Viña VIK, o hotel-vinícola mais incrível do Chile
Propriedade no Vale do Cachapoal, ao sul de Santiago, é a um só tempo vinícola de primeira, hotel boutique e galeria de arte contemporânea
Hospedar-se no VIK Chile é como dormir dentro de uma das galerias de arte contemporânea de Inhotim, ou talvez dentro de um dos mais ousados ambientes projetados para o CasaCor.
O meu quarto, batizado de "La Marcela", uma homenagem à artista chilena que o projetou, Marcela Correa, possuía obras feitas a partir de materiais recicláveis, dentre as quais estavam um pufe disforme, um conjunto de três latões amassados e pintados de azul-turquesa e, o grande ponto focal, uma enorme cabeceira estofada cor-de-rosa pendurada ao teto que parecia estar a ponto de implodir - chamá-la de desconstruída seria pouco. A artista, que colaborou em 2022 com o ateliê de Alexander McQueen, trabalha com a tensão máxima dos materiais e o efeito é alucinante.
Tudo muito chamativo, mas ao mesmo tempo confortável e funcional como um quarto de hotel deve ser. Da mesma forma, não havia disputa com a paisagem emoldurada pelo janelão, que ia do chão ao teto e revelava, além do rio, os vinhedos que dão origem a algum dos rótulos mais famosos do Chile.
Essa dosagem perfeita entre design arrojado, conforto e comunhão com o entorno é apenas um dos elementos da equação que fez com que a Viña VIK fosse eleita a terceira melhor vinícola do mundo para se visitar pelo World's Best Vineyards 2023. O anúncio foi feito no dia 12 de julho, exatamente uma semana depois de eu ter me hospedado na propriedade, que fica no Vale de Cachapoal, a cerca de 200 quilômetros de Santiago.
Alguns meses antes, a marca, que já possui três hotéis no Uruguai e um na Itália, tinha anunciado a construção de um empreendimento nesses mesmos padrões nos arredores de Sorocaba, em São Paulo: a previsão é que esse novo hotel seja inaugurado em 2024. Enquanto não aterrisa em território brasileiro, vamos aos fatores que fazem com que o VIK seja o hotel-vinícola mais luxuoso de todo o Chile:
O HOTEL
Do Aeroporto de Santiago, foram cerca de duas horas e meia até alcançar os 4,5 mil hectares que compõem os domínios da VIK no Vale de Cachapoal. De longe, já deu para avistar no alto de uma colina, em meio aos vinhedos, o teto metalizado e ondulado que é a característica mais marcante do projeto do hotel, assinado pelo arquiteto uruguaio Marcelo Daglio. Com o passar das horas, eu descobriria que a superfície prateada ganha nuances de dourado, a depender da incidência da luz solar: um desbunde. Qualquer semelhança com o projeto da vinícola espanhola Marqués de Riscal não é mera coincidência: a construção chilena foi inspirada no estilo de Frank Gehry.
No lugar de um lobby ou de uma recepção comum, o VIK Chile possui uma ampla área de convivência com paredes de vidro que parece tanto uma galeria de arte contemporânea quanto uma sala de estar muito chique. Obras de importantes artistas chilenos, como Roberto Matta, chamam atenção na mesma medida em que se mesclam de forma despretensiosa com os sofás, a lareira, a mesa de bilhar e a mesa onde é servido um chá da tarde todos os dias.
Um bonito jardim zen, com dois bonsais ao centro e flores em volta, conecta essa área de convivência com o restaurante Milla Milla, igualmente envidraçado. Ali é servido o café da manhã em sistema de buffet (ovos são preparados na hora), o almoço a la carte e o jantar harmonizado de quatro tempos.
Os ingredientes vêm de produtores locais e da própria horta do hotel, caso do romanesco (um primo do brócolis e da couve-flor) que me foi servido de entrada, acompanhado de aioli e gevuínas (espécie de avelã chilena). De principal, uma polenta crocante e uma posta de esturjão, peixe cultivado no Chile do qual são retirados as ovas para fazer caviar.
Os hóspedes podem optar pela estadia só com café da manhã, mas vale mais a pena o regime de pensão completa com as três refeições acompanhadas dos vinhos da casa, já que a vinícola fica em uma região afastada de tudo: os restaurantes mais próximos são bem simples e estão a pelo menos meia hora de carro.
Nas laterais do jardim zen ficam os corredores e as escadas que dão acesso aos quartos. São 22 no total, que possuem em comum apenas os chuveiros em formato de gota da marca italiana Gessi, os amenities de marca própria feitos a partir de extratos de uva e os janelões de vidro. Com uma vista daquelas, demorei para me dar conta que nenhuma das acomodações possui televisão, aparelho de som ou mesmo telefone — o contato com a recepção deve ser feito pelo Whatsapp, usando seu próprio celular conectado ao wi-fi.
Há duas categorias de acomodação: as 17 suítes, que possuem 35m², e as 5 master suítes, que são maiores, com 45m², e portanto mais caras. Cada uma possui uma decoração única assinada por um artista convidado (a maioria, chileno). No momento da reserva, os hóspedes podem indicar em qual quarto gostariam de ficar, mas parte da graça está na surpresa.
Você pode acabar caindo na "Shogun", inspirada na arquitetura japonesa, ou em uma suíte completamente diferente. Como a "Valenzuela", cujo piso parece um quadro de Mondrian e tem ainda um sofá vermelho no formato de uma boca, reprodução da obra "Mae West Lips", de Salvador Dalí.
Os banheiros não ficam para trás e também possuem designs singulares. O do "Vicky Money" foi coberto com mais de 50 mil moedas de um centavo de euro, enquanto o banheiro da suíte "Azulejo" é revestido por azulejos de inspiração portuguesa cujos desenhos em azul recriam a primeira colheita da vinícola. Dá vontade de conhecer cada um, só pelo prazer de eleger o seu favorito.
As suítes estão divididas entre o andar térreo, onde ficam a sala de convivência e o restaurante Milla Milla, e o andar inferior, onde estão as demais áreas de lazer. Ali, a piscina de borda infinita é um destaque, mas pode ser frustrante saber, em pleno inverno, que a água não é aquecida. Ao lado dela estão sendo construídos ofurôs que, esses sim, poderão ser aproveitados mesmo nos dias mais frios.
Há ainda um spa, que realiza tratamentos à base de vinho e chocolate; uma academia bem equipada com vista para a piscina; e uma sala de jogos com mesa de pingue-pongue, de xadrez e uma televisão. Bicicletas são deixadas à disposição dos hóspedes que quiserem pedalar entre os vinhedos e o hotel também organiza trekkings e cavalgadas. Não há atividades voltadas para crianças.
Fora do prédio principal do hotel, foram inaugurados em 2019 sete bangalôs que compõem uma categoria chamada de Puro VIK. Além das decorações únicas, todos contam com banheira de hidromassagem, terraço e parede de vidro. Há ainda o Lodge, uma espaçosa cabana de decoração escandinava com quatro suítes e sala de estar com cozinha integrada, que pode ser alugada por inteiro por grupos de até oito pessoas.
Reserve aqui sua hospedagem no VIK Chile.
A VINÍCOLA
Estando ou não hospedado na propriedade, é possível almoçar no restaurante Pavilion, que fica em meio aos vinhedos e segue o conceito "farm to table" (da fazenda à mesa). Uma boa ideia é conciliar a refeição com uma visita às instalações da vinícola, aos pés da colina onde fica o hotel: a VIK Experience, que inclui degustação de três rótulos da casa.
Em meio às vinhas, o guia explica que aquela localização foi escolhida a dedo por uma equipe de enólogos, geólogos, agrônomos e climatologistas contratados pelo casal bilionário Aleksander e Carrie Vik, ele norueguês e ela norte-americana, que almejava produzir o melhor tinto da América do Sul.
O Vale do Cachapoal foi eleito por ser caracterizado pela presença de diferentes tipos de solo e de microclimas, condições essas que permitem o cultivo de cinco variedades diferentes de uva: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah e, principalmente, Carmenère — as melhores uvas Carmenère do país vêm dessa região.
Todos os processos de cultivo são orgânicos e um detalhe interessante é que a colheita é sempre feita manualmente e durante a noite, quando as temperaturas são mais baixas, para evitar o início do processo de fermentação.
O tour segue então para a Bodega. Projetada pelo arquiteto chileno Smiljan Radic, ela chega a parecer uma nave espacial (de muito bom gosto, aliás) que pousou em meio às montanhas. Para chegar até ela, é preciso atravessar um bonito espelho d'água que, ainda que seja parada obrigatória para fotos, possui uma função para além da estética: a água ajuda a manter resfriado o salão das barricas, que fica no andar subterrâneo logo abaixo.
Uma vez dentro da Bodega, os visitantes passam pelos tanques de aço inoxidável, pelo salão das barricas e depois conhecem duas novidades da VIK que estão trazendo maior complexidade aos vinhos da casa.
A primeira é a tanoaria, local onde a vinícola produz os seus próprios barris tostando barricas francesas (usadas e novas) com madeira de carvalhos que são encontrados caídos nos arredores da propriedade. Essa é uma forma de dar ao vinho o aroma das árvores centenárias da região, que são reaproveitadas depois de terem chego ao fim do seu ciclo de vida.
A segunda são as vinte ânforas que foram feitas a partir da argila encontrada no próprio vinhedo. O material permite a micro oxigenação dos vinhos, agregando notas minerais e sabores únicos daquela área. Por enquanto, apenas a safra 2019 de Cabernet Franc maturou nessas ânforas.
Só então chega-se ao local mais aguardado, a sala de degustação, onde a arte contemporânea volta a se fazer bastante presente. Em frente a uma parede decorada com peças de metal douradas, há um verdadeiro altar de pedra onde ficam expostos os vinhos da casa.
O VIK, principal vinho da casa, busca se aproximar dos grandes rótulos da Bordeaux. O Milla Cala, mais vendido, é o que se chama de "rótulo de entrada", com custo/benefício melhor. O La Piu Belle homenageia a arte em geral e a arte de fazer vinhos, e por isso tem um rótulo mais artístico que envolve toda a garrafa. O La Piu Belle Rosé, mais novo vinho da casa, é fresco e frutado - e foi o meu favorito.
No paladar, no olfato e na visão, fica clara a missão da Viña VIK, seja na vinícola ou no hotel: promover uma comunhão entre a arte, a hospitalidade e a conexão com o que aquela terra tem a oferecer.
No vídeo abaixo, eu mostro mais alguns detalhes da vinícola e do hotel:
SERVIÇO
As diárias no hotel VIK Chile custam a partir de R$ 3.200 com café da manhã e R$ 4.715 com pensão completa. Reserve aqui sua hospedagem.
Para quem deseja apenas visitar a Viña VIK, existe duas possibilidades, que podem ser feitas em um mesmo dia. A primeira é almoçar no restaurante Pavilion: o menu do dia custa R$ 315 e o menu degustação harmonizado com vinhos, R$ 430 ( reserve aqui).
A segunda é fazer a visita às instalações da vinícola: a VIK Experience , que inclui degustação de três rótulos da casa, custa R$ 223 ( reserve aqui ).
Conheça a Viña Santa Rita, nos arredores de Santiago
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