Le Jardin, o atendimento foi maravilhoso! O Golden Park em Curitiba também nos atendeu muito bem as 2 vezes que fomos. O Hotel Glória em Blumenau foi sensacional também! Um passeio inesquecível foi a visita que fiz na Caverna em Botuverá, o guia foi mega atencioso e me deixou tocar nas coisas dentro da caverna, o que não permitem mais porque infelizmente as pessoas estavam destruindo as estalactites.
Inspirador, não é ?!? Adorei a história da Mellina…está aí alguém que sacudiu a poeira, deu a volta por cima e foi viajar! Mel, parabéns pela atitude, obrigada por compartilhar sua história e que você siga inspirando muitas pessoas!
Para conhecer mais sobre a Mellina e suas aventuras:
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