Viúvo e pai solo compartilha história de amor e resistência: 'Vamos viver tudo que há para viver'
Lowell, pai solo que perdeu sua esposa Cissa para o câncer, encontrou um vídeo deixado por ela, contendo uma mensagem de amor e esperança
Lowell Revert relembra sua história de amor com Cissa, marcada por superação e união, e como ele segue cuidando das filhas após a perda dela para o câncer, compartilhando lições no perfil 'Pãe Delas' no Instagram.
O celular não mão de Lowell Revert, de 54 anos, vibrou enquanto ele passava pelas últimas fotos e vídeos armazenados no aparelho de sua esposa, Cissa. Era um gesto automático, uma tentativa de reviver pequenos momentos da vida que havia sido interrompida pela dor do câncer. Ele não esperava encontrar o que encontrou. Ao dar play em um vídeo guardado na pasta de arquivos pessoais, a voz de Cissa preencheu o ambiente vazio da casa onde eles haviam compartilhado tantos momentos felizes. “Ei, meus amores. Vocês não imaginam o quanto é difícil...”
Era um vídeo gravado meses antes de sua morte, uma carta de despedida inesperada, mas que agora representava uma parte do legado que ela havia deixado para as filhas Luiza e Helena. Uma mensagem gravada com tanto amor, mas também com uma dor silenciosa que transparecia nas palavras e no tom da sua voz.
Amor à primeira vista
Lowell conheceu Cecília Castro Revert, a Cissa, em 2003, quando trabalhava em uma empresa de tecnologia. Ele estava na academia durante o horário de almoço, aproveitando o breve intervalo das longas horas de trabalho.
Foi lá que ele viu Cissa pela primeira vez, descer as escadas da academia. “Eu lembro até hoje, ela desceu aquelas escadas, e eu pensei: ‘Que menina linda!’”, conta Lowell ao Terra, sorrindo ao recordar o momento.
Ele se aproximou, se apresentou, mas o que inicialmente parecia ser uma conversa casual logo se transformou em algo muito maior. Durante o papo, ele percebeu a aliança no dedo de Cissa e, num primeiro momento, achou que estava apenas sendo educado. Mas o destino parecia ter outros planos.
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No dia seguinte, eles se encontraram novamente. Dessa vez, descobriram que trabalhavam na mesma empresa, mas em áreas diferentes. A conversa continuou, e o que parecia ser uma simples coincidência se transformou em algo mágico. Lowell, sempre direto e espontâneo, organizou uma viagem com colegas de trabalho para o parque de diversões Hopi Hari. “Eu falei, essa é a chance de ficar mais tempo com ela, porque ela não sai da minha cabeça”, lembra.
Durante a viagem, entre risos e trocas de olhares, Cissa e Lowell se aproximaram ainda mais, até que, em uma parada, se deram o primeiro beijo. Cissa tirou a aliança que ainda usava e disse: “Não é isso que eu quero. Não é isso.” A partir daí, o relacionamento deles nunca mais teve volta.
Lowell e Cissa viveram um romance descrito como avassalador. Em poucos meses, ela foi morar com ele, e o relacionamento deles floresceu. Eles eram diferentes, mas complementares: ela, independente e cheia de vida, ele, comunicativo e envolvente. Com um ano de namoro, decidiram casar. O dia 12 de junho de 2004, Dia dos Namorados, foi marcado pelo casamento deles.
A vida deles foi marcada pela união, pelas risadas e pela chegada das filhas, Luiza e Helena, e pela promessa mútua de que nada os separaria. Mas a saúde de Cissa começou a ser uma preocupação, quando ela perdeu peso de forma inexplicável.
A descoberta do câncer
“Ela sempre foi muito magra, mas quando ela começou a perder peso de forma mais intensa, ficamos preocupados”, conta Lowell. Eles fizeram vários exames e, inicialmente, não encontraram nada. Mas a situação piorou e as dores de estômago começaram a se intensificar. Depois de mais exames, o diagnóstico chegou: a bactéria H. Pylori.
Cissa, sempre investigativa, pesquisou sobre, e logo descobriu que o diagnóstico poderia evoluir para um câncer. Apesar de ter se submetido ao tratamento, foi descoberto o câncer no estômago, avançado e de alto risco. Lowell recorda a conversa com o médico: “Ele falou, olha, é grave. E pode ser uma cirurgia que não vai ter sucesso, ou pode ser uma cirurgia que vai ter sucesso, mas não é nada bom.”
Com a notícia devastadora, a menos de um mês do carnaval, o casal decidiu aproveitar ao máximo o tempo juntos e eles foram para um bloco de carnaval, com as filhas, tentando manter a alegria e o otimismo. Foi um momento de resistência, de luta e, principalmente, de amor.
Após dois anos e três meses de tratamento, a doença avançou, e a única opção era o cuidado paliativo. Cissa decidiu que queria passar seus últimos dias em casa, rodeada pela família. Foi ali, ao lado de Lowell, que ela se despediu. Em 6 de agosto de 2019, aos 39 anos, Cissa faleceu.
A perda foi devastadora para Lowell, mas ele sabia que precisava seguir em frente, não apenas por ele, mas pelas filhas.
Pãe Delas
Hoje, Lowell é o rosto do Pãe Delas, perfil no Instagram em que compartilha os momentos em família, ao lado de Luiza, de 15 anos, e Helena, de 10. Para ele, uma das maiores lições da jornada que enfrentou foi a de aproveitar cada momento.
“Eu converso com muita gente na internet que está passando pela mesma história. Então, eu acho muito legal, assim, contribuir com essas pessoas que também estão passando pelo que eu passei.”, disse.
Na descrição do perfil, ele resume: "Não há tempo que volta, vamos viver tudo que há para viver”.